Por dentro do que acontece…

Querido diário,

Voltei mais rápido do que eu imaginava! Hoje para dissertar sobre o processo das entrevistas de emprego, ou melhor, como é dito no meu meio profissional: audições.

Aconteceu um episódio novo desde a última postagem! Um evento MEGA incrível será lançado em setembro e há uma semana recebi as informações do casting. Cachê muuuito interessante (o dobro do que sou paga atualmente), mas também trabalha mais, muito mais. O que também não seria um problema para mim, sou jovem, saudável e com horários bastante flexíveis. Me encantei por ser uma novidade. Um evento completamente inédito, chique, porém, temporário.

Mandei meu material por e-mail, me responderam para agendar o horário da audição, que, por acaso, foi hoje! Primeira vez que vou numa audição dentro de um teatro enorme e famoso, como aquele. Ainda que o evento não for ocorrer lá, esse link entre eles passou muito um ar de credibilidade e requinte. Me agendaram para 16:30, cheguei com 12 minutos de antecedência e fui direcionada para os procedimentos de praxe nessas situações, sendo uma entrevista de emprego ou audição, as mais organizadas sempre consistem em você preencher uma ficha, anexar seu currículo (no meu meio chamado de currículo artístico) e aguardar a sua vez. Havia bastante gente. O pessoal da seleção eram muitos simpáticos, divertidos, brincalhões… ahhh eu amo o mundo das artes, dificilmente você se depara com alguém azedo.

Pela primeira vez fiz uma audição em que também tiravam foto minha lá na hora, segurando uma sulfite com o meu nome escrito em letras garrafais de canetão. Me senti na audição do programa Popstar, que passava alguns anos atrás no SBT, com aquela multidão de gente, cada uma na sua vez, sendo fotografada segurando um número. A propósito, o meu número, coincidentemente, era o mesmo do ano que eu nasci (os dois últimos números no caso). Seria esse um bom presságio? Pensei, supersticiosa.

Percebi que chamavam por grupos. Enquanto aguardava notei também como se vestir de preto nas audições é mesmo um ritual seguido à risca. Vocês sabiam disso? Isso serve para que o selecionador te veja como uma tela em branco, que ele possa ver todas as possibilidades de caracterização com o seu perfil, sem que tenha uma roupa estampada gritando, chamando mais a atenção do que você. Eu já conhecia essa singela regrinha e fui pleníssima num pretinho básico.

Eu não estava nervosa, um friozinho na barriga de leve, mas nada mais que o natural esperado para a situação. Eu já sabia como seria a logística do teste (uma amiga minha também estava participando e foi agendada mais cedo, ou seja, me passou todas as coordenadas depois, hehe). O que, em todo caso, não era uma grande novidade ou diferente do que costumava ser nas audições. Elas seguem o mesmo mecanismo.

Primeiro você apresenta uma cena individual e depois terá uma cena de improviso em grupo. Acho que isso também é comum nos empregos tradicionais, o grupo ter que criar um produto e depois vender para os selecionadores. Nesse caso eles passam um tema, nos dão pouco tempo para criar uma história e então, o pouco que foi ensaiado, vira um caos quando vai para o “ao vivo”.

Mas voltando a sala de espera. Fiquei mais de 1h aguardando. Tomei tanto cuidado de chegar no horário, mas se tivesse me atrasado, sequer seria percebido. Não me importei com a demora, tinha tirado a tarde para isso e estava mais contente pela oportunidade, do que nervosa pelo chá de cadeira. Vou poupá-los das minúcias da espera e vamos para o que interessa: Enfim chegou a vez do meu grupo!

Me devolveram a ficha que eu tinha preenchido, para que eu a levasse para o próximo selecionador que conduziria a partir dali. Olhei para ela e notei um escrito que não era meu, que dizia “grupo 11”. Questionei se mais alguém tinha alguma marcação similar e não, até que uma menina respondeu que só do lado de dentro. Abri a minha ficha e me deparei com mais uma anotação nova. Tinham escrito o que me pareceu ser uma possibilidade de personagem para mim. Se apenas com as minhas características físicas, me consideraram, imaginem quando vissem a minha cena?! Pensei, confiante e entusiasmada. Não conhecia a, talvez, personagem, designada preliminarmente, mas rapidamente pesquisei no google e gostei do que vi. ?

Ahh, deixa eu falar da minha cena para vocês! O evento que trabalho hoje e esse que me candidatei possuem a mesma temática, ou seja, é claro que eu aproveitaria o repertório da minha personagem atual. Infelizmente tive que reduzir / adaptar o monólogo para apenas um minuto, pois eles pediram cena “bem curta”, apesar de eu querer mostrar a minha cena bem completa, rs.

O grupo inteiro entrou e todos se assistiam nesse momento das cenas individuais. O meu nervosismo inicial não foi nem por eles estarem assistindo e sim pela avaliação dos selecionadores mesmo. Aliás, adivinha quem foi chamada primeiro?? ? O meu número vinha antes de todos que estavam ali. Inacreditável. Assim que o ouvi sendo chamado, junto com o meu nome, pensei: “Nossa justo eu serei a primeira?!” ??‍♀️ Geralmente nessas situações eu dou um sorrisinho sem graça, mas na mesma hora me policiei, elevei a postura, fiz cara de séria e procurei demonstrar total confiança, ainda que por dentro o coração estivesse batendo acelerado!

Tive que começar o meu texto já no auge do negócio, pois não teria tempo para o crescente da cena. No monólogo adaptado em 1 min, tratei de compilar os principais pontos da minha interpretação e consegui combinar 7 momentos de nuances potenciais, isso sem perder o sentido, mesmo pulando de uma parte para outra de repente. Fiquei bem orgulhosa dessa faceta inclusive, hehe. ?

O selecionador já tinha avisado que alguns ele poderia cortar, outros poderiam se estender, mas nada isso queria dizer se a pessoa foi bem ou mal. Então, estava ciente de que dos meus 7 elementos a mostrar, talvez nem todos fossem vistos, dependendo de ele querer ver mais um pouco ou já estar satisfeito com o que foi visto.

E lá fui eu! Respirei fundo e entrei na personagem. Mudei minha voz, meu jeito de me expressar e olhei para o vazio entre um selecionador e outro (admiro muito quem tem a ousadia de encarar a pessoa que o está avaliando, já eu prefiro olhar para o nada). Ouvi minha voz causando eco em determinadas frases e achei ótimo, mostrava que a projeção estava boa.

Confesso que no começo foi estranho. Estranho apresentar essa personagem, em específico, fora do seu habitat natural. Ali não tinha a caracterização, muito menos o cenário ou a ambientação, e as pessoas para o qual eu apresentava também não eram o público de onde costumo apresentar. Então foi estranho, como se eu levasse o meu gato para passear e ele estranhasse o lugar diferente.

Será que eles estavam a vendo com a mesma intensidade que ela costuma ser vista dentro do evento? Dos 7 elementos cênicos, consegui mostrar 6 (um percentual excelente) e até tinha me esquecido da possível interrupção, até ela acontecer. Notei também que enquanto eu apresentava, o selecionador fazia anotações. “Ai meu Deus, será que me saí bem? Será que eles gostaram?”, pensei, curiosa, enquanto me encaminhava para um ponto da sala.

Veio a segunda atriz. Achei a cena dela fraca, fiquei com a impressão que até durou menos que a minha, mas a projeção estava boa. Veio o terceiro e após a sua saída, o selecionador fez um pequeno adendo, nos relembrando da importância da projeção da voz. Não achei que os dois, que foram depois de mim, tivessem se saído mal nessa questão, então, quando o selecionador disse isso, na hora disparou um alerta em mim, de que talvez eu não tivesse projetado o suficiente, já que dois depois de mim, no meu entendimento estavam, e pelo visto, para os selecionadores não.

Foram poucos que gostei, mas o que eram bons, mandavam muito bem mesmo! Daí chegou na parte que eu menos gosto das audições: os improvisos em grupo. Segundo o selecionador, essa cena teria muito mais peso, pois eles avaliariam justamente como nos posicionamos numa situação de crise imediata, envolvendo outras pessoas, que, no caso, seriam os clientes da atração. Ele criou uma situação hipotética. Aqui ele também avaliaria as pessoas para determinado papel, cujo papel é o mesmo que eu já faço no evento que eu estou. Daí você pensa: “moleza então”, mas não. Dinâmicas em grupo são muito sabotadoras. Todo mundo quer se destacar, as falas se sobrepõem a outras, rola uma confusão cênica e você sequer tem tempo hábil para criar um roteiro. Afinal, essa é a proposta: improviso, lidar com o inesperado.

Sinto que não me saí bem nessa. Primeiro que não consegui imergir na cena proposta tão rapidamente, exigia um preparo emocional que, imediatista daquela maneira, eu não consegui acessar. Consegui me destacar? Talvez, mas acredito que não do jeito que eles queriam.

Daí me vem a seguinte reflexão: de que adianta essa logística de processo, sendo que, numa situação real de trabalho, não existiria aquele contexto?! E porque aquilo teria que ser levado em consideração, sendo que, não é porque você não foi bem ali, que você não se sairia melhor numa situação real, uma vez que não teria essa pressão de estar sendo avaliado, já tendo adquirido a devida vivência e experiência dentro do verdadeiro contexto.

Minha vontade era de falar em particular com o selecionador depois, dizer-lhe: “Olha, esse papel eu já faço, e faço muito bem, não leve esse fiasco em consideração”. Mas não tomei tal atitude, pois achei que poderia ser visto como desespero ou arrogância, por querer tentar uma conveniência em relação aos outros candidatos. Torcendo aqui para que vejam no meu currículo, rs. ??

Por sorte a cena acabou logo. Tão já eles cortaram, finalizaram a audição e informaram que a resposta sairá em dois dias. Fui embora com uma sensação que não gosto muito, a sensação de que não consegui mostrar o meu real potencial. Em testes confio quando dependo de mim mesma em cena, mas não quando dependo dos outros. Será que terei um retorno positivo?? Torçam por mim!! ??

P.S.: Depois venho aqui contar!

Um beijo! ?