Desaventuras Amorosas em Série – Pte 7

Querido diário,

Voltei para o Bumble.

Minha relação com esse aplicativo é de amor e ódio, rs. Na verdade, mais ódio do que amor, rs. O ciclo geralmente é: me reconecto engajada, daí basta uma experiência ruim, que desanimo novamente, rs. E nesse momento me encontro no ciclo engajada!

O Garotão Passageiro

O cara da vez é uma incógnita pra mim. Não achei ele muito bonito nas fotos, mas gostei das coisas que estavam escritas e pensei: “por que não dar uma chance para os não tão bonitos, mas engraçados? Quem sabe me surpreendo!” Sua idade marcava 25 anos, não curto novinho e dificilmente daria moral, mas como nas fotos ele aparentava ser dez anos mais velho, decidi arriscar.

O papo fluiu rapidamente, logo estávamos trocando áudios, super conectados nos assuntos. (Infelizmente não consigo trazer os diálogos detalhadamente, pois, o final foi tão estranho, que, no impulso, já desfiz o match e perdi o histórico.)

Em meio a uma conversa que estávamos tendo, ele teve a iniciativa do nosso primeiro encontro ser num evento imersivo de terror, chamado “Edifício Rolim”, que acontece nesse mesmo prédio, localizado na Praça da Sé. É um evento novo, dos mesmos donos de outro evento de terror, chamado “Abadom”, que rolava em Santo Amaro.

Como eu já estava querendo ir conhecer, adorei quando ele propôs a ideia, já que a minha amiga que planejava ir comigo, nunca está casando as agendas. Ele comprou os ingressos e ficamos sem nos falar de quinta até domingo, quando ele me enviou uma mensagem durante a tarde, confirmando nosso encontro para a noite daquele mesmo dia.

Precisei atender um cliente antes e com isso acabei me atrasando para o nosso date. Combinei com ele 19:30 (meia hora antes do evento), mas acabei chegando quase oito horas. (Não deixei que me buscasse em casa, por questões de segurança.) Como cheguei em cima da hora, nossa interação inicial foi mais objetiva, nos cumprimentamos e já fomos subindo as escadas.

No entanto, é claro, que não pude deixar de reparar na sua aparência. Muito mais bonito que nas fotos, corpo robusto e malhado, um verdadeiro armário: alto e grande. Gostei bastante!

O Thales, esse boy que conheci no aplicativo, já tinha me avisado que era muito medroso e que gritava fino. E realmente ele não estava mentindo. Fomos num grupo de seis pessoas, sendo três casais, e ele era o que mais se assustava, o que acabou dando um tempero pra experiência, com seus demasiados gritos femininos kkkkkk. Nem as outras mulheres se assustavam tanto quanto ele, rs. Confesso que numa hora deu até um tesãozinho, quando nossos corpos se prensaram em determinado cenário.

O evento em si não me surpreendeu, mas isso porque sou atriz, já trabalhei em outros eventos com essa mesma temática e não me assusto fácil. Além de notar muitas similaridades com a forma de conduzir o público e propiciar os sustos. Muita bateção de porta, muita escada, muita correria. Eu só ficava sorrindo, por prestigiar a atuação dos meus colegas, (inclusive até reconheci um, mesmo caracterizado de monstro), mas susto mesmo, não levei nenhum.

Saindo de lá, sugeri irmos no barzinho ORFEU, que ficava perto e dava pra ir a pé. Conversamos bastante, assuntos leves, nada muito profundo e de fato ele era muito engraçado, sempre desenrolando uma piadinha. Tomei um Bloody Mary e ele uma cerveja, ainda pedi tiras de fraldinha como petisco e, no final, ele fez questão de pagar a conta.

Viemos andando até a minha casa. Quando chegamos na frente do meu prédio, não o convidei para que subisse, ele perguntou se podia me dar um beijo e quando nos beijamos, rapidamente senti o seu volume no meio das pernas. Parecia bem grande. Deu um tesãozinho, mas nada que me fizesse transar com ele naquela noite. Depois que entrei no meu apartamento, choveu de mensagens suas, querendo sair comigo novamente. Combinamos para o final de semana seguinte e a programação exata não foi definida.

*

– A senhorita quer algo mais romântico, intimista ou algo mais encontro casual? – Ele perguntou, enfim, na véspera do segundo encontro.

– Todas as opções me apetecem. – Respondi. – Você tá em qual vibe?

– Eu tô na vibe de te ver. Ajuda? Hahah.

– Ou seja: “Decide você, qualquer coisa pra mim tá bom”. Kkkkk.

– Não é isso hahah, é que eu queria fazer alguma vontade sua. Não tem nenhum lugar que vc queira ir?

– A minha vontade é te ver também. – Devolvi a peteca.

– Olha só que astuta. Nesse caso, quer tomar vinho? Podemos ir ver algum filme, depois pararmos pra tomar vinho.

– Um cineminha? Gostei.

– Tenho o meu favorito de estimação (ele gosta de ir no Cine Belas Artes, ali na rua da Consolação). Mas se eu escolher o cinema, você escolhe o filme.

Ele mandou o link para que eu escolhesse, isso foi por volta das 18h e só apareci com a resposta no dia seguinte, dez da manhã:

– Bom dia!! Desculpa a demora, minha amiga chegou aqui em casa ontem e não consegui ver com calma as opções. – Mentira, eu tinha ido atender.

Não estava sendo captada por nenhum filme, até que, de repente, vi: ANORA, ganhador do Oscar, que eu tava louca pra assistir.

*

Ele veio me buscar num carrão. – Quero dizer, eu achava que era carrão, até ouvir do meu personal que Spin não é carrão e sim carro grande, utilizado para transportar coisas. – Deixou o carro no estacionamento que fica ao lado do Hotel Renaissance e caminhamos alguns quarteirões até o teatro, o que não achei muito conveniente, rs.

Chegando lá, pude perceber uma forte tensão sexual vinda dele, quando estávamos parados na fila da compra do ingresso e depois na fila da pipoca. Como se o tempo inteiro ele quisesse me seduzir a ir embora dali, querendo beijar em público, num ambiente extremamente iluminado e cheio de pessoas em volta. Por vezes tive que contê-lo. Após sentados na poltrona, não sei como iniciamos um assunto sobre sexo, com ele falando da sua primeira vez e que o recorde que já aguentou foi oito numa noite. De repente o filme foi começando e ele queria continuar falando. Aquilo me constrangeu um pouco, detesto incomodar os outros.

– Fala mais baixo, – Solicitei, cochichando, para que ele entrasse na minha.

– O filme já vai começar. – Cochichei de novo, em outro momento, para que ele desligasse o radinho.

Ele queria ficar beijando no cinema. O que não vejo nenhum problema, se a sessão estiver mais vazia. No entanto, havia pessoas ao meu lado e do dele, e ninguém merecia ficar ouvindo os estalos dos nossos beijos, então, a certa altura, o interrompi, que toda hora vinha fazer uma nova tentativa, beijando o meu ombro, no intuito de que eu virasse o meu rosto para ele. Em outro momento acabei cedendo e nessa hora ele quase me levou pra sua casa.

– Agora entendi porque você deixou que eu escolhesse o filme, já que a sua intenção nem era assistir mesmo. Né? Rs. – Cochichei.

Ele concordou.

– Então nem precisava ter vindo né, já devia ter combinado outro lugar. – Continuei.

E nesse momento ele falou que se eu quisesse podíamos ir embora, naquele momento, para a sua casa. – Ele morava com a vó, mas, segundo ele, ela estava internada no hospital.

– Em Osasco?! – Desanimei um pouco com a distância e a fama do lugar.

Ainda assim, achei que seria uma adrenalina conhecer a casa dele e transar naquela noite. Por um segundo passou um filminho na minha cabeça, me visualizando levantando da poltrona, passando pelas pessoas e depois no carro com ele. Foi por muito pouco que não aceitei, pois também estava com bastante tesão. Mas aí olhei pro filme que estava passando na tela e também era algo que eu queria muito assistir, não quis fazer uma escolha no impulso, então recuperei um pouco da sanidade e propus:

– Vamos fazer assim, terminamos a pipoca e vamos assistindo mais um pouquinho do filme.

Se o filme fosse chato, eu concordaria em ir embora depois.

Mas o filme foi ficando interessante. E dali a pouco, quando ele vinha tentar me beijar, eu não tirava mais os olhos da tela. Só voltei a dar atenção pra ele, quando comecei a ficar apertada e incomodada com a demora para que o filme acabasse (durou quase 3h).

MINHAS PERCEPÇÕES DO FILME ANORA

Tem Spoiler

Não vi nada de extraordinário que merecesse o Oscar mais do que “Ainda Estou Aqui”, mas sim, gostei, e achei interessante que abordaram a prostituição num contexto que eu nunca tinha visto igual em outro filme. A garota que se deixa iludir por um riquinho mimado, de 21 anos, (se iludindo tipo, casando com ele), pra depois ter todo um rebuliço dos pais dele, extremamente milionários e influentes, contratando capangas para que fizessem o garoto anular o casamento, pois era um escândalo, ele ter casado com uma prostituta.

Daí o moleque foge e ela fica refém dos capangas, mas assim, nada violento, essa cena, inclusive, foi uma das mais engraçadas. Analisei até que a razão pela qual a atriz também tenha ganhado o Oscar, possa ser pela sua capacidade de dar vários gritos, como aqueles frenéticos de histeria. Daí o filme se demora muito na busca pelo rapaz (talvez tenha sido proposital, para justamente nos causar essa mesma sensação de desgaste), para depois o bonitão ser encontrado na mesma boate que ela trabalhava, numa dança particular com justo uma garota que ela tinha muitos desafetos. O mais incrível disso tudo, pelo menos pra mim, é que, apesar de todas as evidências apontarem para uma coisa óbvia, assim como na vida, precisamos nos humilhar mais até entender a grande sacanagem da outra pessoa com a gente. O filme inteiro ela buscando um apoio dele, em meio a aquilo tudo e o tempo inteiro ele em cima do muro, sem manifestar de que lado estava de fato. Somente nas últimas cenas ela consegue extrair isso dele, numa cena decisiva em que eles estão prestes a entrar no jatinho particular para viajar até Las Vegas e anular o casamento.

Enfim, eu até que tava gostando do filme, ia sair com uma conclusão de Talvez Amei do que apenas GOSTEI, até que a cena final foi além da minha capacidade de entendimento, não entendi aquela mensagem final que quiseram passar e isso me fez não sair plenamente satisfeita com o filme. (Preciso assistir mais vezes para que venham mais reflexões).

Daí, voltando ao encontro, quando saímos do cinema, trocamos poucas impressões sobre o filme, porque, afinal, eu ainda não estava com uma opinião formada.

– Você quer fazer o que agora? – Ele perguntou manhoso, jogando a peteca pra mim.

O que eu queria fazer? Sinceramente? Ir pra minha casa dormir. Foram três horas exaustivas de filme, tava começando a me dar uma leve dor de cabeça pelo tempo que fiquei sem comer algo realmente nutritivo (aquela pipoca carregada de óleo e sódio não conta), já era 23:30h, consideravelmente tarde, e eu tinha cliente no dia seguinte, 11h (o que significava eu ter que acordar 9h).

– Pra casa. Tá tarde. – Falei, desanimando os planos dele.

– Você vai fazer alguma coisa amanhã? – Ele perguntou se eu ia fazer alguma coisa no dia seguinte, que era feriado.

Fiquei muda, sem responder. Eu tinha um cliente de 2h para às 11 da manhã, mas como poderia falar que ia ter que trabalhar no feriado?

Na caminhada de volta até o estacionamento, eu tremia de frio. Estava vestida consideravelmente agasalhada, saia com meia calça fio 80, bota, e uma blusa de malha, de manga comprida, cacharréu. Ele disse:

– Quer que eu tire minha camisa? Coloca suas mãos pra esquentar debaixo da minha camisa. (Em contato direto com a pele dele.)

E eu fiz, andando meio que abraçada nele. Mas não resolveu, continuei com muito frio. Daí no carro eu percebi seu jeito sutilmente mais hostil, acendendo até mesmo um cigarro, com o carro em movimento.

– Meu cabelo vai ficar fedendo a cigarro. – Reclamei de um jeito mais fofinha.

Não lembro as palavras que ele usou, mas disse que estava se empenhando para que a fumaça não viesse muito pra dentro do carro e aí eu abri todo o meu vidro também. Percebi que ele devia estar frustrado por eu determinar que não transaríamos. Daí voltei nesse assunto e falei sobre marcarmos algo no dia seguinte a noite (que era feriado de 1 de maio), ou na sexta a noite, que eu não precisaria acordar cedo no dia seguinte. Ele super animou e até apagou o cigarro.

Quando estávamos descendo a minha rua, tivemos um diálogo peculiar. Ele fez mais uma das suas belas cantadas da noite, tão perfeita e clichê, daí eu respondi:

– Sei. Só vou acreditar em tudo isso se você não sumir depois de transar kkkkk. – Ele achava que eu era ingênua?

– Por que, você está acostumada com as pessoas fazendo isso com você? – Ele perguntou.

– Eu não diria acostumada, pois isso seria se eu tivesse confortável com a situação. Mas sim, acontece bastante. – Revelei.

– Por quê?

– Porque eu só encontro caras que não querem nada com nada.

Pausa na história para uma revelação!

Sabemos que eu tô sempre falando que não quero me relacionar e sim ter muitos contatinhos, certo? Pois bem, descobri que esse meu discurso tem uma grande contradição com o que realmente reverbera dentro de mim. Eu sempre acabo me apegando aos contatinhos que me despertam algum tipo de admiração e que o sexo é incrivelmente compatível. Aí você pensaria: “Ahh mas isso se chama carência, Sara”, e não necessariamente, pois o que mais tenho a minha volta são homens com dinheiro, querendo me paparicar e me conquistar, e não me envolvo por eles. O apego vem por aqueles caras que me interesso na minha vida pessoal, sem qualquer envolvimento financeiro e que eu escolhi. Não consigo ter mais de um contatinho, porque basta rolar um legal, que já canalizo naquele pobre coitado todas as minhas energias. Então os caras somem e eu, que sei o quanto sou maravilhosa e gostosa, fico na merda tentando entender o porquê deles não terem se apaixonado por mim. Daí entro numa crise existencial de falta de autoestima, me questionando se realmente sou tudo isso, afinal, eu sou uma mulher da vida, né? (Pois, é, nessas horas eu dou uma balançada).

Por que a Sara é mais amada?

O que eu estou usando em uma que não uso na outra?

E o que poderia ser usado por ambas?

Enfim…

Daí corta para o diálogo de volta:

– E você perguntou por que não querem namorar? – Ele perguntou.

– Todos traumatizados.

De fato, tenho dois casos muito parecidos, são caras que decidiram nunca mais se apaixonar (e eu achava que a gente não tinha controle sobre essas coisas), pois tinham traumas com relações ruins do passado, até mesmo se espelhando no relacionamento fracassado dos próprios pais dentro de casa. Eu sempre acho que o cara vai mudar essa visão se acontecer uma mágica, mas essa mágica nunca acontece comigo. Acabo atraindo muito esse perfil de caras não disponíveis emocionalmente, porque, afinal, o universo só está me ouvindo gritar aos quatro ventos que não quero relacionamento, então só me manda caras que não estão disponíveis pra se relacionar.

Pois bem, no dia que eu chorei durante a minha terapia, trazendo pra fora a minha real vontade de querer viver um amor, a partir dali o universo entendeu e agora sim está trabalhando a meu favor.

Ele não disse nada após a minha conclusão acima e logo chegamos no meu prédio. Du a volta para estacionar com calma do outro lado da rua e então demos aquele beijo de despedida. Que beijo. Fiquei com MUITO tesão.

– Você não quer ir lá pra casa? – Ele tentou novamente.

– Mas eu tenho compromisso amanhã 11h. – Respondi pesarosa, pois eu queria mesmo poder fazer as duas coisas.

– Eu te trago bem cedo.

– Mas já é meia noite, vai ficar muito tarde, daqui dez minutos vou cair de sono. Quero te encontrar de novo, com mais tempo. Numa próxima podemos nos encontrar umas 18h, vamos pra sua casa, pedimos um Ifood e vemos Netflix. – Sugeri.

Ele adorou a ideia.

– Podemos amanhã a noite ou sexta a noite. – Tentei já deixar combinado.

Ele demonstrou muito entusiasmo com as duas opções, se mostrou bastante compreensivo com a minha decisão de não encerrar a noite na casa dele, desceu do carro para abrir e porta pra mim, e ali fez sua última tentativa, me beijando tão colado, que novamente senti o seu volume no meio das pernas.

– Você não quer dormir de conchinha comigo? – Ele apelou e fiquei com ainda mais tesão por dentro.

Me imaginei tendo que cancelar com o cliente no dia seguinte, mas era um cliente potencial que eu estava meio que fidelizando, não queria dar essa mancada, então, com muito autocontrole, decidi seguir a razão e não ir pra casa dele.

– Dá um beijo nos seus gatos por mim? – Ele disse, e senti que queria que eu o chamasse pra dentro da minha casa, já que eu não estava com disposição de ir até a dele. Uma tentativa que achei um tanto apelativa e falsa, visto que nunca falei dos meus gatos com ele.

*

– Em casa senhorita. Obrigado por hoje novamente. – Ele mandou mais tarde.

– Que bom que chegou em segurança. Obrigada também.

– E vc chegou bem?- Cheguei sim.

Na manhã seguinte, acordei morrendo de tesão, todo aquele tesão reprimido que não descarreguei durante a noite. Mandei mensagem pro cliente reconfirmando o encontro, e, para o meu desgosto, ele disse que tinha amanhecido resfriado (até gravei um vídeo contando essa história lá no meu Tiktok), fiquei muito puta naquele momento (literalmente), porque além de ter ficado sem sexo, também ficaria sem dinheiro. Eu quase tinha ido transar na noite passada com um boy que eu estava com muita vontade, não fui, pois, se eu fosse provavelmente cancelaria com o cliente e agora o infeliz que cancelava!! VTC.

Após a confirmação e a decepção de que eu não me encontraria com o cliente, tentei resgatar alguma coisa com o Thales:

– Dormiu bem?

– Bom dia senhorita. Como estamos? Dormi sim, acabei de acordar. E vc? Como foi sua manhã?

– Produtiva. – Frustradíssima.

– O que fez de bom?

– Tive reunião, te falei ontem. – Corta pro horário dessa mensagem: 11:11

– O que você acha de encontrarmos pra almoçar e esticar a tarde juntos? – Propus doida pra dar, com o tesão todo acumulado da noite passada.

– Eu vou almoçar no hospital com a minha avó hoje, então não consigo.

Na hora que essa mensagem bateu nos meus olhos, eu o não vi indo cuidar da avó e sim me rejeitando.

– Como ela está? Nenhuma melhora? – Ele disse, na noite anterior, que ela estava internada, com câncer. – Será que eu fui insensível? Afinal, não se melhora de um câncer da noite para o dia.

Vocês acreditam que ele nunca mais falou comigo depois disso?

A noite eu fiz uma nova tentativa de contato:

– Oie, tudo bem por aí? Aconteceu alguma coisa? Cê sumiu, fiquei preocupada.

Comecei a achar que a vó dele tinha morrido. Ele nunca demorava tanto pra me responder no whatsapp, aquele sumiço estava fora do normal. Fui investigar no Instagram, ele tinha postado dois stories depois da minha mensagem perguntando da vó dele mais cedo, o que demonstrava ele não ter me respondido de propósito e não porque estivesse longe do celular. Interagi nesses stories, mas o boy evaporou. Sequer visualizou as minhas interações.  

No dia seguinte, comecei a cair em mim que ele tinha me dado um ghosting e fui buscar respostas no tarot. Contatei uma taróloga maravilhosa que me responde 7 perguntas por R$ 42 com áudios riquíssimos de detalhes e interpretações completas.

A primeira pergunta que eu fiz era se a vó dele tinha morrido.

Não tinha.

– Aqui nas primeiras cartas não aparece óbito, não aparece energia de desencargo. Ela pode até estar doente, mas ainda não mostra aqui no baralho que ela tenha morrido. Até porque quando tem desencargo são cartas bem específicas que aparecem.

Na sequência perguntei se ele tinha sumido por conta da vó.

Não tinha.

– Não, não é por conta da vó dele, tá tendo alguma outra situação que tá pedindo pra ele maturidade, postura, tempo inteiro, que faz com que ele cuide demais disso e dê menos atenção a vocês. E não é necessariamente por conta da vó, pode ser que a história da vó esteja envolvida, mas não é só isso. Tem outras coisas. Talvez seja algo relacionado ao trabalho, pois está mostrando cartas aqui que ele tá precisando de mais maturidade, dedicação e empenho, fazendo com que ele coloque mais energia nisso. – Fala se ela não dá uma interpretação muito completa?

A terceira pergunta foi se ele tinha sumido por ter perdido o interesse em mim:

– Não é isso. Tem aqui uma conexão que ele ainda sente em relação a você, mas muito mais ele fazendo coisas da vida dele, coisas que pedem a atenção e energia, do que não estar mais interessado em você.

Gente mas que rebuliço é esse que aconteceu na vida dele, do dia para a noite, se a vó dele não morreu?!

Na quarta pergunta eu quis saber se ele era comprometido.

– A carta da árvore diz que sim. Ele tem algum tipo de compromisso com outra pessoa. Ou ele fica com outra pessoa, ou tem uma relação, mas consta sim um vínculo.

Na quinta pergunta eu quis desvendar algo que parecia meio óbvio, se ele queria só sexo.

Incrivelmente disse que não.

– Não, ele até tava se envolvendo, tava gostando do contato e da vivência que tava tendo contigo. Não era só sexo, claro que o sexo falava mais alto, mas tinha também um envolvimento a mais, talvez pelo seu jeito, pela sua energia.

Depois perguntei se ele ia me procurar e quanto tempo demoraria.

– A resposta é sim, só que isso pode demorar um pouco. Ele ainda não tem clareza desse tempo.

De acordo com essas respostas, quis investigar mais e paguei por mais perguntas avulsas:

– Ele mora com a pessoa que é comprometido?

– A resposta é sim. Ele tem algum tipo de convivência séria, mais intensa com essa pessoa. Talvez alguém que ele fique e dorme na casa, alguém que ele já tem uma certa intimidade.

– A vó dele está mesmo internada?

– Aqui mostra que essa pessoa tem sim algum tipo de problema de saúde, mas não confirma uma internação. Ou ela passou pela internação e agora tá em casa, mas ainda assim com algum problema de saúde. Aqui fala mais sobre o problema de saúde do que a internação em hospital. Ela deve fazer uso de medicamentos e ter um acompanhamento médico mais intenso.

– Se eu tivesse transado com ele, teria sumido do mesmo jeito?

– A resposta é sim, mas não é sobre você. O fato dele ter sumido não é porque não gostou de você, mas é que a vida dele tem outras responsabilidades, outras demandas, outra situação, que desconectou vocês nesse caminho. Mas você transar ou não com ele, não ia mudar em nada isso.

Pode até ser, mas se eu tivesse transado e gostado, com certeza teria me sentido pior com esse sumiço.

O tarot me ajudou a superar aquela história.

MAS ESTOU ACEITANDO TEORIAS DO OCORRIDO NOS COMENTÁRIOS!!

Depois deixei de seguir, removi e desfiz o match. Fiquei com um leve ranço, não por ele ter desistido, afinal, entendo perfeitamente que as pessoas têm livre arbítrio. Mas ele poderia ter sido mais honesto e transparente no que ele estava buscando e não vir com aquele papo fajuto de que não gostava de relações líquidas.

Toda essa situação reverberou uma energia tão estranha, que até o cliente que tinha cancelado em cima da hora comigo, me bloqueou, quando orientei que o correto seria me acertar o combinado do mesmo jeito. Uma pessoa que se mostrava exageradamente encantado por mim e que já tinha dado essa mancada de cancelar com pouca antecedência anteriormente.

Não entendi nada do que aconteceu com esse menino, muito menos com o cliente, mas como tenho aprendido na terapia, estou praticando o “deixar fuir” e apenas aceitar como as coisas vem, sem me estressar, nem reter qualquer energia. Não era pra ser, com nenhum dos dois.

Palpites?

P.S.: Quem se interessou pelos talentos da taróloga, o insta dela é @saritah.tarott

Essa música tocou no momento em que ele me buscou em casa. Achei muito gostosinha:

6 comentários em “Desaventuras Amorosas em Série – Pte 7

  1. Precisa de tatot não, Sara. Mas, se te fez bem, é o que importa.
    Mulher. O problema é sempre outra mulher.
    Faça-me um favor. Pare de se questionar dessa forma que derruba sua auto-estima. São só circunstâncias da vida.
    Vc é nova. Muita água pra rolar ainda por baixo da ponte.
    Diga-me, vc nunca, jamais deu trela a alguém que tenha calhado de conhecer profissionalmente?

  2. Esqueci de perguntar.
    Vc foi em um evento que teve em homenagem ao cinema de terror que teve há uns 2 anos no MIS? Foi bem bacana.
    Vc já fez o tour noturno do cemitério da Consolação? Esse eu não fiz.

  3. Olha, vou ser direto: querer viver um amor verdadeiro enquanto faz programa não é fácil e não tô dizendo isso pra te julgar, mas pra te fazer encarar a real. Você não pode esperar que os dois lados coexistam numa boa se você mesma não se posiciona.

    Amor de verdade exige entrega, confiança, vulnerabilidade e, na sua vida agora, você lida com encontros rápidos, contratos, aquela proteção emocional automática que vem do “trabalho”. Como é que alguém vai se sentir seguro, especial, se você vive nessa divisão entre o que quer e o que faz? Você tá mandando sinais confusos, até pra você mesma.

    Se quer um relacionamento de verdade, tem que decidir o que isso significa pra você e estar disposta a abrir mão do que não cabe mais, seja lá o que for. Dá pra ter amor sendo garota de programa? Pode até ter, mas é um jogo que exige muito cuidado, clareza e maturidade emocional, senão só vai virar uma zona que não deixa espaço pra nada real crescer.

    Se você tá cansada dessa confusão, essa sensação de estar dividida, talvez seja hora de parar de tentar ter tudo ao mesmo tempo e começar a escolher. Porque tentar segurar dois mundos que puxam pra lados opostos só vai te desgastar e atrasar seu caminho.

    Quer amor? Tem que estar pronta pra amar de verdade, inteira, sem deixar espaço pra desculpas ou fuga. Quer continuar no que faz? Beleza, só não espere que o amor bate na sua porta do jeito que você sonha, enquanto seu coração fica em alerta pra sair correndo a cada encontro.

    Não é fácil, eu sei. Mas ficar nessa zona cinza só vai te deixar cada vez mais confusa, sozinha e frustrada. É hora de se decidir, se valorizar de verdade e parar de querer fugir do que te assusta inclusive da sua própria verdade.

    1. Bom comentário, serve pra vida geral.

      Lembro até de uma frase, acho que é de Joseph Campbell, que diz: “Às vezes é na caverna escura que você tanto teme entrar, que encontrará o tesouro que tanto procura.” Ou seja, se a pessoa realmente quer algo, deverá enfrentar os medos, riscos e sensação de insegurança que vem junto do alcançar o que tanto deseja.
      Como vc disse, não é fácil, mas se é o que a pessoa deseja, terá de arriscar e abrir de mão de algo, sacrificar coisas, e acrescento: quando não escolhemos, estamos fazendo uma escolha e a vida, por si e naturalmente, fará o direcionamento. E bem, o direcionamento pode não ser nada bom no final.

  4. Respeitosamente peço licença para discordar de meus colegas leitores, em que pese a eloquência dos argumentos.
    Primeiro, mesmo que o rapaz tenha ficado ofendidíssimo pela questão da avó, ou que houvesse outra mulher na parada, nada justifica não dar nenhuma satisfação para a mulher com quem estava saindo, nem que fosse para manifestar insatisfação. É sempre uma atitude covarde ou imatura.
    No mais, parece-me que estamos puxando muito para grandes questões de estilo de vida, moral e escolhas existenciais em cima de um caso concreto relativamente simples em que o menino se acovardou e sumiu. Infelizmente esses são corriqueiros e devem acontecer com médica, advogada, veterinária, confeiteira, monogâmica, poligâmica, hetero, homo, não-cis, etc.
    Os srs. me desculpem, mas estão jogando nela a culpa da covardia do menino, como se a profissão dela atraísse desgraças cósmicas ou algo assim.
    Não está escrito em nenhum lugar que gp não possa ser cortejada, namorada, amada, por um cara que saiba ou não saiba o que ela faz.
    A própria autora afirmou que separa bem as coisas, ou seja, é excelente profissional, e que automaticamente foca quando tem um interesse romântico.
    Não tenho dados, mas acho que tem muita gp que namora, homem ou mulher e que são felizes no relacionamento enquanto dura. Igual qualquer relacionamento.
    Tem casal não-monogâmico que é feliz, tem trisal que é feliz, tem mulher casada que é secretamente gp e é feliz. Tem muitos estilos de vida além do nosso em que as pessoas se realizam. Ela não é culpada por gostar do que faz e fazer bem e não é desmerecedora de afeto por isso.
    Se formos culpar a profissão ou estilo de vida por uma, duas ou uma dúzia de desilusões amorosas, não sobraria profissão ou atividade que admitisse um relacionamento feliz e saudável.
    Acredito que precisamos nos desvencilhar um pouco do que temos para nós mesmos como relacionamento ideal ou de nossas próprias inseguranças.
    TL; DR: a mina tomou um ghosting. Ela estava curtindo o moleque. Ele que sumiu. Ele não sabia o que ela fazia. Então, o que tem a ver a profissão dela com o que aconteceu ou com ela não estar aberta a relacionamento amoroso?
    Quaisquer contra-argumentos são bem-vindos, desde que se mantenha o nível civizado do debate.

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