The Crazy World Of Dreams

Hoje eu tive um sonho muito louco. Repleto de detalhes, fragmentos e uma duração longa, como se fosse um filme de duas horas. Ahh como eu queria poder assistir tudo aquilo de novo, sem os lapsos de memória, depois de acordada. Sabe aquele tipo de sonho que enquanto você está nele tudo está nítido, interessante, com várias mensagens, mas quando você acorda, parece só um borrão?

Eu sonhei com vários fragmentos da minha vida. Como se eu fosse uma espectadora. Misturava passado com coisas que ainda nem vivi e não seguia uma ordem cronológica.

De repente voltei no tempo para uma época em específico. Ainda morava com a minha mãe e tínhamos três cachorros. Sempre tivemos cachorros durante a minha infância inteira, mas teve um que foi o mais marcante. O que viveu mais tempo conosco, que era o mais especial de todos. Minha mãe o adotou já adulto, ele era grande, pelagem escura, uma mescla com preto e marrom, bem peludo, um olho de cada cor, intimidador, nós mesmas tínhamos um pouco de medo dele no começo.

Max foi o melhor cachorro que alguém poderia ter. Companheiro, protetor, carinhoso, ele se comunicava com a gente. Mas também era genioso. Não podia cair uma bola no nosso quintal, que ele fazia de tudo para furar. Isso nos causava muito estresse, pois morávamos ao lado de uma quadra e todo dia a bola caía. Eu dava graças a Deus quando ele furava a bola rápido, mas quando não, eu perdia um bom tempo tentando resgatá-la. Às vezes funcionava jogar alguma comida diferente da ração, mas na maioria das vezes não, ele era bem determinado e focado. Nosso cachorro era famoso para quem jogava bola na quadra, o que, infelizmente, nos fez arrumar inimizade com algumas pessoas intolerantes e mal intencionadas.

Certa vez, quando minha mãe chegou em casa do trabalho, teve uma visão assustadora. O encontrou todo machucado. Nosso cachorro tinha sido espancado dentro do próprio quintal! Como sempre a bola deve ter caído e na ausência de alguém, pularam o muro para pegar. Foi um grande choque pra gente quando aconteceu. Eu era pequena e estava na escola, sorte a minha não ter ficado com aquela imagem na cabeça. Minha mãe, que viu a cena, completamente desesperada, foi correndo atrás de alguém que tivesse um carro para levá-lo urgentemente ao veterinário.

O pobrezinho ficou internado em torno de um mês. Quebraram a sua pata, seu dente, entre outros cortes e feridas que aqueles inescrupulosos, sem alma, provocaram nele. Ninguém sabia, ninguém viu, sequer foi possível fazermos alguma justiça. Tudo por causa de uma maldita bola. O tratamento ficou uma fortuna, mas é claro que a minha mãe, mesmo sem ter muitos recursos na época, jamais mediria esforços para salvá-lo.

Mesmo depois que ele voltou para casa, precisou de cuidados diários. Levou pontos, tinham os horários certos para medicá-lo, trocar curativos, com ele sempre repousando. Não lembro quanto tempo levou para a sua completa recuperação, mas graças a Deus ele conseguiu voltar ao que era antes, tudo isso porque, além de todas as suas qualidades já mencionadas acima, ele também era muito forte.

De todos que morriam ou fugiam, Max foi o único que prevaleceu em todas as gerações de cachorros que tivemos e desde a sua morte (ele morreu anos depois, de velhice), vira e mexe sonho com ele, como se ele ainda estivesse vivo. É o tipo de sonho que sempre me faz chorar, como se fosse uma chance de matar a saudade. Desta vez não foi diferente, sonhei com ele de novo, mas também com mais dois cachorros que tivemos em determinada época. Uma das poucas vezes que tivemos três ao mesmo tempo. Eles estavam lá, no quintal da minha mãe, céu avermelhado, não havia ninguém no sonho, além deles e eu. Lhes fiz carinho, enquanto chorava completamente emocionada. Vê-los vivos, naquele contexto ilusório, me causava um efeito de que os papéis tivessem se invertido, como se eles estarem vivos fosse a realidade, enquanto suas mortes, um sonho distante.

Quando saí daquele cenário, o tempo e o espaço já tinham mudado novamente. Havia certos momentos em que parecia querer virar pesadelo, como quando me deparei com um muro, um céu preto e nada mais. Me impulsionei sobre ele para ver o que tinha além e de repente eu estava no espaço, vendo o planeta Terra lá de cima. Comecei a despencar lá do alto em direção a Terra, similar ao desenho da Disney, “Soul”, sentindo muito medo da queda, querendo fechar os olhos, mas me forçando a permanecer de olhos abertos. Uma queda infinita e sem sentido. Após alguns instantes naquela agonia, novamente o sonho mudou e eu já estava em outra situação. 

Ora voltava para o passado, ora ia para coisas do futuro, que eu nem sabia se eram premonição, fantasia ou algo que eu tivesse vivido numa vida passada. Várias cenas curtas que podiam ou não se interligar. Me vi com duas filhas, entre dez e doze anos, elas tinham idades aproximadas e uma se chamava, cujo nome eu pretendo dar a minha filha se/quando eu tiver algum dia. Algo tinha acontecido com elas, algum enigma que depois que acordei se perdeu no meu subconsciente. Desapareceram? Morreram? E o pai delas? Morreu também? Durante o sonho foi explicado o que havia acontecido para que não estivessem mais na minha vida, mas depois de acordada não consegui lembrar do seu desfecho.  

Algumas pessoas aleatórias vinham falar comigo, durante o flashback desses momentos, me trazendo mensagens mais esclarecedoras dos fatos, coisas enigmáticas, como se fosse um filme de suspense e mistério a ser desvendado, com vários fragmentos estranhos. Várias vezes parecia que ia virar pesadelo, as imagens mesclavam entre coisas boas e ruins.

Ahhh, como eu gostaria de poder rever todas aquelas imagens num videoteipe, depois de acordada, para entender melhor o sentido de tudo aquilo, se é que os sonhos possuem algum sentido. Passei por várias emoções. Chorei, tentei gritar, me assustei, fiquei feliz e sofri. As imagens se misturavam, confundiam e solucionavam. Uma mistura de aprendizado e muitas dúvidas. Às vezes a resposta vinha, às vezes não. 

O pior de tudo é que ao despertar não consegui trazer nenhuma mensagem significativa de tudo aquilo. Dentro do sonho eu tive uma forte convicção de que já havia sonhado com aquilo antes. Porém, ao acordar, a percepção mudou, se revelando um sonho completamente inédito. Se eu conseguisse me lembrar de todos os meus sonhos com todos os seus detalhes, com certeza eu já teria escrito os mais insanos roteiros de filme! ?

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3 comentários em “The Crazy World Of Dreams

  1. Simplesmente mais um ótimo relato e dessa vez você pode compartilhar um pouco dos seus sonhos! Considero um ato de intimidade, pena q não me lembro de nenhum outro sonho pra poder compartilhar contigo 🙁
    Os sonhos e o simples ato de dormir ainda são em pleno século 21 fenômenos pouco compreendidos.
    Cachorros, infância, filhos, queda livre … um belo mix que desafia a interpretação de qualquer um! Eu não me arriscaria a tentar entendê-los, mas deixo o desafio registrado aqui! ?
    Vc seria uma ótima mãe! Agora, falta encontrar um pai a altura. Ouvi dizer que é espécie praticamente em extinção, confere?! ?

  2. Já que você trocou essa intimidade conosco, por que não compartilhar?! no meu “Crazy world of dreams”, Já tive sonhos “em sequência”: sonhar a “parte 1” numa noite depois as partes 2 e 3 (kkkk), já voei pelo espaço, relembrei o passado, vivi coisas que na vida real não aconteceram (filhos), já fui piloto de F-1, jogador de futebol, já disse “I´m BATMAN!!” hahahaha! Mas sempre tive consciência que estava sonhando, e não acordado, por isso sempre tive vontade de ter um sonho lúcido, onde você controla o tema e cenário do sonho. Você gostaria de ter um? E sobre o que? Tem um filme que fala sobre isso: “Inception” do Christopher Nolan. E Já que você é muito musical, uma música que fala sobre isso, é “Silent Lucidity” do Queensryche..é uma música belíssima!

  3. Sonhei
    Que estava sonhando um sonho sonhado
    O sonho de um sonho
    Magnetizado
    As mentes abertas
    Sem bicos calados
    Juventude alerta
    Os seres alados
    Sonho meu
    Eu sonhava que sonhava
    Sonhei
    Que eu era o rei que reinava como um ser comum
    Era um por milhares, milhares por um
    Como livres raios riscando os espaços
    Transando o universo
    Limpando os mormaços
    Ai de mim
    Ai de mim que mal sonhava
    Na limpidez do espelho só vi coisas limpas
    Como uma lua redonda brilhando nas grimpas
    Um sorriso sem fúria, entre réu e juiz
    A clemência e a ternura por amor da clausura
    A prisão sem tortura, inocência feliz
    Ai meu Deus
    Falso sonho que eu sonhava
    Ai de mim
    Eu sonhei que não sonhava
    Mas sonhei
    https://m.letras.mus.br/martinho-da-vila/287490/

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