Maliciosa Infância

De repente lá estava eu. Com uma idade que nem lembro direito. Menos de nove e mais de cinco, provavelmente. É impossível precisar. Assistia a um filme com dragões ou fênix, taí uma outra coisa que eu queria muito descobrir. Qual o nome do filme que passava naquele inusitado momento da minha vida?

Não que me excitasse o que eu estava assistindo, pelo contrário. Estava era entediada. Deitada na minha cama olhando para a TV sem o menor interesse. Minha mãe cozinhava em outro cômodo da casa, correndo o alto risco de me flagrar num momento muito íntimo de mim comigo mesma.

Comecei a me tocar como quem não quer nada. Apenas explorando, sem a menor pretensão ou finalidade, até que as minhas mãos chegaram lá. Já tinha tocado na minha vagina antes, mas sempre durante o banho, no intuito próprio da atividade. Agora, porém, entretanto, todavia, eu me tocava de uma maneira muito mais interessante.

Eu não sabia o nome daquilo. Na verdade, nem imaginava que fosse algo inato da vida humana. Ainda tive a presunção de me considerar a versão feminina do Pedro Álvares Cabral, como se aquela descoberta fosse algo que somente eu tivesse domínio sobre ela. Me senti a pioneira. A gênia.

A maneira como eu me tocava – que surpreendentemente permaneceu igual por muitos anos, mudando abruptamente somente depois que perdi a virgindade – era muito didática. Obrigatoriamente eu precisava usar as duas mãos. Com os dedos do meio de cada mão, eu separava os grandes lábios de cada lado. E com o dedo indicador da mão direita – sou destra – tocava no clitóris com a ponta do dedo, fazendo movimentos curtos e rápidos para cima e para baixo.

Achei aquilo bom. Diferente. Emocionante. O caminho parecia incerto, mas eu sentia que ainda viria algo muito mais fantástico de tudo aquilo. O trajeto estava gostoso, mas a chegada prometia ser ainda melhor. Como realmente foi. Que explosão! Fiquei maravilhada com aquela descoberta, precisava contar para as minhas amigas!

A primeira pessoa para o qual revelei esse meu grande triunfo foi a minha prima. Eu cheguei nela e disse: “Prima, descobri uma coisa i-n-c-r-í-v-e-l! Preciso te ensinar!!!”. Depois ensinei a uma outra amiga nossa e parei por aí. Impressionante o nível de intimidade entre as mulheres, não é mesmo? Zero pudor, zero julgamento, apenas cumplicidade e respeito.

Aprendi e passei a brincar daquilo com maior frequência. Se estava com preguiça ou entediada, me masturbava pois, gozar me dava aquele UP. Se via cenas um pouco mais picantes em novelas ou filmes, novamente me masturbava pois, de alguma maneira ver aquilo era um tanto excitante. E se acidentalmente eu ouvia os meus pais transando, adivinhem? Eu também partia para o divertimento.

Siririqueira eu? Na verdade, sempre tive muita curiosidade pelo sexo. Assistia aqueles filmes do American Pie e sonhava com o dia em que seria a minha vez. Queria ser como aquelas pessoas do filme e também poder fazer sexo. Quantas vezes me masturbei  me imaginando transando com alguém, sem ter a menor ideia de como é a sensação de transar com outra pessoa. Imaginava ser algo muito parecido com o que eu estava tendo, mas numa escala ainda maior de plenitude.

A masturbação foi (e é) uma grande companheira de muitos anos. Ela tem o poder de nos proporcionar prazer quando mais ninguém o faz. É uma coisa tão sua. Não importa onde você vive, quanto você tem de dinheiro, nem se tem um trabalho ou estudo. É algo que todo mundo pode ter, contando consigo mesmo. Para mim, a masturbação simplesmente é… a definição perfeita de autonomia.

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