A Coach

Querido diário…

Que saudade dessas páginas…! Essa semana naveguei por você, relendo postagens antigas e senti um falta daquela satisfação em alimentá-lo. Aliás, passamos tantos momentos bons, engraçados, tensos e até melancólico juntos. Assim como ciclos se renovam, acredito que esteja na hora de te trazer novidades também! Mas claro, sem perder a sua essência das publicações. 

Desde o princípio, sempre quis ser mais do que uma acompanhante comum, sabe? Quando adentrei nesse ramo, me deparei com uma profissão completamente marginalizada pela sociedade e isso me incomodava bastante, porque no fundo eu sabia que não era sujo e indigno como muitos viam. Eu não podia falar para ninguém o que eu fazia, mesmo que fosse algo que além de pagar as minhas contas, me privilegiasse conquistar meus objetivos, porque eu sabia que a partir do momento que eu revelasse, poderiam me tratar diferente, me olhar diferente e eu não queria esse tipo de julgamento. Optei pela privacidade muito mais por uma questão de evitar polêmicas, do que por preconceito de minha parte. 

Estudei jornalismo na faculdade e para o TCC escrevi um livro reportagem sobre “O Preconceito Com A Prostituição” – ainda convidei para a minha banca uma professora que, sem nunca ter dito abertamente, eu tinha consciência de que a mesma sabia o que eu fazia, a convidando justamente para mostrar que eu era uma puta com propósito! Rs. – Acho que eu nunca contei nessas páginas sobre esse meu processo durante a faculdade, né? Pois irei contar agora! 

Trabalho de Conclusão de Curso

No meu último ano da faculdade (2018) a minha cabeça estava uma bagunça. Envolvida por um cliente casado, cujo envolvimento me atrapalhava muito como profissional e também como estudante, ele tinha muito ciúmes dos meus clientes e eu matava muitas aulas para encontrá-lo a noite. 

Quando brigávamos (o que acontecia com muita frequência) eu chegava aos prantos e atrasada em muitas aulas importantes, o que fazia com que eu estivesse ali, mas sem estar presente. Não me dediquei as aulas que mais precisava e quando começou o trabalho de preparação do TCC me vi num trio com mais duas amigas, sendo completamente levada pela correnteza. Eu não me identificava com o tema definido por uma delas (“Casamentos Inter-religiosos”), mas também não tinha a menor ideia do que eu poderia fazer. 

Quantas vezes entrei em conflito comigo mesma, pensando: “Após quatro anos de faculdade, é sobre isso que será o meu TCC?”. Eu me sentia uma inútil. Não conseguia dar um rumo para a minha vida acadêmica, não me conectava com o tema definido e ao mesmo tempo não fazia a menor ideia do que eu poderia fazer de diferente. 

Até que, numa noite, após sair de um encontro, ir para a aula e continuar refletindo sobre tal encontro, me dei conta do óbvio: O tema que eu tinha maior afinidade era o sexo! Na hora me deu um start e pensei: “É isso! Preciso falar sobre sexo!” Mas o que sobre sexo eu poderia falar, que fosse relevante para a sociedade?? Fiquei pensando, pensando, até que me ocorreu: “Eu poderia falar sobre o preconceito que a sociedade tem com a Prostituição!” Imediatamente foi como se tudo ganhasse um novo significado. Faltava apenas uma semana para a entrega do pré-projeto do TCC, no meu grupo já estava tudo encaminhado e eu me vi empolgada em começar tudo do zero. 

Cheia de dedos falei com a professora no final da aula, receosa que ela fizesse qualquer associação por eu ter tanto interesse no assunto. A nossa conversa foi melhor do que eu imaginava. Ela achou o tema relevante, polêmico e super diferente, mas não me incentivou a trocar, àquela altura do campeonato, visto que o pré projeto do meu grupo estava quase finalizado. Ela disse: “O pré-projeto de vocês já está quase pronto e tá ficando muito bom! Resta muito pouco tempo pra você recomeçar sozinha agora”. Acreditem, eu saí da mesa dela mega empolgada pela aprovação do tema, do que desestimulada pelo tempo escasso que eu tinha.  

De repente o TCC ganhou um brilho pra mim! Eu me empolguei de refazer todo o processo, ainda que até ali eu mal tivesse contribuído. Assim que cheguei em casa, toda engajada e animada por ter encontrado o meu propósito, já comecei a reescrever a justificativa, os objetivos e etc. Avisei as minhas amigas que trocaria de tema e me diverti com as suas reações espantadas, rs. O que eu tive seis meses para fazer, fiz em uma semana. Perfeito não ficou, mas ruim também não. Meu pré-projeto foi aprovado e eu estava em êxtase! 

Para o projeto final entrevistei quatro perfis específicos de clientes, de acompanhantes e estudei sobre a origem da prostituição. Tretei com a minha orientadora (nem tudo são flores), mas no dia da banca, apesar de algumas sugestões de melhorias advindas da péssima orientação que tive, consegui tirar dez! Foi muito incrível aquela sensação maravilhosa de objetivo alcançado! ?? 

Tive a minha glória com o TCC, mas não levei o projeto adiante. Quando termina você só quer curtir o fechamento daquele ciclo. Quantas e quantas vezes não iniciei a edição do meu livro reportagem, alterando para as sugestões que foram feitas e abandonei? (Quem sabe agora retomo?)

Tudo isso para dizer que desde o início eu sempre fui muito insatisfeita com a maneira como essa atividade é tratada. Não tem treinamento, preparo, você aprende tudo na raça e se tiver sorte não sairá traumatizada. A própria palavra que define a atividade é pesada, pejorativa e feia. Então cá estou eu para mudar esses conceitos e ajudar essas mulheres que querem trabalhar como acompanhante, querem ter a sua independência financeira e não sabem por onde começar.

Coaching

Como já venho falando disso há algum tempo, meu próximo livro (que está quase saindo do forno) será direcionado a essas mulheres, que querem adentrar na profissão, ou simplesmente conhecer mais sobre, agregando maior tempero as suas relações íntimas.   

Dias atrás recebi um contato pelo Instagram de um ex cliente, me solicitando uma mentoria para uma jovem que quer começar na atividade. Fui remunerada por isso, então já posso dizer que tive a minha primeira pupila! ? Conversamos por duas horas via WhatsApp e foi uma conversa muito interativa e produtiva. É uma delícia essa sensação de poder agregar conhecimento na vida de alguém. 

A minha mentoria consiste em um bate papo de pelo menos duas horas, para discutirmos tudo que é necessário para começar, desde o seu preparo psicológico até o dia a dia da profissão. 

Em nenhum momento pretendo incentivar essas meninas a entrarem nessa atividade. Quando chegarem até mim, essa decisão já terá sido tomada por elas mesmas. O meu papel é apenas instruí-las para que tenham as melhores experiências possíveis nesse meio. Mais do que apenas passar o caminho das pedras, eu quero acompanhar a evolução delas de perto. Quero que vejam em mim alguém que realmente possam contar. 

Quem sabe esse blog volte a ser mais movimentado com postagens desse tipo sobre essas novas vertentes? 

Saudades de escrever aqui…

Um beijo! ?

8 comentários em “A Coach

  1. HAHAHA,

    Estou até imaginando:

    A volta de Sara Müller… no corpo de suas pupilas ??

    Será uma legião de garotas sensíveis, educadas, carinhosas, que respeitam os clientes como seres humanos e não vendo-os apenas como uma carteira cheia de dinheiro.
    Mulheres antenadas e com objetivos na vida maior que apenas tirar proveito de sua própria beleza.

    Gostei!!!

    ❤️❤️❤️

  2. Salut sara, saiba que você deixa um vazio enorme, quando fica esse tempo todo sem escrever.
    Que bom saber que todos os seus projetos estão se encaminhando bem. Torço por você.
    Fique com Deus.

      1. Coach de gp ñ deixa de ser uma evolução da cafetina, onde a madame ensina nas novas como tratar o cliente dentro de seu casarão.
        Vc vai fazer de forma virtual, um novo meio q vc irá desbravar, já q será tudo novo e tech.
        Boa sorte

  3. Sara muito bom ver você se aventurando em novas águas e torço pra dar certo e imagino que suas pupilas serão bem instruídas. E pode deixar que independente do que você escrever, vc sabe que tem o seu público cativo aqui! Sempre bom ler o que vc escreve!

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