“O Intenso” – Parte 12

Nesses 5 meses em que ficamos juntos, nos aventuramos na Hot Bar mais vezes do que relatei. E a nossa última aventura foi… olha… nem sei como adjetivar essa experiência. Deixo esse desafio pra vocês nos comentários!

*

Cada vez mais o Intenso me revelava camadas sobre a sua possível bissexualidade. Isso me preocupou um pouco no começo, por receio dele acabar se descobrindo gay e me trocar por um homem, mas procurei adotar um pensamento mais altruísta de que se isso acontecesse, eu deveria ficar feliz por ele, por finalmente se conectar com a sua real essência e deixar de viver uma mentira. Afinal, amor é isso, você quer que a pessoa seja feliz, mesmo que não com você.

Então eu dava corda pras fantasias dele, e já rolava algumas trocas de putaria nesse sentido, sobre chuparmos um pau juntos, por exemplo. Então fomos na Hot Bar transformar a fantasia em realidade.

MÉNAGE MASCULINO

Troquei olhares com um japonês interessante na pista de dança, ele estava single na balada. Foi o nosso segundo ménage com outro cara, com a diferença de que dessa vez eu interagi mais com os dois juntos, diferente dele ficar só assistindo e se masturbando. Não fiz dp, nem nada do tipo, apenas encostei os dois paus um no outro, enquanto chupava os dois ao mesmo tempo, um roteiro já pré-definido entre a gente. Em algum outro momento o Intenso também masturbou o japa, mas não passou disso. Depois que transei com esse rapaz e ele chegou lá, a brincadeira acabou e saímos em busca de uma nova aventura.

*

Nessa noite, podemos dizer que consegui ter a minha vingancinha por tudo o que passei e pelo que ainda iria passar, quando me deparei com a seguinte situação:

– Vi que você vai pra Hot Bar hoje, também estarei lá, estou te avisando para não causar nenhum constrangimento.

– Olha só. Quem sabe fazemos uma troca de casal?

– Acho que não vai rolar, a mina que eu vou é ciumenta.

– Ahhh, que pena.

Um ex ficante e o meu atual sob o mesmo teto. Que emoção!

O BOY ECONOMISTA

Fazendo um breve resumo sobre esse personagem, ele quase virou capítulo aqui no blog, foi o último que saí antes de me envolver com o Intenso. Inclusive, ele brincava que todas que ele ficava, namoravam o próximo rs, e realmente aconteceu kkkk.

Como nos conhecemos?

De uma maneira que eu jamais imaginaria. Ele já era seguidor da Sara no Instagram e me abordou pela rede social com um papo sobre investimento. Uma abordagem confusa, respeitosa e educada:

– Sim, essa é uma mensagem totalmente aleatória sobre o que eu estava pensando. E eu pensei: Será que ela já tem alguém que a ajuda na parte da organização financeira dela? Então, lá vai: Você já fez um Planejamento Financeiro? Precisa de ajuda com isso?

Como a primeira frase começou desse jeito engraçado, não falando nada com nada,  conseguiu chamar minha atenção e fui dar uma olhada no perfil dele. Continham alguns vídeos profissionais dele falando sobre economia, o que me passou uma certa credibilidade e fui cativada pelo seu jeito de se comunicar, além de tê-lo achado bonito. Correspondi o flerte, ainda que ele não admitisse que estava flertando com aquele papinho de investimento, rs.

– Gostei da ousadia.

– Eh sério, rs. Eu admiro seu trabalho e como vc trata ele. E acho que você precisa de ajuda com finanças, porque a maioria das pessoas precisam. Então, se quiser tomar um café pra falar disso, podemos tomar. A gente mora perto, rs.

– De repente podemos. Como sabe que moramos perto?

– Vc mora perto da Paulista. Eu moro na Vergueiro. Pelo menos parece pelos lugares que frequenta.

– Que observador.

– Ah sim, isso sim. Mas não sou stalker, pode ficar tranquila, rs. Eu tô indo pra uma convenção da empresa e depois viajo pra Patagônia, senão já te chamaria pro café. Posso te chamar na volta?

E aí trocamos muitas mensagens até de fato nos conhecermos pessoalmente.

Bom… não vou me delongar no nosso lance agora (vai que ele vira um capítulo mesmo depois), mas no total saímos três vezes. Desencanei quando percebi que ele era bicho solto. Eu tava querendo um romancinho e ele não estava na mesma vibe. Segue na pegação até hoje com várias.

Enfim, me avisou que estaria na Hot Bar e fiquei na dúvida se comentava com o Intenso ou não, já que era muito ciumento. De repente, vi o Economista na pista de dança e pareceu cena de filme, rs. Não estávamos muito perto, mas nos vimos praticamente ao mesmo tempo, ele levantou sua garrafa de cerveja no ar, em saudação, e eu levantei a minha taça de gim. Nossos pares não perceberam essa singela interação. Depois, conduzi o Intenso para que fôssemos mais perto deles, e aí o cumprimentei. Antes que eu pudesse fazer as devidas apresentações, o Intenso já estava o cumprimentando também, e ali decidi não revelar nada, e deixar o Intenso tentar desenrolar as coisas por si mesmo. O boy Economista entendeu a minha jogada e também agiu como se não me conhecesse.

O Intenso tentou um troca de casal, mas como eu já sabia, a garota era ciumenta e não rolou. O que foi um tanto frustrante, seria legal ter os dois caras que eu curto na mesma cabine, nus, além do Intenso também ter achado o Boy Economista interessante.

Daí sugeri para o Intenso tentarmos algo com eles organicamente, quando estivessem lá no inferninho, às vezes, na hora do tesão, quem sabe ela se permitisse? E em outro momento os vimos lá, na maior pegação, numa parte que permitia esse contato com outras pessoas, e não estavam dentro de uma cabine, o que facilitaria esse contato. Quando o meu olhar e o do Economista, que estava comendo ela de costas, cruzaram, antes que eu pudesse tentar qualquer coisa, no mesmo segundo um outro casal nos abordou, interessados em nós.

A NOVINHA E O ITALIANO

Quem nos abordou foi a menina, dizendo que nós tínhamos sido o casal que chamou muita atenção do seu par, que era um homem, mais velho, italiano. Demos corda e foi divertido as interações do Intenso se comunicando com ele, também em italiano (tentando rs). Fomos os quatro para uma cabine. O italiano pirou em mim, com poucas preliminares, já queria transar, ao que o Intenso tentou dar um freio, quando viu o cara já pegando o preservativo: “Calma aí”, ele disse.

Essa foi a segunda vez que vi o Intenso interagindo com outra mulher. – A primeira experiência tinha sido numa outra noite que fomos na Hot Bar, com uma menina linda de 23 anos, que me atacou cheia de tesão, rapidamente me deixando no clima também. Inicialmente ela interagiu somente comigo e eu que puxei ele pra brincadeira depois, por eu mesma ter ficado com muito tesão nela e querer compartilhar aquela delícia. Mas ele só a chupou e beijou, transar com outra na minha frente ainda não tinha acontecido. – E desta vez, surpreendentemente, ele não queria transar com a menina (por isso tentou frear quando viu que o Italiano já ia avançar comigo).

– Melhor não, ela tem ciúmes. – Me usando como desculpa.

– Pode transar, lindo, tá tudo bem. – Incentivei.

(Os sinais estavam lá e eu não percebi, rs.)

Ambos transamos, mas ninguém gozou.

No término, o Italiano e o Intenso trocaram número de telefone e cada casal pegou seu caminho.

O MAROMBADO MUSCULOSO

Nossa terceira interação ocorreu naquele mesmo inferninho, em outro momento, em que uma mulher começou a interagir comigo, ao mesmo tempo em que interagia com o seu parceiro. Daí ela incentivou uma interação minha com ele também, olhei para o Intenso que deu sinal verde para seguirmos. Achei o cara gostoso e interagi com vontade. Dali a pouco sua parceira incentivou que transássemos e após encapar o menino, me pegou deliciosamente no frango assado. Eu continuei sentada onde estava, com as pernas abertas, e o Intenso fugiu de interagir com a mulher do cara, preferindo ficar sentado do meu outro lado, se masturbando, enquanto assistia (provavelmente se imaginando no meu lugar). Foi uma delícia aquela transa, não sou fascinada em homens musculosos, mas aquele tinha uma forte presença. Gozou gostoso comigo.

*

Após todas essas interações, o Intenso quis tentar uma estratégia diferente, nos conduzindo para uma cabine, onde entramos e ele trancou a porta, deixando a cortina aberta, para que quem tivesse passando nos assistisse. Como já tínhamos tido três significativas interações, ao nos fechar ali, pensei que seria um momento só nosso, mas ele só estava me usando como isca para atrair outros homens. E funcionou. Colou um na porta (que deveria estar com sua parceira do lado, pois naquele ambiente só entravam casais e não singles) e esse cara colocou o pau pra fora, naquele buraco da porta. Comecei a masturbá-lo e chamei o Intenso para interagir junto. Era a sua chance de explorar, sem culpa, a sua bissexualidade. Daí ele fechou a cortina da porta, para que o rapaz não visse quem estava na ação e abocanhou o pau dele. Revezamos. Ora eu chupava, ora ele. Determinado momento o deixei chupando mais, até que… o cara gozou na boca dele! O Intenso quase se engasgou – veio de surpresa  –  e parou de chupar. O rapaz guardou o pau e fez um sinal de joinha, agradecendo.

Eu me diverti com a situação, celebrei que ele tinha conseguido fazer um homem gozar (achando que era a sua primeira vez naquilo) e aí o Intenso se voltou para o casal da cabine ao lado, pelo buraco da parede, que permitia essa interação, se estivesse aberto.

O cara que estava comendo uma mulher, em algum momento deu descanso para ela e colocou o pau no buraco da parede, tal como o outro tinha feito no buraco da porta. Deixei que o Intenso interagisse sozinho com esse e me voltei para ele, o chupando. Ou seja, enquanto eu chupava o meu homem, ele chupava outro cara. Ficamos nessa por algum tempo, até que fiquei com vontade de transar e pedi que me comesse. Ele atendeu prontamente, mas, após pouco tempo transando, quis interromper para interagir com outras pessoas que tinham parado para nos assistir pelo vidro da porta.

– Olha, chegou um casal aqui.

– Me come.

Ele continuou, mas dali a pouco tentou novamente:

– É um casal bonito, vem ver.

– ME COME!

Me irritou profundamente ele querer interromper a nossa transa pra chupar outro pau. Já não bastava não?!

Daí, adivinha o que aconteceu?

Ele broxou.

Em cinco meses, ele nunca tinha broxado comigo.

Quando comecei a sentir o seu volume perdendo força, interrompi a transa e falei que queria voltar pra pista de dança. Ele se vestiu, mas ao contrário do que solicitei, nos conduziu para a saída. Não contestei, não tinha mais clima pra continuar ali mesmo.

No Uber viemos em completo silêncio.

Assim que adentramos no meu apartamento, instiguei uma conversa:

– Vamos conversar sobre o ocorrido?

– Vamos. – Num tom tranquilo, demonstrando uma falsa boa vontade.

– O que aconteceu ali?

– Eu só não queria mais transar.

– Você não quis mais transar para chupar outro pau.

– Não.

– Foi exatamente isso que aconteceu. Você só broxou depois que apareceu aquele outro casal, porque você preferia chupar um pau do que continuar comendo a sua namorada!

– Não foi isso.

– CLARO QUE FOI!

Daí, como de costume, sempre que lhe é exigido alguma resposta, ele fica ofendido e faz movimentos de ir embora. Desta vez não o impedi, eu também estava irritada e se ele queria ir embora, que fosse com Deus!

Saiu sem dizer uma palavra. Quando percebi que ele tinha deixado peças de roupa para trás, fui até o corredor para avisar, mas quando abri a porta ele já tinha sumido. Sequer ouvi o barulho do elevador. Voltei para dentro do apartamento, tirei minha make, tomei meu banho tranquilamente, coloquei meu pijaminha, fiz meu skincare e fui dormir com a cama toda só para mim.

Quando acordei, por volta das 9:30 liguei para ele. Duas chamadas não atendidas. Daí mandei a seguinte mensagem:

– Você esqueceu roupas suas aqui em casa. Depois só me avisa se chegou em segurança.

Quarenta minutos depois e as minhas mensagens continuavam não entregues.

– Estou preocupada com você. Seu celular está desligado. Me avisa se chegou bem, assim que acordar. E vamos fazer uma chamada pra conversar sobre ontem. Muito impulsivo e imprudente da sua parte ir embora daquele jeito.

Fui passar o domingo com a minha mãe.

Já era duas da tarde e ele continuava sumido, celular permanecia desligado.

– Estou preocupada com você. Que crueldade sua sumir desse jeito, eu fico aqui achando que você sofreu algum acidente na volta. Só não baixo na sua casa pq o risco de dar com a cara na porta é grande, já que vc está incomunicável por aqui e não sei nem se vc tá na sua casa. (Meu amigo Denis acha que ele foi pra sauna gay.)

Ele foi aparecer duas horas depois, por volta das quatro da tarde, respondendo a minha mensagem inicial, sobre ele ter esquecido roupas no meu apartamento:

– Quando vc vier buscar as suas vc traz.

– Achei que tinha acontecido alguma coisa.

– Não tem que se preocupar comigo mais.

– Quer que eu busque quando?

– Quando vc quiser. 

– Pode ser hoje?

– Pode. 

E a preguiça de sair de Guarulhos até Campinas? 

– Só me avise pra eu não estar em casa. – Ele acrescentou. 

– Você não vai querer conversar sobre o que aconteceu? Já quer terminar desse jeito?

– Vc mesma já terminou ontem.

– Eu não terminei. Você que foi embora.

– Não lembra de como ficou me pressionando pra dizer algo que vc queria ouvir, enquanto o que eu queria falar era outra coisa? Ontem eu tive muitos insights sobre mim mesmo.

– Eu estava te pressionando a me dizer a verdade. E você preferiu ir embora e me deixar com as minhas paranoias. Como se o seu silêncio fosse a confirmação do que eu estava achando. Você não se preocupou em me fazer mudar de ideia.

– Vc é irredutível em mudar de ideia. Ontem vc me levou para o parquinho pra brincar, me soltou e disse: pode brincar com o que quiser… e aí eu descobri um brinquedo novo… e gostei… e no começo vc me apoiou. Mas depois vc me chamou de volta e me repreendeu. Eu estava ali num momento de descoberta, concentrado, encantado com novas sensações e me sentindo seguro por estar a seu lado, até que o jogo mudou e você começa a me pressionar. Não sei se ficou com ciúmes pq percebeu que eu tinha curtido chupar pau também… não sei o que aconteceu. Já eu, em momento algum te repreendi nas suas brincadeiras. Deu pra 3, beijou mulheres e nem por isso fiquei te cobrando dar só pra mim. Era um ambiente de diversão mútua. Em casa seríamos só nós dois, de Lovezinho. Agora estou aqui com essa sensação de descoberta e ao mesmo tempo perdido e sem apoio.

– Sabe o que eu percebo de você? Que quando vc é confrontado com algo que foge do seu controle, você foge. Eu fui dormir me sentindo preterida. Por você preferir interagir com outras pessoas do que transar comigo. Como se o que a gente tem, não tivesse mais graça pra você. Foi esses insights que vc teve? Que o que nós temos perdeu a graça pra você?

– Não, foram insights muito maiores. Eu olhava a hot como um parque de diversão para os dois. O que temos um com outro não cabe dentro da hot. É muito maior. 

– Eu apoiei a suas brincadeiras com o maior gosto, te chupei por um tempão enquanto você chupava o outro cara, só que em algum momento eu queria você só pra mim. Igual quando você fica com ciuminho depois. E quando você quis interromper um momento nosso por uma pessoa estranha, aquilo pegou muito mal pra mim. Talvez eu devia ter falado com mais cuidado, tipo “lindo, quero fazer amor com você agora, quero ficar com vc um pouco agora” do que dizer “me come” daquele jeito impositora.

– Sim. Com certeza seria diferente. Eu entenderia e pararia a brincadeira. Nem eu e nenhum homem funciona sob pressão. Eu muito menos. Travo. É psicológico.

– Reconheço que não tive muito tato na hora, mas pq eu tava com ciuminho da atenção dispensada para outro. Queria uma confirmação de que você ainda preferia a mim, e quando você quis interromper pra de novo interagir com outro cara, me senti uma pessoa zero importante pra você.

– Dispensada para outro pq era meu momento de brincar. Não fiquei com ciumimho quando vc estava dando pra três ou beijando outras. Vc ficou com ciumimho pq descobriu que eu curti uma coisa nova. Vc sempre vai ser mais importante que eu, acontece que aquele tipo de brincadeira só teria ali. Fora dali seria só nós. Ontem eu descobri um lado muito importante a meu respeito: sim, curti chupar pau e achei muito excitante, e isso pode ser um problema pra vc e pra qualquer outra mulher… Vim a viagem toda pensando nisso e me recriminando sem querer aceitar isso… Mas veio a solução: não posso mais negar que gostei disso e não vou me limitar… se um dia eu quiser fazer isso dinovo, é fácil: faço igual os outros caras que fazem… contrato uma amiga sua GP e vou lá só pra isso. Só pra chupar pau.

AFFFFF

– Mas você também aproveitou quando eu dei pra esses três caras. Você fala como se tivesse sido algo só pra mim e foi pros dois. Eu embarco na brincadeira com vc, tanto que revezamos aquele que gozou na sua boca. Mas repara que em todas as nossas brincadeiras, acontecia e depois a gente brincava entre a gente. E dessa vez você queria emendar 3 interações suas com outras pessoas, sendo que eu tbm queria um pouco de você pra mim. Então entenda que o que me irritou não foi você ter essas interações, mas o fato de esquecer de mim nesses momentos.

– Desculpe mas vc não soube expor da maneira correta.

– A gente brinca direto sobre você chupar outro pau, já falamos sobre isso nas fantasias das nossas transas, se fosse algo que me incomodasse, eu não teria brincado com vc ontem quando chupou aqueles dois. Tanto que eu estava te chupando enquanto você chupava o segundo. Porém, eu fiquei com tanto tesão naquilo que queria ter prazer também e foi quando te chamei pra transar comigo, pq o meu maior prazer é interagindo com você, e ali o seu maior prazer não foi mais interagindo comigo.

– Era só ter deixado claro: amor tô com tesão nisso. Brinca comigo agora. Mas não pressionar: me come agora… me come. Eu broxei na hora e fiquei me sentindo péssimo pq 3 caras te comeram e eu não consegui. Minha masculinidade e insegurança foram lá embaixo. Eu não conseguia olhar na sua cara. 

– Você teve algum insight sobre preferir ficar só com homens a partir de agora? Gostar mais de homens do que de mim ou de outra mulher? Pode ser sincero. Não quero ser uma pedra no seu sapato, entre as suas novas descobertas.

– Não. Não sou gay. Sou viciado em mulheres. Mas sim, achei tesão chupar homens. Gostei dessa troca de energia a 3 mais próxima tipo o que aconteceu com o japa. Isso pra mim é um bom sexo, um bom ménage. 3 pessoas se pegando sem frescura e trocando energia. Sem tabu. Mas não. Isso não diminui meu desejo por mulher, não desejo gays, mas achei tesão pegar num pau e chupar. Assim como vc achou tesão chupar a buceta daquela mulher aquele dia.

– Sim, eu reconheço que poderia ter falado de outra forma. Mas você mais do que ninguém sabe que quando estamos com ciúmes não conseguimos agir com a razão.

– Por isso imediatamente eu parei tudo e conduzi pra irmos embora. Eu te conheço. Leio em seu olhar.

– Entendi. E por mim tudo bem quanto a isso. Ontem foi uma infelicidade pelo tom que falei e como você recebeu. E como pegou pra mim também. – Comecei a achar que a errada da história era eu.

– Eu me senti o pior homem do mundo. Enquanto centenas querem te comer, eu broxei quando vc me pressionou a te comer. Não conseguiria ficar na sua casa te olhando. Me senti péssimo. Lixo. Incapaz. Broxa. Julgado por ter me entregue a uma brincadeira que vc mesma me deu a liberdade e depois podou. Foi uma sensação horrível. Vim chorando a viagem toda. Me culpando por ter gostado de ter chupado um pau, me culpando por ter explorado mais minha sexualidade do seu lado. Hora, pagasse então alguém que seria neutro. Que não me julgasse. E não haveria esse tipo de sensação horrível. Hj eu acordei sabendo um pouco mais sobre mim, mas ao mesmo tempo sabendo que até mesmo as pessoas de mente mais abertas não aceitariam isso. Que é algo indigestivo principalmente quando tem amor envolvido. Entendo melhor os lances comerciais. A próxima vez que eu for na hot, será através de um lance comercial, e com tudo muito bem alinhado. Será prático e confortável.

– Você quer terminar comigo então? Pq eu jamais aceitaria você ir na hot sem mim, estando junto comigo.

– Não estou falando de ir lá sem vc. Estou falando de uma situação em que eu estaria solteiro.

– Eu não te julgo. Se eu te julgasse a gente nem faria essas brincadeiras. Te chamei pra chupar comigo e até te deixei se divertindo sozinho depois. A única coisa que pegou pra mim foi você querer interromper uma transa nossa pra interagir com uma pessoa estranha. Se você tivesse transado mais comigo ali, em algum momento nos daríamos por satisfeitos e continuaríamos a buscar mais interações com outras pessoas. Eu não fiquei puta por você ter chupado outros caras, já sabemos que vc curte isso não é de hoje e tá tudo bem. Eu desde o começo acolhi a sua bissexualidade, reconheça isso.

– Lembre bem como vc ficou me confrontando ontem. Não condiz com o que vc diz agora. Foi bem cruel.

– Eu só fiquei mal pq vc quis me deixar de lado pra fazer essas interações.

– Não, eu entendi que ali, naquele momento, vc estava me deixando livre pra brincar. Sob sua supervisão. Deixar eu no parquinho me divertir. Vc já tinha se divertido e eu tbm… e naquele momento eu estava em uma situação que era rara acontecer: um cara se deixar ser chupado. Então estava ali aproveitando aquela oportunidade. Nunca imaginei que seria uma questão pra vc.

– Mas como eu disse, eu poderia ter falado com mais jeito, que naquele momento eu queria ter um pouco só de você pra mim. Reconheço que me posicionei de uma forma ruim e deu no que deu.

– Pois é. Eu pararia tudo pra te dar atenção. E namorar só com vc. Não obstante, ficou me chamando de broxa. Não sabe como é humilhante isso.

– Eu não te chamei de broxa.

Oxe, colocando paravas na minha boca!

– Mas você ter broxado bateu pra mim que me comer não era mais interessante pra você. Que interagir com estranhos era muito mais prazeroso do que transar comigo. Você não precisava ter ido embora daquele jeito.

– Eu estava sendo atacado a todo momento. Não merecia aquilo. Achei injusto. 

– Eu estava te dizendo que vc preferia interagir com outros do que transar comigo e você em nenhum momento disse algo para tirar esse pensamento destrutivo de mim. Se você ficou mal por se sentir um broxa, eu tbm fiquei mal por me sentir sem graça pra você.

– Eu falei que não, que não era isso e vc não acreditava. Vc não acredita no que eu falo quando vc coloca algo na sua cabeça, ninguém tira. Vc insistia, insistia e insistia. 

– Você poderia ter insistido. Poderia ter tentado dizer de outra forma, quando vc coloca algo na sua cabeça eu tento te fazer mudar de ideia de mil maneiras. Você só tenta uma vez e se não der certo você vai embora e foda-se como eu estou me sentindo.

– Eu não gosto de ser confrontado quando a pessoa não está correta, quando minha forma de pensar não é igual. Não sou vc. Não sei agir como vc. Somos diferentes.

– Realmente, agimos e temos percepções diferentes da mesma situação. Mas se relacionar é um tentar se adaptar ao jeito do outro. E não ter a síndrome de Gabriela. Hoje de manhã eu busquei refletir sobre o ocorrido, tentando ver pelo seu olhar e cheguei na conclusão de que não me expressei muito bem, que talvez se eu tivesse falado com mais jeitinho, o resultado teria sido diferente. Mesmo sabendo como eu me senti indesejada, mesmo sabendo que o ocorrido tbm me afetou negativamente. Já você não costuma fazer esse exercício de se colocar um pouco no meu lugar também. E veja que se colocar no lugar do outro não é invalidar o que vc sentiu, mas tentar ver o que o outro sentiu tbm. 

– Um dia, no seu curso da faculdade, vc vai entender que situações como a de ontem causam sequelas psicológicas muito grandes. Eu tô bem mal com minha masculinidade. Marquei médico pra amanhã. Vc nunca foi indesejada. Eu apenas estava diante de uma situação rara: um cara deixar eu chupar ele. E vc estava me apoiando. E isso era a coisa mais incrível do mundo pra mim, então eu só estava aproveitando a oportunidade. Sempre que dava em outras situações ali eu interagia com vc… te chupava, te comia, te deixava a vontade. 

– Mas a questão é que vc já tinha finalizado a sua interação com o cara. Você estava querendo interromper uma interação nossa pra ter uma outra interação que poderia esperar após termos o nosso momento. Você entende como isso pegou mal pra mim? Eu pensei: “poxa ele já chupou um cara até gozar, já chupou o cara da cabine do lado até a interação estagnar naquilo, queria um pouco dele pra mim e ele preferiu interromper a nossa transa pq eu não estava mais sendo interessante pra ele.” Eu também poderia ficar com sequelas psicológicas, pensando “ele prefere chupar outro cara do que continuar transando comigo.” 

– É uma brincadeira arriscada. Sempre me envolvo em brincadeiras arriscadas por vc.

Por mim? Ou por ele mesmo?!

– Eu reconheci que falei de uma forma rude pra você continuar me comendo, mas antes mesmo de eu ter dito isso, isso não apaga o fato de que você quis interromper uma transa nossa pra chupar outro cara. Sendo que vc já tinha chupado dois na sequência.

– Já expliquei sobre isso. 

Daí eu voltei na parte da conversa que ele dizia ter marcado o médico. 

– Que médico? – Perguntei.

– Não interessa pra vc, são coisas minhas. Inseguranças minhas. 

– Não estamos mais juntos então?

– Depois de ontem acho que não neh. Eu não sou homem pra vc. Não me sinto mais homem suficiente pra vc. Depois me avise quando estiver na sua casa, vou mandar suas roupas por Uber. Você não precisa vir aqui. 

– Eu vejo a gente como um casal. E um casal vive suas crises, tem seus desentendimentos, mas depois se entende. Te deixei ir embora ontem, pq tbm estava irritada e também me senti fragilizada, por o meu namorado preferir ter outras interações masculinas do que sentir prazer me comendo. No entanto, hoje acordei de cabeça mais fria, refleti sobre o ocorrido, compreendi a minha parcela de culpa e te mandei msg pra saber se você tinha chegado bem e falei sobre fazermos uma chamada pra conversar sobre o ocorrido. Se eu achasse que vc não é homem suficiente pra mim, eu não teria esse tipo de preocupação de conversar com você. Agora se você chegou na conclusão de que não tem mais tesão em mim pq curtiu demais as interações masculinas de ontem, que você quer experimentar um novo modelo de relacionamento, então fale por você e não jogando nas minhas costas algo que em nenhum momento foi dito por mim.

– Vc já parou pra pensar o tamanho da responsabilidade sexual que é pra um homem ter vc? Vc é uma mulher muito desejada, linda, todos os homens te querem. É uma baita responsabilidade te satisfazer. E sinto que não consigo dar conta disso. Ontem isso ficou bem claro, vc me pedindo pra te comer, mandando e eu pressionado, não conseguia. Eu nunca disse que perdi o tesão em você.

– Assim como eu tbm nunca disse que queria terminar ou que você não é homem pra mim.

– Mais uma vez vc distorcendo tudo, enquanto eu tô te fazendo um baita elogio. 

– De que valem esses elogios se você está desistindo? O elogio se torna um fardo.

– Não tô desistindo. Fardo é não ser homem suficiente pra vc. 

– Você me dizendo essas coisas parece a minha amiga terminando com o namorado dela dizendo que ele é um cara incrível, mas que o problema era ela e não ele, quando na vdd ela já tava cagando pro cara e só não queria admitir que já tava a fim de outra pessoa. Então por favor, seja sincero comigo.

– Serei. 

– Você disse que teve insights enormes sobre você, que está repensando a sua masculinidade e até marcou médico (que vc não quer abrir pra mim qual especialidade) pra falar sobre isso. Então se vc não quer mais ficar comigo pq descobriu que ter outro modelo de relacionamento fará mais sentido pra você, não vem com esse papo de que eu sou incrível e bla bla bla, e me fala a verdade nua e crua. Pq senão eu vou ficar igual uma idiota aqui tentando fazer você mudar de ideia, quando na verdade nem é isso que vc quer mais de mim.

– São vários pontos. Ontem eu descobri algo novo sobre mim. E vc quem me deu liberdade pra isso. Descobri que sinto sim tesão em chupar pau. Mas isso não invalida em momento algum o que sinto por mulheres. Sou viciado em mulheres. Sou viciado em vc. Adoro buceta muito mais que pau. É só um brinquedo novo. Não tenho tesão em gays. Não teria um relacionamento homoafetivo. Não sairia com um cara sozinho

Gravem bem essas frases em negrito para a Parte 13.

– E só faria essas brincadeiras com uma pessoa de confiança (vc) ou com alguém que eu pagasse pra ir na HotBar comigo. – Ele continuou. – O outro ponto é que vc é muito desejada por todos e isso por si só me coloca uma pressão diária. Desde que eu comecei a sair com vc eu sempre penso que nunca sou bom o suficiente pra vc. Já levei isso várias vezes na terapia. Vivo querendo melhorar meu pau pra vc. Isso é insegurança minha. Por querer ser melhor pra vc, ser bom o suficiente, pra vc não me trocar por outro. Homens também são inseguros. Terceiro ponto: se tem algo que afeta o homem, é o psicológico. Ontem quando vc ordena que eu te coma e quando eu tento começar e vc muda a cara e continua ordenando, imediatamente eu broxo. Naquele momento vem em minha mente: “eu não posso falhar agora, 3 acabaram de comer ela gostoso, eu não posso falhar”. Pronto, é a receita perfeita pra eu falhar. Psicológico é tudo. E vc interpreta isso da maneira mais errada possível.

– Você quer terminar? É isso que você quer? Seja honesto comigo, por favor.

– Pq vc acha que eu quero terminar? Pq agora vc acha que eu gosto mais de pau do que vc? Vc cagou pra tudo que eu disse acima.

– Pq eu te mando msg em busca de nos entendermos e você vem com esse discurso de não ser homem pra mim.

– Te dei uma aula sobre como me sinto. Estou fragilizado. E sim, não me sinto o suficiente pra vc.

– Eu também me senti fragilizada ontem. E em nenhum momento eu cogitei rompermos o que temos. Eu pensei “ok, brigamos, ele foi embora, mas depois nos entendemos”. E você já acha que tudo é o fim da relação.

– Vc não entende a importância de tudo que estou te entregando aqui. Da sinceridade que estou te entregando.

– Eu tô sempre repetindo pra você o quanto eu sou doida por você. O quanto eu adoro dar pra você, o quanto eu amo o seu pau assim, que vc não precisa mexer em nada. O que mais eu posso fazer pra você ter confiança no que sinto por você? Ontem eu me senti zero desejada por ti e mesmo assim eu não pensei em abandonar a nossa relação.

– Eu não deixo de desejar vc um minuto sequer. Mas vc pensou isso. Eu falhei em algo. Talvez estivesse muito empolgado com meu brinquedo novo. Estava tão bom na primeira interação, vc brincando junto, sem ciúmes. Me senti tão livre e acolhido por vc.

– Entendi que a minha pressão bateu errado em você, assim como você querer interromper a nossa transa bateu errado pra mim. Foi uma situação infeliz, ok, acontece. Qual o nosso papel como casal a partir disso? Conversarmos, entender o que cada um sentiu, fazermos ajustes e seguir com a relação. Quando qualquer coisa te faz querer desistir da gente, novamente me vejo naquele cenário de incerteza, em que qualquer briga você vai terminar comigo.

– Não quero desistir da gente. Só me senti um horror e não queria ficar por perto. Me senti pressionado, acuado, acusado. Me senti muito mal tbm. Broxa, insuficiente. Eu só conseguia lembrar das dezenas de cara que desejariam te comer e eu não consegui pq meu psicológico foi afetado. Sexualmente falando, nunca me senti tão mal na minha vida. Não quero passar por uma situação onde eu mesmo me coloco em humilhação, jamais na vida.

– Então não fica trazendo pra conversa esses discursos derrotistas que vc não é homem o suficiente pra mim, pq se eu não acho isso, você tbm não tem que achar. Em nenhum momento te acusei por não ter me comido, pelo contrário, eu que fiquei me sentindo não gostosa o suficiente pra você.

– Mas ficou se sentindo assim justamente pq eu não consegui te comer, uma coisa puxa a outra.

– Eu fiquei sentindo isso pq você quis INTERROMPER a nossa transa pra interagir com outras pessoas. Ali eu pensei “eu não sou importante pra ele”, pq ele prefere dar prazer pra outras pessoas, vai sentir mais tesão com outras pessoas, do que comigo. Você ter broxado, eu entendi que foi pela forma rude que eu falei. Ninguém executa nenhuma tarefa bem na base da ignorância. Eu sei que falei grossa. Por isso repensei hoje de manhã que se eu tivesse falado com mais carinho, o resultado teria sido diferente.

– Eu jamais trocaria vc por outra pessoa ou casal.

–  Mas você quis fazer isso ontem quando quis parar a nossa transa pra interagir com as pessoas na porta. 

– Nós estávamos ali o tempo todo buscando um casal legal. Aí eu virei pra trás e vi um casal bonito, pensei: achamos… e fui lá chamar eles… mas aí vc entendeu tudo errado. Vc achou que eu estava trocando vc por eles e não era isso. 

– Sim. Entende que ambos tiveram percepções ruins e diferentes da situação? O que estamos fazendo agora é conversar sobre o ocorrido pra ajustar e entender o que o outro sentiu. É isso que casais fazem. Esse seu lance de brigou vem buscar suas coisas, não demonstra muita importância da nossa relação pra você. Pq qualquer briga você já quer decretar o fim. Se terminar não é algo que vc quer de fato, então não conduza a conversa por esse caminho. Opte pelo mesmo caminho que eu tento conduzir: o da reconciliação. Senão eu vou achar que de fato você quer terminar.

– Então pare de me agredir. Ontem o que eu recebi foram só agressões. E eu tentando me defender. 

– Hoje eu entendo que o que te confrontei, soou pra você como um ataque por você ter broxado, quando pra mim eu só estava querendo puxar de você uma declaração concreta de que vc ainda tinha tesão por mim. E repito, não achei que vc não tinha mais tesão em mim por ter broxado, eu, mais do que ngm, sei que os homens podem broxar, mesmo com muito tesão na pessoa, pq é algo psicológico e não necessariamente físico. O que me fez ter esse pensamento foi você interromper a nossa transa. Por você preferir interagir com outras pessoas. E hoje vejo que não foi com esse olhar que vc quis interromper.

– Nunca duvide disso. Eu declaro isso toda hora. A todo momento. Só te entrego elogios. 

– Peço desculpas da forma como falei com você ontem. Não é pq vc é meu namorado que vc é obrigado a me comer, eu poderia ter falado de uma forma mais amorosa. E tbm não quis te atacar por ter broxado. Sei o quanto isso pega mal pros homens. 

– Peço desculpas por qualquer coisa que possa ter te deixado mal. E por ter saído daquela forma da sua casa, mas eu estava me sentindo agredido. 

Enfim, não vou mais me alongar nesse diálogo. Nos entendemos. 

Isso foi num domingo.

NOVA BRIGA

Reiniciando a semana, ele retomou com aquele padrão de caçar briga quando estamos separados. Já na segunda mesmo, última semana de setembro:

– Quando vc chegar na sua casa, me avisa? Quero falar com vc. Só me dá uma previsão de horário que estará lá por favor. Pra eu me organizar. – Ele disse.

– Aconteceu alguma coisa?

– Sim.

– O que? – Eu, sem entender nada. 

– Nos falamos quando você puder. 

Eu estava numa lanchonete com a Manu, após atendermos um cliente juntas. Eu tinha compartilhado com ele um vídeo do lugar, que era todo cor de rosa, e aí ele veio com essas mensagens acima. 

– Hoje vai ser complicado falar por ligação, pq daqui vou pra aula e da aula vou ter cliente.

– Vá trabalhar. Depois falamos.

– Se puder adiantar o assunto, eu ficaria mais tranquila.

– Vamos terminar.

– Oi?

– Só quero falar isso por vídeo se vc preferir. 

– Falamos amanhã então, não tô a fim de estragar meu dia. Parece que vc sente prazer em não me ver bem.

Gente, qual a necessidade disso? Ele conseguiu estragar até o meu rolê com a minha amiga. 

– Eu tô mandando suas roupas por Uber. 

Reagi só com joinha.

Vendo que eu não me afetei, dois minutos depois tentou me desestruturar novamente:

– Vc sabe que o que vc fez hoje foi ridículo. 

– Eu não sei do que vc tá falando. 

– Sabe sim.

– Não, não sou adivinha. 

– Olha sua atitude de hj. Sumiu. Não falou nada. Não quero mais isso pra minha vida. 

*

Ele se queixava porque nossa última interação tinha sido quatro horas atrás e quando eu ressurgi, já foi mandando o vídeo do lugar onde eu estava. Que ele respondeu com um mero ponto de interrogação.

– Estou te mostrando o lugar que vim com a minha amiga. Todo cor de rosa. 

– Foi com sua amiga? Eu pensando que estava trabalhando. Obrigado por avisar. 

E aí na sequência ele veio com aquele diálogo do início, querendo terminar. 

*

– Nos falamos aqui. – Daí trouxe o print da nossa última interação, quatro horas antes. – Que vc ainda demorou 1h pra me responder. Depois disso você TAMBÉM não falou mais nada. As interações precisam partir de ambos os lados, não só de um. Ainda vim aqui compartilhar onde estou e você, ao invés de ficar feliz por mim, que estou vivendo um pouco, vem me atacar com essa possessividade desnecessária. Você sabe que estou com a minha amiga papeando e sente prazer de interferir pra estragar o meu dia. Não pode simplesmente ficar feliz por eu estar fazendo algo diferente.

– 5 horas depois vc aparece. – Ainda aumentou uma hora. – E eu achando que vc estava trabalhando, angustiado. E vc nem teve a coragem de me falar que ia sair pra passear. Vejo que vc não está preparada pra ter um relacionamento, dar satisfação. Custava ter me avisado?

– Sim eu estava trabalhando. Te falei que tinha um atendimento com ela. E depois viemos comer algo e fofocar. Qual o problema nisso? Você me trata como se eu tivesse te traindo com alguém. Que ridículo. Ao menos eu apareci, né. Você acha que só vc é ocupado. Eu te mandei vídeo da onde eu estava. Eu tenho que te pedir autorização de todos os meus passos antes de fazê-los? Esse seu comportamento é doentio. 

– Ok. Segue sua vida. Vou seguir a minha. 

E daí já sumiu a foto dele. 

– Tô vendo que já apagou meu contato e me removeu do Instagram. Então você nem vai esperar pela chamada, já terminou por mensagem mesmo?

– Te avisei. Você pediu pra eu adiantar o assunto. Hoje vc me excluiu completamente da sua vida. Fiquei bem mal, não quero mais passar por essa situação. Sabemos que já é muito difícil pra mim aceitar seu trabalho, que não consigo aceitar vc trabalhando, e quando ocorre esses sumiços seus, sem dar satisfação, me vem os gatilhos que desencadeiam sensações horríveis, que não desejo para ninguém. Por mais que eu goste de vc, quando vc some, sinto coisas horríveis. Vc prometeu pra mim que manteria contato mesmo quando fosse trabalhar e hj não cumpriu isso. Mais uma vez escondendo coisas, omitindo. Assim como vc não consegue confiar em mim, não consigo confiar em vc. Vive uma vida muito diferente da minha. Por mais que eu tenha tentado me adaptar, não consegui. E lutei muito por isso. Eu realmente espero que vc consiga sair dessa vida e achar alguém que vc ame de verdade e que faça valer a pena, ou então um cliente que aceite isso numa boa. Eu me machuco muito com tudo isso. Estou exausto. Não consigo mais. Hoje foi o fim da linha. Eu esperando contato seu, vc trabalhando, com sua amiga sem falar nada. Podia pelo menos ter comentado, mas preferiu omitir, como sempre. É mais fácil pra vc omitir do que falar, do que dar atenção. Vou seguir minha vida e desejo tudo de melhor pra vc. E eu realmente desejo que vc saia dessa vida o quanto antes. Sofri muito muito hj. Não aguento mais isso. Quero um amor que me traga paz e acho que sou merecedor disso. O seu trabalho e o que vc faz me machuca muito por gostar muito de vc. E isso só me machuca. Quero poder sentir paz no meu coração. Vai ser muito difícil agora no começo, mas vai passar, vou me recuperar. E tenho certeza que será menor do que essa angústia diária que eu vivo.  Hj vc tem dois clientes, não me falou de nenhum deles. Não deu a mínima para a pessoa que fala que te ama. Isso não é se importar. Às vezes vc esquece disso. Da minha insegurança. De que o que vc faz não é algo trivial pra mim. Espero que Deus te ilumine muito. Não sou homem suficiente pra te bancar nem financeiramente, nem sexualmente. Se eu tivesse grana vc não estaria nenhum dia a mais nesse trabalho.

E lá vamos nós! 

Eu, na minha aula de dublagem, que nem pode entrar com celular, fiquei disfarçadamente redigindo mensagem pra ele. Nem consegui prestar atenção na aula.

– Vamos olhar para o dia de hoje como um todo? Você acordou e sequer me deu bom dia. Puxei assunto com pela manhã, sobre a minha prova e você levou meia hora pra me responder, até perguntei se vc tinha ido trabalhar, pq sabendo que vc está sempre conectado, achei que estivesse dormindo, pra ter demorado tanto, e você disse que sim, que tinha acordado cedo, levou o carro pra revisão e foi trabalhar. Na hora eu pensei, “poxa, ele acordou cedo, não me mandou um bom dia, e quando eu puxo assunto, ainda levou meia hora pra me responder.” Te mandei várias coisas aleatórias durante o almoço, você levou mais de 1h pra me responder e ainda foi super sucinto nas respostas. Demonstrando zero empolgação pra interagir comigo. Fui fazer as minhas coisas e deixei vc fazendo as suas. Pensei: “quando ele quiser interagir comigo, vai me mandar msg.” Isso não aconteceu. Quando saí do encontro e fomos comer em algum lugar, quebrei o silêncio e fui compartilhar com você onde estava, super empolgada pela estética do lugar, que era todo rosa. Fui recebida com ataques, como se eu tivesse fazendo alguma coisa errada. Totalmente desproporcional com o momento. Eu já tinha comentado com você, no fim de semana, que teria esse atendimento com ela, quando estávamos falando sobre as mensagens do celular da Sara, mas como sempre, você nunca lembra das coisas e vem me acusar de estar te escondendo algo, sendo que o meu trabalho não é nenhuma novidade pra você. Você também disse, no fim de semana, que ia me deixar livre pra fazer o meu trabalho. Me deixar livre, entendo que não preciso ficar te reportando toda a minha agenda. Você diz as coisas e depois cai em contradição nas suas próprias sentenças. Você diz que eu não estou pronta pra ter um relacionamento, mas é você que tem uma ideia errada do que é se relacionar. Se relacionar é respeitar os afazeres do outro, sem qualquer retaliação por isso. Hoje, todas as vezes que interagimos, foi por iniciativa MINHA. Você quer que o meu dia seja em torno de você o tempo inteiro. Você não compartilha comigo NADA do seu dia. Você me exige algo, que você mesmo não faz.Também já estou cansada dos seus ataques e acusações. Estou cansada dessa infantilidade, qualquer chateação sua, você age de forma impulsiva, quer terminar, apaga meu contato, me exclui do Instagram, você não me dá segurança NENHUMA pra ir morar com você. Se eu tendo a minha independência você já me trata assim, imagina quando eu tiver morando debaixo do seu teto, dependente de você?

– Vc sabe muito bem o que causa todo esse meu comportamento. Com meus ex relacionamentos não existia isso. Vc sabe muito bem o motivo de estarmos terminando. Se vc morasse comigo, não estaria trabalhando. E esse tipo de situação não aconteceria.

– Essa discussão não vai levar em lugar nenhum. Ok. Segue seu caminho em busca de um relacionamento normal. Preciso de paz também.

– Só levaria a algum lugar se vc parasse de trabalhar com essa merda. Eu não aguento mais sofrer por isso.

– Estamos brigando não é pelo meu trabalho, é pela sua possessão e intolerância. Se eu trabalhasse com qualquer outra coisa, você ia se incomodar com as minhas ausências do mesmo jeito. O seu comportamento é só uma amostra do todo.

– Jamais. Pessoas trabalham. Eu não sou possessivo. Vc nunca vai olhar pra seu trabalho como deveria. Sempre vai romantizar como se fosse algo normal e que as pessoas devessem aceitar. Eu juro que queria muito ser rico pra falar que a partir de amanhã vc não trabalharia mais com isso. É muito difícil abrir mão de quem se ama por não suportar situações. Eu jamais pensei em passar por isso.

– Você é extremamente ciumento. Não posso ter um momento de descontração numa cafeteria com a minha amiga que vc já vem me atacar por eu ter ficado horas ausente. Você quer me controlar o tempo inteiro. Ao invés de valorizar eu ter te mandado msg, você me atacou pelo tempo que não mandei. Vc não sabe olhar pras coisas boas. Isso me faz disparar um alerta enorme de ir morar com você. O tanto que vc me controlaria.

– Não é o problema de vc estar descontraindo, é eu estar aflito enquanto isso acontecia e vc sequer me falou. Se tivesse falado eu estaria de boa… te incentivando. Nunca foi sobre controle, sempre foi sobre me sentir mal com seu trabalho. Vc estava com sua amiga justamente pra atender junto com ela. Trabalhar nesse trabalho que vc tanto vangloria. 

– Não se preocupe. Não precisará mais passar por isso daqui pra frente. Vai lá comentar numa foto da Bruna, igual vc fez dia 17 de agosto e quem sabe retoma o contato? Melhor e mais tranquilo, você retomar um relacionamento normal. Meu trabalho é esse, é o que paga as minhas contas no momento e se isso é demais pra você, mesmo quando já tínhamos planejado algo futuro, melhor você parar de se mutilar mesmo. Também estou sofrendo, a minha proporção, com todos esses estresses e desgastes. E para de jogar as coisas nas minhas costas. Você não cansa desse vitimismo não? Se vc tava tão mal assim, era só ter me mandado mensagem e perguntado o que eu tava fazendo. Seu dedo não iria cair. Tô cansada de ser sempre EU a ter que fazer as coisas.

– Você ama o que faz. Ama que te desejem. Mesmo que seja velhos babão. Por isso vc romantiza seu trabalho. E quando eu critico vc fala que é pq eu sou possessivo.

– Ok. Já estou exausta de discutir com vc. Depois manda minhas coisas pelo Uber. Farei o mesmo com as suas coisas que estão lá em casa.

– Não vou mandar. Juro que me arrependo do dia que te conheci. Do dia que me apaixonei por vc.

– Você não disse lá em cima que ia mandar?

– Não vou mais.

– Vai jogar minhas coisas fora?

– Não sou sem escrúpulos, posso estar nervoso agora, falando merdas, mas não faria isso. Mandarei suas coisas. Só preciso me acalmar mais pra conseguir tirar elas do guarda-roupa. É um sonho sendo destruído.

– Ok. Manda quando quiser. Vou tentar prestar atenção na aula.

– Boa aula. Bom trabalho. Divirta-se. 

Mas você pensa que acabou aí? Não. Essa discussão se estendeu até o dia seguinte, mas como é só mais do mesmo, vou poupá-los deste desgaste cansativo. 

Dois dias depois, enquanto víamos hospedagens para passarmos o réveillon juntos, tivemos uma briga definitiva. Impressionante como uma conversa leve e gostosa, fazendo planos para uma data tão especial, descambou em algo negativo e pesado. 

Ele possuía uma habilidade sombria de azedar tudo.