“O Intenso” – Parte 2

Durante o jantar do nosso primeiro encontro, ele disse que aquilo não era um encontro. Que num encontro de verdade, ele entregava muito mais. E eu: “Como assim?”, daí ele disse que no nosso encontro oficial, ele cozinharia pra mim, na casa dele. E mais, cozinharia um risoto, que ele aprendeu a fazer contratando uma cozinheira profissional, especialista em risotos. (Cujas fotos até estão no seu Instagram). No entanto, no dia seguinte, enquanto trocávamos mensagens, ele voltou atrás e disse que cozinharia outra coisa, pois, risoto era benefício de namorada, ele só cozinharia um risoto pra mim, com aliança no dedo. Fiquei chateada por não ser mais o risoto, mas ao mesmo tempo gostei que ele estivesse vislumbrando um relacionamento comigo. 

No nosso segundo encontro, ele novamente me buscou em casa e fomos de carro até a sua. (Obviamente deixei a localização ativa em tempo real, compartilhando com alguns amigos).

O apartamento dele era muito bonito e grande. Me mostrou os dois quartos, indicando em qual eu dormiria. 

– Como assim, não vamos dormir juntos? – Perguntei.

– Só se você quiser. – Ele se mostrou todo respeitador. 

Serviu vinho para nós. Eu estava morrendo de tesão nele, não queria esperar pra transar só depois do jantar, então o seduzi para que desenrolasse logo nesse primeiro tempo. Ele veio na minha e foi uma delícia. Transamos no sofá, uma transa longa, intensa, ele por cima, me olhando nos olhos, tudo encaixou perfeitamente. 

Depois cozinhou um delicioso salmão, com legumes salteados – prato que definimos juntos, em uma chamada de vídeo que fizemos durante a semana. -, ficou tudo deliciosamente no ponto certo, ele ainda teve a delicadeza de comprar uvas, queijos e uns morangos orgânicos enormes e super doces, para beliscarmos enquanto tomávamos o vinho. 

Ele estava conseguindo me impressionar com cada gesto que fazia. A noite estava perfeita. Depois voltamos para o sofá, na TV enorme passava alguns clipes e a gente sempre conversando. Em alguns momentos ele vinha com umas perguntas estranhas, sobre coisas voltadas para a minha sexualidade, o que reforçava a ideia dele já saber o que eu fazia e estar me testando a falar a verdade.  

Transamos 5x naquela noite. Entre conversas, morangos e música, engatávamos uma nova transa naturalmente. 

No dia seguinte, ele preparou um café da manhã farto, com waffle e morangos, um sanduíche de pão de forma e pães de queijo. Ainda me presenteou com uma corrente da Vivara, com um pingente de gatinho, exatamente o mesmo gatinho que veio num par de brincos, também da Vivara, que ganhei de um cliente no passado. “Ele com certeza sabe do que eu faço e viu essa gato no destaque “Gifts” do meu Instagram. Pensei, desconfiada. Fala sério, qual boy de aplicativo tem esse empenho todo? Estava perfeito demais pra ser verdade, ele me tratava exatamente igual aos meus clientes apaixonados.

Durante a volta para minha casa, estava contando um pouco mais da minha história com a minha mãe biológica, e o fato de ela já ter trabalhado num bordel. E eu ter dito em outro momento que escrevia coisas eróticas, deu link para ele me perguntar, do neida, se eu já tinha feito conteúdo adulto.

Fiquei muda no carro. 

Não queria mentir, mas também não estava preparada para falar a verdade. 

Falei que não queria responder e isso foi ainda pior.

Achei que ele fosse seguir com a conversa normalmente, tipo: próxima pauta, mas não. Ele ficou em silêncio também e o clima no carro deu uma pesada. Percebi que ele não voltaria a ser o mesmo de antes, se eu não respondesse aquela questão. E daí especificou que esse tipo de atitude poderia fazê-lo se afastar, pois se eu não respondia, ele criava uma série de interpretações. 

Por fim acabei cedendo, pois não queria ser a causadora daquele clima ruim no carro. Achei que respondendo, a conversa normalizaria novamente. 

– Já sim. Com meu ex. 

– E o que mais?

Eu não queria que ele continuasse explorando aquele assunto, me incomodou ele fazer novas perguntas advindas das minhas respostas. 

Forcei a saída do assunto. Foi uma situação estranha. Quando me deixou em casa, o clima parecia de despedida, como se ali ele tivesse perdido o interesse. 

Era domingo de Dia das Mães e eu iria para a minha mãe, dirigindo. Tive a ideia de ligar para ele durante esse trajeto, para me certificar de que ainda estava tudo bem entre a gente. Puxei assunto sobre coisas aleatórias, e a sensação que tive era de que não estava tudo perdido, mas também não estava plenamente bem. Conversamos até um dos dois chegar no seu destino e ele chegou primeiro.

– Desligou sem dar beijo rs. – Reclamei manhosa por mensagem, após encerrarmos a ligação. 

– E vc jogou uma bomba, e depois não reconstruiu o local. É muito importante apagar o incêndio primeiro. Pra não destruir mais ainda.

Tentei me desvencilhar, puxando outros assuntos, mas ele sempre dava um jeito de me deixar incomodada por não concluir o tema.

– O que você fez de bom durante a tarde? – Perguntei. 

– Nada. Fiquei no sofá. Olhando para o teto, comendo uvas. 

Uma forma de dizer que ficou reflexivo com a situação. Decidi então entrar logo na conversa que ele estava querendo ter. 

– Você disse mais cedo que eu soltei uma bomba no local. Achei um pouco confusa essa metáfora. Eu afirmar sobre a questão do conteúdo adulto foi uma bomba pra você? – Comecei.

– Eu só fiz uma analogia… Vc soltou a bomba, explodiu tudo .. e deixou lá, tudo pegando fogo (no momento em que eu tentei explorar mais o assunto). E como não tive os detalhes, abre margem pra eu pensar um milhão de coisas (o fogo se alastrando). Quando vc ligou, pensei que iria tocar nesse assunto e apagar o incêndio, mas não aconteceu. Entendeu a analogia agora?

– Ahh agora sim. Então vamos retomar tudo completo agora. – Cedi, por fim.

– Mas eu não gostaria que vc retomasse um assunto que vc não se sente confortável. 

Claro que queria! Estava o tempo inteiro conduzindo para isso!

– Tem determinadas questões que eu gosto de falar no meu tempo, tendo o devido preparo para falar sobre cada tópico e não sendo pega de surpresa com a pergunta. Por isso agi daquela maneira, mas isso não quer dizer que após um período de processamento eu não possa falar a respeito.

– Se acostume com minha intensidade, meu interesse por você, minha curiosidade… Por outro lado, eu me senti no direito de fazer perguntas pra vc. Eu não sou o cara que está com intenção de te comer e sumir. Eu estou sentido coisas por vc que não senti por ninguém. É natural que eu queira saber onde estou me metendo.

– Você tinha perguntado “e o que mais?” E o que mais que fiz de conteúdo, é isso?

– Sim… no geral qual sua relação com esse mundo da sexualidade. (Falar sobre isso me excita, ao invés de criar julgamentos ok?) Nenhuma pergunta é em vão. Quando uma pergunta é lançada, teve alguma coisa que desencadeou aquela curiosidade ou aquela dúvida.

– O que vc acha sobre eu ter vendido conteúdo adulto?

– Eu não tenho que achar nada. Eu só não posso ficar no limbo sem contexto.

– Eu tbm tenho esse receio de saber onde estou me metendo, o quanto vc talvez possa ser uma pessoa que me julgue muito.

– Então está na hora dos dois colocar as cartas na mesa. É óbvio que está nascendo um envolvimento diferente entre os dois… E não dá pra deixar certas pautas pra depois. Eu sempre te dei a liberdade de me perguntar tudo a meu respeito, e ainda alertei: Só tome cuidado com o que pergunta, pq responderei com sinceridade. Observe que sempre que eu te respondo algo, eu te entrego o contexto … pra não dar margem pra interpretação errada.

– Em alguns momentos fico com a sensação de que vc já sabe muito mais do que de fato te contei e que está apenas me testando.

– Sinceridade pra mim é tudo. Se eu confio, eu confio de verdade. Mas eu preciso estar seguro pra isso. Mas eu queria que as coisas viessem de vc… que fossem ditas diretamente por vc… isso abre um canal de confiança.

Não tá parecendo que ele já sabia de tudo?!

– Sim, concordo plenamente. Mas entenda que são coisas muito particulares da minha vida e estávamos tendo o segundo encontro. Eu queria ter um pouco mais de certeza de que era seguro falar.

– Entendo. (Eu sei que pra vc escrever é mais fácil do que falar).

– Retomando desse ponto então. (O ponto que ele perguntava qual a minha relação com a sexualidade). A minha relação é muito próxima.

– Eu sou literal. Seja detalhista.

Foi como se ele dissesse: CONFESSA! CONFESSA!

E daí, lancei a verdade nua e crua de uma vez:

– Eu sou acompanhante. Faço isso desde 2015, iniciei no intuito de sair de casa. Gosto muito de sexo e vi nessa atividade uma forma de unir o útil ao agradável. Não sei se você já sabia (em muitos momentos pareceu que sim, não sei se foi coincidência ou não, gostaria que me esclarece). A pessoa pra estar comigo não pode ter ciúmes e entender que é importante pra mim ter a minha própria independência financeira. Nunca enganei ngm sobre isso, todos os meus antigos relacionamentos sabiam, mas não foi algo que contei num primeiro / segundo encontro, pois é algo muito delicado e os homens são muito machistas. Pode me bloquear agora.

Ele levou três longos minutos para me responder. 

Será que já sabia?

O que vocês acham?

Comentem! 

7 comentários em ““O Intenso” – Parte 2

  1. Ai #aralho! muito cruel da sua parte parar logo no clímax, mas pelo post anterior e por esse deu a entender que ele já sabia, mas vou antecipar o plot twist e dizer que não sabia pois se ja soubesse iria fingir de sonso pra aproveitar o máximo possível,o que não foi o caso mostrou sentimento diante da química de vcs.

  2. Acho muito difícil achar uma pessoa que aceite sua profissão tendo uma boa condição financeira, nao faz muito sentido. Acho que voce deveria repensar sobre isso

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