“O Intenso” – Parte 11

O Grande Mentiroso

– Bruxaaaaaaaa!!

– Eu bruxa? Como assim? Kkkkk.

– Amiga, já reparei isso em você. Com certeza você é! – Dizia meu amigo, Denis, cheio de convicção, enquanto eu narrava mais uma das presepadas do Intenso.

E de tanto ele falar, comecei a achar que talvez eu fosse mesmo, já que as verdades caíam no meu colo feito mágica, como um presente do universo, me dizendo: “Ei, acorda pra vida! Desperte desse feitiço, quem enfeitiça aqui é você!”

Por mais que a sua manipulação estivesse evidente, eu permanecia cega de amor, muito apaixonada, porém, mesmo “cega”, houve situações em que esse véu sofreu singelos rasgos.

A primeira situação ocorreu aquela vez, quando descobri ele conversando com a tal Maristela, narrado na Parte 8. A segunda, enquanto ele dormia ao meu lado, na minha cama, numa tarde de domingo.

SEGUNDA MENTIRA

Seu celular apitou de mensagem. Bati o olho na tela para ver se era algo de trabalho, já que para alguns clientes ele precisava estar sempre online, independente do dia ou horário. Então se fosse algum nome de empresa, eu o acordaria.

Apareceu na tela o nome: “Dr. Rafael”. Pensei: “Nossa será que ele tá com algum problema de saúde? Por que um médico entraria em contato em pleno domingo à tarde?” Lembrando que eu ainda tinha a senha do celular dele, mas não vi aquela notificação como uma ameaça, só fiquei curiosa para perguntar depois, se ele estava com algum problema médico ou planejando fazer algum procedimento. – Ele vivia falando sobre aumentar o tamanho do pênis (que já era grande), ou deixar o pau com uma consistência mais rígida (que eu também falei que não precisava, pois pau duro igual pedra machuca, gostava que o dele tivesse uma consistência mais macia), ou até mesmo fazer a cirurgia para remoção daquela pele. Me passou pela cabeça que a mensagem pudesse ter alguma relação com coisas desse tipo. 

Nesse dia ele estava muito dorminhoco, dormiu praticamente o dia inteiro, teve uma hora que até preparei um café da manhã, no intuito de despertá-lo de uma forma gentil, que ele rudemente recusou e voltou a dormir. Achei bem  grosseiro, na verdade. Tomei meu café da manhã sozinha e depois voltei a deitar com ele, também sou dorminhoca e de buchinho cheio bateu aquele soninho novamente. 

Mais tarde, quando ele começou a despertar, transamos, e ali, naquele momento de descontração pós sexo, lembrei da tal notificação. 

– Quem é Dr. Rafael? – Perguntei despretensiosamente, apenas curiosa. 

– Como assim?

– Um tal de Dr. Rafael te mandou mensagem. Quem é?

– Você mexeu no meu celular?

– Não mexi, só vi a notificação na tela e agora estou te perguntando. 

– Você mexeu no meu celular! – Em tom acusador e ali meu alerta acendeu. 

Diante da resistência dele em responder uma pergunta simples, a resposta já não me supriria mais, agora eu queria ver a mensagem com os meus próprios olhos!

– Quero ver a mensagem que ele te mandou! – Exigi. 

– Você já viu no meu celular! – Novamente me acusando, não atribuindo a minha desconfiança a sua própria postura, que levantava suspeitas.

Aquela coisa né, quem não deve, não teme. Ele temia, porque devia. 

– Eu já falei que não mexi! Você acha que se eu tivesse mexido teria essa frieza de preparar o café da manhã e ainda transar com você?! O que é que tem essa pessoa?! 

Comecei a me alterar também, pois a relutância dele em responder uma simples pergunta, me confirmava que alguma coisa tinha!

Quando eu li a mensagem…

Gente…

Sério…

… mais uma vez ele conseguiu me surpreender!

Era um textão, não me recordo de tudo que estava escrito, só lembro das partes mais marcantes:

“Espero não estar sendo inconveniente…” “Penso muito naquela noite, no seu apartamento…” “Fico lembrando do seu gemido…” “Toda vez que estou com uma mulher de quatro, fico imaginando que é você…”

C A R A L H O

Que mensagem homossexual era aquela?!

– Que porra é essa?! – Perguntei e na mesma hora ele tomou o celular da minha mão.

– Que mensagem é essa?! – Repeti a pergunta, enquanto ele continuava mudo, provavelmente tentando estruturar qual mentira me contaria. 

– Anda, responde!! – Eu não queria dar tempo pra ele pensar em nada, mas continuava calado, com seu cérebro fritando em busca de uma rápida justificativa plausível.

Daí ele se fez de ofendido com a minha pergunta e se levantou da cama, com movimentos rápidos, começando a arrumar suas coisas para ir embora. Uma estratégia astuta para tirar o foco da minha pergunta, enquanto ele ganhava tempo para pensar em algo. Quando ele estava prestes a sair pela porta, fiz uma última inquisição:

– Sério que você prefere ir embora do que me contar a verdade?

– Você não está me deixando falar. 

Oi??? Como eu não estava o deixando falar, se justamente lhe exigia uma resposta?! Até nisso ele manipulava!

– Só está me pressionando, toda julgadora.

– Te pressionando? Eu só quero a verdade! 

– A gente fez um ménage com outra mulher.

– Não, isso não tá com cara de ménage, e sim algo só entre vocês dois! 

– Tá vendo? Você não quer ouvir o que eu tenho a dizer. Já está fazendo conjecturas a meu respeito.

– Não estou fazendo conjecturas, estou trabalhando com as provas que tenho, vamos reler a mensagem juntos?

– Mas não era, tinha uma mulher junto. 

– Ele disse que ficou pensando no seu gemido!

– Você sabe os barulhos que eu faço quando tô gozando, ele tá se referindo a isso.

– E ele disse que foi no seu apartamento! Você me disse que nunca levou nenhum rolinho pra dentro da sua casa!

– Era o apartamento do Ciclano. – Mentindo sobre a época em que ele morou de favor com aquele casal que eu conheci, quando ele se mudou pra Campinas, sem muitos recursos. 

Na hora até engoli essa história de não ter sido no apartamento dele, mas em outro conflito futuro, me dei conta que era mentira, pois ele era polido demais pra fazer esse tipo de baguncinha no apartamento de outra pessoa. E futuramente ele confessou que tinha mentido nessa parte mesmo (não só nessa, né meus amores?), por não querer piorar a situação naquele momento. 

*

Sempre que ele mentia pra mim, outras situações linkavam na minha cabeça, como quando uma vez ele me disse que sua diarista tinha falado “A ‘Maria’ veio aqui no fim de semana, né?”, quando ela “achou” uma xuxinha minha, sendo que semanas depois, quando calhou de eu conhecê-la, – numa noite em que ela precisou me receber por ele estar no barbeiro -, conversando com ela, me dei conta que até aquele momento ela sequer sabia da minha existência, logo, como ela poderia ter comentado com ele, sobre a minha xuxinha perdida?

– Mas não fala pra ele não, por favor. – Ela me pediu discrição, ao constatarmos juntas a mentira. 

– Claro, fique tranquila. 

Tinha sido uma mentirinha boba, que naquele momento interpretei como uma tentativa de me dar uma certa importância, me fazendo sentir mais especial, quando agora, diante dos novos fatos, vejo como tinha sido só mais uma de suas manipulações perversas. 

*

Mas voltando a história do Dr. Rafael, segundo o que me contou, era um ‘conhecido’ que fez ménage uma única vez, e que sempre esse Dr. lhe enviava mensagem tentando ajeitar outro ménage com mulheres do seu trabalho.

– Onde vocês se conheceram?

– No sexlog. – Para quem não sabe, é um site/rede social de putaria, onde pessoas se conectam para viver “aventuras sexuais”. – Conheci esse Rafael através de lá, fizemos amizade e aí ele ajeitou esse ménage pra gente. Mas eu percebi um comportamento dele estranho comigo, por isso mesmo que não saímos mais e ele tá sempre insistindo. 

– Quando foi isso?

– Sete anos atrás. 

Nesse momento eu ri. Ele realmente subestimava a minha inteligência.

– Para vai, ele não ia tá no seu pé até hoje de algo que aconteceu sete anos atrás!

– Mas foi isso mesmo!

– Deixa eu ver uma coisa no seu celular.

Ele me passou o aparelho, voltei na conversa deles e voltei até o início. Aquilo tinha se iniciado em 2024.

– Ué cadê as conversas de 7 anos atrás? 

– Eu apaguei né, não era uma pessoa que eu tinha interesse de ficar mantendo a conversa. – Manter a conversa ou provas contra si mesmo?

Comecei a ler tudo desde o ano passado e algumas coisas encaixaram com o que ele disse. Esse Dr. Rafael sempre tentava um novo encontro, falando de alguma enfermeira gostosa que tinha entrado no seu trabalho e muitas vezes até cobrando uma atenção do Intenso, com frases como: “Dá uma atenção pro seu amigo aqui” ou “Você anda muito ocupado hein”. Fora as várias mensagens em que ficou no vácuo ou respondido de forma genérica, sem muita empolgação por parte do Intenso. 

– Porque você ainda mantém contato com ele, se não é uma pessoa que vc gostaria de sair de novo?

– Só porque ele é médico, vai que em algum momento eu precise de alguma coisa dele?

Enfim, eu acreditei nele. Acreditei desconfiando, algumas justificativas batiam com o que vi nas mensagens, mas é claro que achei estranho alguém insistir tanto em algo que tinha acontecido tantos anos atrás, duvidava que aquilo estivesse tão no passado assim. Mas relevei, se ele mentia sobre o tempo, imaginei que fosse por sentir alguma vergonha e apesar dos seus traços bissexuais que, aos poucos, foi me trazendo, eu tinha mais ciúmes de mulher do que de homem. Percebi que não me senti tão mal como quando descobri dele conversando com aquela menina, ou também eu que já estivesse ficando mais calejada. 

– Eu quero que você bloqueei esse cara e apague o contato dele. – Ordenei.

– Farei agora mesmo.

– Mas antes quero que você responda, dizendo que foi inconveniente sim, pois A SUA NAMORADA viu e não gostou.

Ele fez na minha frente, sem pestanejar. Disse ao cara que eu tinha visto, que interpretei da pior maneira possível, não entendendo que tinha uma mulher com eles e pediu para nunca mais ser incomodado. O tal Dr. só respondeu com “desculpe”, e na sequência já foi bloqueado e deletado. 

Hoje me arrependo um pouco dessa postura, poderia tê-lo feito levar a conversa adiante, pra ver o que mais eu descobriria daquela noite deles, mas na hora nem me ocorreu seguir por essa linha investigativa, eu só queria cortar o mal pela raiz. 

O Intenso ficou extremamente sem graça pelo ocorrido, me pedindo desculpas pelo desenrolar da situação, mas procurei tranquilizá-lo, dizendo que estava tudo bem, afinal, se eu tinha escolhido acreditar na história dele, não tinha porque continuar naquele clima. 

TERCEIRA MENTIRA

Agora corta para a terceira situação, novamente envolvendo um homem, não sei quantos dias, semanas ou meses depois.

Estávamos na sua casa, finalizando um jantar fitness com muita salada, que ele gostosamente preparou pra gente, quando entrou no assunto sobre como era bom ter essas liberdades comigo, de ser quem ele era (bissexual), sem máscaras, trazendo até meus clientes como exemplo, sobre eles não terem essa cumplicidade com suas esposas e por isso buscarem os meus serviços. 

Daí trouxe também como exemplo um outro ‘amigo’, um tal de Marcelo – outra amizade advinda do sexlog – que por acaso ele estava combinando de tomar um café, para finalmente se conhecerem, na sexta-feira daquela próxima semana, em que ele estaria na minha casa e iria aproveitar enquanto eu estivesse na faculdade, pela manhã, para encontrar esse tal amigo. Cujo encontro ele já tinha pedido a minha autorização, me trazendo seu interesse de “pura amizade”. Quando ele tocou no nome desse Marcelo, minha bruxaria foi ativada e lembrei de uma vez que ele me contou de um cara que era anestesista no Einstein, que ele desconfiava curtir homens, por já ter dado em cima dele.

– Esse não é aquele cara que você me falou uma vez, que dava em cima de você?

– Não lembro de ter te falado isso. Acho que não.

– Deixa eu ver o Instagram dele. 

Comecei a zapear as fotos e me recordei com mais clareza, pois esse cara tinha uma foto com seu filho, este de cabelo verde, e aquele cabelo verde da criança foi bem marcante pra mim.

– É ele mesmo! Lembro desse cabelo verde! Você tinha me falado que ele ficava tentando te chamar pra tomar um café, sempre que você estava em São Paulo, e que você desconfiava dele ser bi. 

O Intenso continuou se fazendo de sonso, o que imediatamente fez o meu alerta disparar mais uma vez!

Fui para as conversas deles na DM e só tinha uma interação recente no story. Ou seja, ele tinha apagado as conversas anteriores e se apagou era pra esconder algo! 

– Vocês conversam pelo WhatsApp? – Questionei.

– Não, nem tenho ele no WhatsApp. 

– Deixa eu ver. – Nisso ele já tomou o celular da minha mão novamente. 

– Entra nas conversas do WhatsApp e busca pelo nome dele. – Exigi, já em pé do lado dele. 

Ele o fez, repetindo que não tinha ele no WhatsApp. Quando escreveu “Marcelo”, apareceram alguns, mas fui certeira em um que estava muito com cara de fake, “Marcelo SP” e a foto de um pôr do sol.

– Clica nesse pra eu ver. 

Batata! Era o dito cujo. Comecei a ler e conforme eu me exaltava com o que lia, o Intenso novamente tomou o celular da minha mão, não me deixando continuar investigando.

– POR QUE VOCÊ MENTE PRA MIM?! – Comecei a chorar de desgosto.

Outra mentira.

Outra decepção.

– Não estou mentindo.

– PARA DE ME TRATAR COMO IDIOTA! Está tudo aí, você sabe que tá!! QUERO QUE ME RESPONDA POR QUE VOCÊ MENTE PRA MIM?! 

Fiquei repetindo inúmeras vezes essa pergunta, sem nenhuma resposta. Ele se comportou igual quando eu li as conversas do Dr. Rafael: se calou, igual um réu que fica em silêncio pois qualquer coisa dita pode e será usado contra ele. 

Cara, eu era tão de boa com a bissexualidade dele, falávamos putaria durante o sexo, envolvendo outros caras, já combinávamos sobre fazer ménage com um outro amigo dele, já tínhamos feito brincadeiras com o cu dele, não tinha razões para esconder algo de mim. Quando rolou aquele lance com a Maristela, ainda perguntei se ele queria abrir a relação, e ele reforçou que não, que se completava com uma pessoa só, que tinha sido uma situação isolada. Por que mentia, então?!

– POR QUE VOCÊ MENTE PRA MIM?! – Repetia completamente histérica.

– Não vou te responder enquanto você estiver nesse estado alterada. 

– EU SÓ VOU ME ACALMAR QUANDO VOCÊ ME RESPONDER! POR QUE FICOU SE FAZENDO DE DESENTENDIDO, FINGINDO NÃO LEMBRAR QUE ERA O CARA E MENTINDO QUE NÃO TINHAM CONVERSAS NO WHATSAPP?? E POR QUE IA ENCONTRAR ESSE CARA, SABENDO QUE ELE ESTÁ A FIM DE VOCÊ?!

– Dá pra você falar baixo?

– TÁ COM MEDO DOS SEUS VIZINHOS OUVIREM QUE VOCÊ É BISSEXUAL?! – Baixou a barraqueira em mim. Incrível como algumas pessoas conseguem despertar o nosso pior.

– Não sabe ter uma conversa sem se alterar? 

– E VOCÊ NÃO SABE TER UMA CONVERSA SEM MENTIR?!

– Dá pra falar baixo? Você está na minha casa! 

Isso foi um soco no meu estômago. 

– Ahhh sua casa?! – Ironizei. – A casa que iríamos “morar juntos”, agora é a “SUA casa?” – Continuei com desdém.

Daí ele se levantou e veio pra bem perto de mim, falando colado na minha cara, num tom ameaçador, como se quisesse me botar medo.

– Você é barraqueira então? Não sabe falar baixo?

Naquele momento fiquei com a sensação de que se eu empurrasse ele, partiríamos para uma agressão física. 

– Está chegando perto de mim, por quê?!  – Rebati sem demonstrar intimidação, no entanto, dando dois passos pra trás. 

– Olha como você sabe falar baixo. É tão difícil assim?

– SE VOCÊ NÃO ME RESPONDER EU VOU EMBORA.

– Então pode ir. – Estupidamente calmo e tranquilo, sem qualquer resquício de culpa.

Fui imediatamente para o quarto, arrumar as minhas coisas. Porém, temos um agravante aqui, nesse final de semana em específico, eu tinha levado uma mala enorme de 32kg cheia de roupas pra lá. Como estávamos avançando nos planos de morarmos juntos em janeiro, eu tinha começado a levar algumas roupas, até para testar se caberia, pois suspeitava que o espaço seria pequeno, mesmo ele insistindo que daria. Então eu abri a minha mala e quando olhei para todas aquelas roupas, já acomodadas no guarda-roupa, senti uma enorme exaustão e voltei pra sala, a fim de retomar a discussão, pois preferia me resolver com ele a dirigir por 1:30 até São Paulo, de sangue quente, tarde da noite.

– É sério que você vai preferir me deixar ir embora do que me mostrar o que estou te pedindo e se resolver comigo?! – Eu queria que ele me deixasse continuar vendo as mensagens no seu celular, já que ele tinha me interrompido, quando comecei a ficar alterada com as coisas que eu estava lendo. 

– Você já viu.

– Eu não vi tudo! Da mesma forma que eu deixei você ver todas as minhas conversas com Fulano – um cliente fixo meu que ele morria de ciúmes e que me fez parar de sair – eu também tenho o direito de ver as suas mensagens com esse cara! EU TAMBÉM TENHO ESSE DIREITO! – Enfatizei.

Daí ele deixou. 

– Eu não acredito que você namorou com a Bruna!! Você tinha me dito que era só uma ficante de quatro meses!

– Mas foi isso mesmo.

– Não! Aqui você disse pra ele que era sua NAMORADA e que namoraram por 6 meses! Pra mim você ficava se fazendo de desentendido com a real duração.

– Eu arredondei pra ele e falei que era namorada pra passar mais credibilidade de fazermos alguma coisa a três ou troca de casal. 

Mas nas mensagens aquele Marcelo não demonstrava nenhum interesse em fazer algo a três ou a quatro, pelo contrário, já tinha sido claro que sua esposa não curtia, e quando o Intenso trazia sobre fazerem algo com a Bruna, o Marcelo não embarcava. Estava nítido que o interesse dele era em algo sozinho com o Intenso. 

– Por que você queria encontrar esse cara?

– Pra fazer amizade, eu já te falei. Você tem o Denis, tem seus amigos, rede de apoio, eu não tenho ninguém. 

Por que será, né?

– Você só consegue fazer amigos nesses sites de putaria?

Daí ele se fez de magoado, como se eu tivesse dizendo que ele só sabia fazer amigos assim. 

– Você entendeu muito bem o que eu quis dizer. Não estou dizendo que você SÓ é capaz de fazer amigos assim, estou justamente perguntando por que você só busca amizades dessa forma?!

– Eu não saio muito, é a forma que encontrei de fazer amizades sendo eu mesmo, sem máscaras.

– Por que você ia encontrar esse cara sabendo que ele tá a fim de você?

– Eu não percebi isso. 

– Como não?! Você mesmo já me disse isso uma vez!

– Eu desconfiava, mas levei pro lado da amizade, fui muito ingênuo. 

Ingênuo ele era de achar que eu iria cair naquele papinho. 

– Ele disse na mensagem: “se você quiser vir pra tomarmos um café, mas pode ser que não role nada”, o que você interpretou disso, afinal?!

– Interpretei que ele queria tomar um café.

– Não né! Quando a pessoa diz “pode ser que não role nada”, o que você acha que poderia rolar?

– Sei lá, alinharmos sobre ménage ou troca de casal.

– Para! Já estava claro que ele não queria nada disso! Você sabe muito bem que essa frase não quer dizer isso.

– Quer dizer o que? O que você acha que faríamos de manhã, durante um café? Ir pra motel?

– Mas é claro!

– Eu já te falei que não tenho interesse em fazer nada com homens, sozinho. Meu interesse é ter interações no momento da baguncinha somente. Jamais sairia com um homem sozinho.

MENTIROSO!

– Então por que estava marcando um café com ele, sendo que eu acabei de te trazer o visível interesse dele somente em você?! 

Daí ele quis tentar uma outra tática, dizendo que estava pensando em nós, em viabilizar uma brincadeira a três. 

– Você perguntou pra mim se eu queria algo com esse cara? Se eu me senti atraída por ele?

– Eu ia primeiro falar com ele.

– Não, primeiro você teria que falar comigo. Se o seu intuito era esse, de que adiantaria falar com ele, se eu não estivesse interessada?! 

– Você tem razão, agi errado. 

Eu que agi errado de passar por cima disso e ainda assim ter continuado com ele. 

Enfim, novamente o fiz bloquear a pessoa e deletar o contato. Eu sei, eu sei, podem se indignar, eu também estou muito indignada enquanto escrevo. 

Dormimos brigados. Eu dormi no quarto de hóspedes e ele na sala, nenhum dos dois quis dormir sozinho na mesma cama que dormíamos juntos. 

No dia seguinte, após ter uma noite extremamente mal dormida, acordei e fui me deitar com ele, sem dizer uma palavra. Ele me abraçou e transamos.

Eu precisava urgentemente parar de deixar ele me levar no papo, através do sexo.

Mas o universo não desistiu de mim. As verdades continuaram a cair no meu colo, se encaminhando para fatos cada vez mais incontestáveis.

Novas decepções.

Novos ataques por conta do meu trabalho.

O cara vivia me diminuindo e também não era nenhum exemplo de lealdade. A conta não estava fechando.

Mas calma, que o pior ainda está por vir!

“O Intenso” – Parte 10

Viagem para Ilhabela

Querido diário,

Mais uma vez fui envolvida na teia dele.

Eis a nossa terceira viagem juntos.

Ele alugou um contêiner praticamente dentro da floresta, uma proposta muito mais interessante e romântica do que um hotel luxuoso, adorei! Tinha uma sala e uma mini cozinha no andar de baixo e subindo as escadas, a suíte e uma mini varanda com banheira. E uma peculiaridade que não pode deixar de ser citada: tanto o quarto, quanto a sala, tinham paredes de vidro! Ou seja, nossa cama ficava exposta para o lado de fora, virada para a rua, e a sala podia ser vista pelos outros dois contêineres que continham no mesmo local. Nessa viagem descobri mais uma camada do Intenso: Ele é exibicionista.

Após acomodarmos nossas coisas, abrimos uma garrafa de vinho, coloquei minha playlist de músicas sensuais para tocar e nos acomodamos no sofá, onde iniciamos deliciosas preliminares. Como vínhamos de dias conflitantes, aquele sexo foi providencial. Sexy e provocativo. Novamente ele não foi direto ao ponto, ficou naquele joguinho de sedução até me deixar completamente molhada, tão excitada, que nem foi preciso o gelzinho, mesmo o pau dele sendo grande e grosso. Me chupou deliciosamente, retribui o gesto (até rendeu um vídeo excitante lá no meu clubinho) e então implorei que me comesse, ele sabe provocar como ninguém. Foi uma das nossas melhores transas. Tinha desejo, romance e no final rolou até um fetiche!

Vou revelar aqui algo completamente inédito sobre mim, tenho um fetiche muito peculiar, que é tesão com estupro. Não que eu queira ser estuprada de verdade, Deus me livre! Mas fantasiar que estou sendo me dá bastante tesão e o Intenso também curtia realizar, não era a primeira vez que explorávamos isso. Então, em determinado momento da transa, ele foi conduzindo para como se fosse algo forçado e eu fui junto na interpretação, até mesmo tentando empurrá-lo com as minhas pernas, como se, essa devassa que vos fala, não estivesse gostando. Me masturbei durante o sexo e gozei deliciosamente assim.

Uma vez, conversando, ele já tinha proposto de fazermos algo mais elaborado, como se fosse um sequestro, com direito até a revólver, me transportar em porta-malas de carro, e tudo isso mediante a segurança de um contrato, mas acabei não seguindo adiante, me pareceu “verdadeiro” demais, gosto quando estou num ambiente seguro.

Depois que transamos e gozamos, ficamos deitados no sofá, ainda pelados, curtindo aquela vibe pós sexo. Daí, em algum momento, começou a rolar uma movimentação no terceiro contêiner e foi nesse momento que percebi seu lado exibicionista, pois não se intimidou que pudesse ser visto completamente nu, continuando tranquilamente onde estava. Acabei ficando junto, ainda que um pouco tímida com tal possibilidade de ser vista sem roupa por estranhos, sem ser numa situação de trabalho. Senti que ele queria, talvez, facilitar uma situação de troca de casais organicamente.

Não fomos vistos pelo casal do terceiro contêiner (felizmente) e então começamos a nos arrumar para o jantar. Nessa noite fomos num restaurante muito gostoso, que infelizmente não me recordo o nome, ficava dentro de um hotel. Pedimos o carro chefe da casa, que era camarão ao molho, servido dentro de um abacaxi.

E ali, naquela mesa de restaurante com uma vista linda, o Intenso fez altas declarações, dizendo que sentiu muito a minha falta, que era apaixonado por mim, que queria construir uma vida ao meu lado, todas as frases mais lindas e românticas que você pode imaginar. Eu ainda mantinha uma pulguinha atrás da orelha, um lado meu queria acreditar, estava aberta a isso, mas outro continuava cético, o vendo como um grande conquistador cheio de lábia.

– E quando iremos oficializar? – Aproveitei aquela chuva de declarações para trazer algo mais concreto.

– Era pra ter sido semana passada, quando fôssemos fazer aquela viagem com a sua mãe.

– Ah ta. Kkkkk. – Muito conveniente ele se apoiar num evento que sequer aconteceu.

*

Quando tivemos aquele day use em Brotas, eu comentei que minha mãe iria adorar aquele lugar, e aí ele ofereceu de voltarmos no aniversário dela. Porém, aconteceu aquela situação que vocês leram na parte 8 e ficamos duas semanas afastados, calhando com o fim de semana de aniversário da minha mãe. Olhando para trás com a sabedoria de hoje, até acho que o conflito que ele criou foi proposital para eximi-lo de uma programação que no fundo ele acharia chata e que só propôs para me impressionar naquele momento.

*

Voltando para a noite do jantar, ele se levantou para ir falar com o garçom e a tonta aqui pensou que ele estivesse tramando alguma surpresa, visto todas as declarações que ele estava fazendo, mas quando voltou e viu a minha cara de expectativa, brincou com um balde de água fria, dizendo que não era o que eu estava pensando e que ele só foi pedir uma coca, finalizando com uma risada. Levei na brincadeira e dei risada também, mas fala sério, qual a necessidade em debochar disso?

Mais tarde, de volta ao nosso cafofo envidraçado, deixamos a banheira enchendo e aquecendo, enquanto fomos brincar na cama. A luz do quarto estava apagada, mas como tal contêiner ficava no topo de uma ladeira, qualquer carro que subia, involuntariamente, iluminava a nossa cama com as luzes do carro.

E sempre que nos viam na atividade, piscavam os faróis, nos dando um aviso, como se só tivéssemos sido descuidados e não que aquele show erótico tivesse sido premeditado, rs. Teve um cara que até parou o carro e desceu, fingindo ir fazer xixi, mas o Intenso levou na malícia, dizendo que tal motorista estava se masturbando, já que ele ficou de costas para nós, mas se virando para espiar algumas vezes. A aventura voyer não durou muito tempo, pois dali a pouco veio outro carro e o que tinha parado no meio da rua, precisou voltar para o seu posto e seguir viagem.

Depois que a banheira terminou de aquecer os seus 38 graus, entramos e ali tivemos mais um momento delicioso. Ao som de “Surreal” da Luiza Sonza…

Fiz uma massagem tântrica nele, dentro da água, massageando a região pouco abaixo das bolas.

– Você pode fazer de novo isso que estava fazendo? – Ele pediu, quando interrompi ao término da música.

– Claro! – Até coloquei o som no repete, pra manter o mesmo clima.

Após um tempo, ele gozou sem ejacular. Ficou admirado por vivenciar isso.

*

No dia seguinte, fomos tomar café da manhã num lugar muito gostosinho a beira mar, já com as vestes de banho, para emendarmos a praia na sequência. E enquanto estávamos nessa lanchonete, ocorreram duas situações peculiares.

A primeira foi quando surgiu um menininho, de uns dez anos, vendendo trufa. O Intenso, educadamente, recusou, e enquanto o menino se afastava, comentei que gostava de trufa.

– Mas não sabemos a procedência desse chocolate. – Ele analisou.

– Que procedência você acha que teria? Com certeza deve ter sido feito pela mãe dele.

Nisso o Intenso ficou pensativo e então chamou o menino de volta. Perguntou quem tinha feito as trufas, e o garotinho respondeu que ele trabalhava para alguém, ou seja, não era uma simples criança vendendo na praia as trufas feitas pela mãe, como eu tinha imaginado. Daí o Intenso ficou interessado na causa da criança e perguntou por que ele trabalhava vendendo trufas. O menino compartilhou que queria juntar dinheiro para poder entrar num clube de futebol e ter aulas. O Intenso seguiu interessado e perguntou de quanto ele precisava para atingir esse sonho. Não me recordo o valor dito, mas quando o Intenso foi pagar pela trufa de R$ 1,50, lhe fez um pix de R$ 300 (segundo o que me disse, não vi o comprovante), e quando virou a tela do celular para que o garotinho checasse que foi efetuado a transferência, a reação do menino foi de total espanto, como se o Intenso tivesse lhe transferido uma fortuna.

– Eu não acredito! – O menino exclamou espantado.

*

A outra situação já não foi tão benfeitora assim, me senti desconfortável com determinada situação e trouxe à tona ali o meu desconforto. Eu já tinha reparado um comportamento um tanto deselegante no Intenso, toda vez que estávamos em público, principalmente em mesas de restaurante. Ele tinha o péssimo hábito de encarar as pessoas – que ele julgava interessantes – de outras mesas. Na primeira vez que isso aconteceu, ele atribuiu ao fato de estar incomodado que o rapaz da mesa ao lado estivesse me paquerando, mas na verdade ele que sempre ficava reparando nas pessoas, encarando-as de volta. Nesse dia, havia um casal muito bonito na mesa atrás de mim. Eles estavam acompanhados de uma senhora que deduzimos ser a sogra de um dos dois. Teve um momento que o Intenso mal olhava pra mim, que estava na frente dele, e só ficava com o olhar nessa outra mesa. Somando todas as outras vezes em que reparei este comportamento, desta vez chamei sua atenção.

– Nossa tá tão interessante assim na outra mesa pra você não tirar os olhos?

Como um bom manipulador, fez parecer que eu que estava exagerando e até trouxe um holofote para o meu tom de voz, dizendo que eu não precisava falar alto e que era importante olharmos para o que realmente estava me incomodando, como se tivesse algo por trás do óbvio. Novamente me pareceu que ele queria viabilizar uma troca de casais organicamente, já que me explicou que existe um código entre homens, que se for rolar algo do tipo, essa comunicação é feita através de olhares, quando o outro corresponde a encarada.

– É mas se a pessoa não estiver a fim, você estará sendo inconveniente, encarando as pessoas desse jeito. – Argumentei.

– Isso te incomoda?

– Me incomoda a pessoa que está comigo ficar mais atenta a mesa do lado do que na nossa própria conversa.

– Entendi. Vou me policiar com isso.

*

Depois fomos para a praia. Acomodamos nossas coisas numa mesa, bebi um drink, ele uma cerveja e então pedimos para uma família que estava ao lado, por gentileza, olhar as nossas coisas para que pudéssemos entrar na água. Infelizmente estava gelada, não tivemos coragem de entrar totalmente e ficamos só andando pela orla. Em algum ponto da caminhada, nos deparamos com outro casal minimamente interessante, e ele quis se demorar por ali, novamente tentando sua estratégia de contato visual, sem sucesso, o outro casal não entendeu ou não estavam a fim – suspeito que sequer perceberam as suas intenções, visto que pessoas comuns não vão para a praia com esse intuito. – Imagino eu.

A noite fomos jantar em outro restaurante alto nível, chamado “Casa Natu”, que ficava dentro do hotel mais caro de Ilhabela: DPNY Beach Hotel & SPA. O lugar era lindo, mas gostamos mais da comida do restaurante da noite anterior.

Antes de irmos embora, fomos dar uma volta na área da piscina do hotel, onde até fiz umas fotos, mas acabei não postando, vou trazer abaixo pra vocês. Já ele, postou essa foto com a vista no seu story, marcando a localização do lugar, visivelmente querendo fazer parecer que estava hospedado ali.

Depois que voltamos para o nosso contêiner, tivemos uma nova situação conflitante, envolvendo meu perfil do Tiktok. Comentei que eu tinha gravado vídeos contando do Intenso e ele ficou curioso para assistir. Daí, enquanto víamos o primeiro vídeo, ele se incomodou com a minha fala sobre no nosso primeiro encontro eu ter acionado o carisma da Sara e ali não ter sido eu, mas a “Sara” a sair com ele.

– Não era você ali! Eu me apaixonei por uma garota de programa.

Indignado, como se isso fosse um crime, uma vergonha.

– Tá tudo bem?

– Estou processando tudo isso.

Nem quis continuar assistindo. Mas ao contrário das outras vezes em que ele criava conflitos, desta vez eu não me preocupei em cavucar o assunto até que ficasse tudo bem e simplesmente fomos dormir com aquele clima estranho.

Na manhã seguinte, me surpreendi com ele me abraçando, demonstrando estar tudo bem de novo. Nada como uma boa noite de sono. Logo desenrolamos uma deliciosa transa matinal.

Ficamos na cama durante a manhã inteira, tinha chovido fortemente de madrugada, ocasionando numa queda de energia elétrica e o dia não estava nada convidativo, frio e chuvoso. Só saímos para almoçar e durante tal almoço ele trouxe na mesa sobre morarmos juntos.

– Você moraria comigo em Campinas?

Fui pega de surpresa, mas respondi que sim, afinal, eventualmente quando eu parasse de atender e fôssemos dar esse passo, faria mais sentido eu me mudar, visto que seu apartamento era bem maior e ele precisaria continuar morando perto do trabalho. Eu já tinha começado a faculdade de psicologia, – que a propósito foi ideia dele, para que, futuramente, quando eu não exercesse mais o meu trabalho com encontros, eu pudesse aproveitar toda a minha bagagem profissional, vindo a ser uma terapeuta sexual ou sexóloga, o que achei genial, sempre me interessei por psicologia – então ele acrescentou que eu poderia estudar na melhor faculdade de Campinas, que ele pagaria e a partir dali até assumiu o compromisso de pagar a minha faculdade desde agora.

– E você poderia trabalhar comigo, seria minha secretária.

– Mas como eu vou fazer algo que você faz, se você fez anos de faculdade para isso?

– Eu vou te ensinar exatamente o que precisa, direto ao ponto, na faculdade você aprende muita coisa que nem usa.

Segundo ele, eu teria um salário de R$ 6k, muito inferior à minha renda de hoje, mas achei plausível, considerando que até lá eu já teria quitado meus financiamentos, reduzido meus gastos e padrão de vida, um cenário até mais promissor do que quando parei para ir morar com o meu ex, que não me ofereceu nenhuma condição de trabalho para que eu tivesse alguma renda. E somaria também com a minha receita do OnlyFans, já que os conteúdos online acordamos que eu continuaria.

Fiquei muito tocada que ele já estivesse visualizando um futuro comigo, com uma pessoa que ele sequer ainda tinha pedido em namoro.

Viagem para Ribeirão Preto

Ele foi convidado para um evento importante de um escritório de advocacia em Ribeirão Preto, que ele presta serviço. Seria uma comemoração de aniversário da empresa, em que eles reuniriam todos os seus clientes numa casa de fazenda para falar das conquistas, dos números, enfim, uma forma de manter a boa relação com os clientes, lhes proporcionando um evento requintado com direito a comes e bebes, mimos e banda ao vivo. O Intenso disse que só iria se eu topasse ir com ele, pois não queria ir sozinho, já que ganhou dois convites. Achei aquilo o máximo, vi com bons olhos ele querer me incluir nas coisas do seu trabalho e ser visto ao meu lado, claro que topei.

Porém, no dia dessa viagem, lá estávamos nós enfrentando outro conflito, novamente ocasionado por ele. Seu incômodo da vez era com os meus conteúdos em colab com o Gabespec dentro do meu OnlyFans. Quem me acompanha no meu clubinho, sabe que tenho vídeos transando com o Gabe, que vendo dentro da plataforma para quem quer um conteúdo mais explícito. Ele queria que eu deletasse tais vídeos. Que ele, sendo meu namorado (namorado esse que ainda nem tinha oficializado), não se sentia confortável em saber que tinham vídeos na internet da namorada dele transando com outra pessoa, como se fosse uma atriz pornô. Claro que me impus, ofereci um meio termo. Falei que poderia não utilizar mais tais vídeos, mas deletar somente depois que fôssemos morar juntos. Eu que não ia perder os meus vídeos por uma relação que eu sequer tinha garantias que daria certo. Fomos para a viagem com um clima meio bosta, pois, por eu não ter cedido a vontade dele, emburrou a cara e seguimos em silêncio no carro.

De repente ele tocou no assunto de um anel que eu tenho.

Eu tenho um anel muito lindo da Swarovski que ganhei do meu cliente gringo das viagens e o Intenso detesta esse anel porque é muito parecido com a aliança que ele dizia ter comprado para mim, um ranço do tipo: “ia te dar uma coisa linda, mas já te deram”. Daí passei a evitar de usar o anel na sua presença, aliás, tudo que eu podia evitar para não desencadear em situações desagradáveis, eu evitava, como quando ele cismou com um colar de dois corações que eu tinha, também da Swarovski, presente de um outro cliente muito especial. “Esse cliente devia ser muito apaixonado por você, pra te dar um colar com dois corações juntos”, criticava, amargurado. Por ele eu deveria jogar esses presentes fora, não entendendo o valor de ter uma joia, independente de quem tenha presenteado.

Enfim, ele tocou no assunto desse anel, perguntado se eu tinha levado. Respondi que não, já que ele não gostava. Para a minha surpresa e grande contradição no seu comportamento, ele queria que eu tivesse levado, pois, nessa situação que seria conveniente pra ele, queria que eu usasse. E qual era o lance? Ele queria pagar de meu namorado nesse evento, e como o anel parece uma aliança, seria como se estivéssemos namorando, e ele também usaria a aliança dele. Achei aquilo péssimo, afinal, ele queria “fingir” que era meu namorado, mas não queria oficializar de fato. Fiquei sensibilizada com isso, ele percebeu e ficou preocupado, perguntando o que tinha acontecido. Não era óbvio?!

– Isso pegou muito mal pra mim. – E expliquei como me senti.

– Ô minha linda, me desculpa. Eu vou resolver isso então, não se preocupe! Não será do jeito que eu tinha planejado, mas vou resolver. – Todo acalentador.

Tínhamos ido até o seu trabalho buscar os convites e paramos para comer em uma lanchonete qualquer, daí, antes de cairmos na estrada rumo a Ribeirão Preto, voltamos até seu apartamento para buscar a minha aliança que ele tinha comprado. Na verdade, achei que tivéssemos voltado exclusivamente para isso, fiquei aguardando no carro e dali a pouco vejo ele voltando com o terno no cabide. “Tinha esquecido meu terno”, ele disse. Então não voltou por conta da aliança, como fez parecer inicialmente.

Nos hospedamos num hotel e começamos a nos arrumar para o evento, que pedia dress code casual fino.

Antes de irmos para o evento, o Intenso quis fazer um esquenta numa choperia, dentro de um shopping ali perto. Na mesa dessa choperia, de uma maneira nada especial, ele oficializou o nosso relacionamento.

Pedido de Namoro

– Você gosta de mim? – Ele me perguntou de repente.

– Gosto.

– Mesmo eu sendo todo problemático?

– Sim.

– Então namora comigo?

E tirou a caixinha da Vivara do bolso.

Não era o pedido de namoro especial que eu esperava. Quando abri a caixinha, inicialmente nem achei a aliança tão bonita assim, tendo como comparativo o meu anel que era muito mais brilhoso. Não consegui disfarçar minha cara de decepção. Não tanto pela aliança, pois mesmo sendo menos brilhosa, de fato era diferenciada e muito bonita, mas pelo jeito como ele pediu, acomodados numa mesa de uma choperia qualquer dentro de um shopping, imaginava num lugar muito mais especial e íntimo, com pétalas de rosas pelo chão, não da forma como foi.

– Sua cara não está boa. – Ele percebeu. – Não está sendo do jeito que eu tinha planejado, mas faz de conta que esse pedido aconteceu naquele restaurante em Ilhabela. Era pra ter sido lá, se eu não tivesse esquecido a aliança em casa.

– Tudo bem, capricha no pedido de noivado então.

– Pode deixar!

Enfim o pedido de namoro saiu, sob uma leve pressão.

Mas mesmo nessa situação que era pra ser um momento especial nosso, ele continuava com aquele comportamento deselegante de encarar as pessoas da outra mesa. Inclusive, analisando todas as situações em que almoçamos e jantamos fora, ele sempre escolhia se sentar onde mais favorecia sua visão.

Fomos para o evento.

Chegamos um pouco atrasados, um dos donos já palestrava sobre os progressos da empresa, ambiente cheio, pessoas bem-vestidas e algumas mulheres vinham cumprimentar o Intenso, todas simpáticas, me tratando super bem, perguntando se ele já tinha oficializado, ao que ele respondia todo orgulhoso que sim, mostrando as nossas alianças nos dedos. Ou seja, ele não oficializou porque gostava de mim o bastante para isso, mas porque queria impressionar outras pessoas. Seria eu uma namorada troféu? Mesmo com o meu histórico de ser uma profissional do sexo, algo que ele não gostava, se exibir comigo, a mulher mais gata que ele já pegou, era uma grande conquista para ser mostrada, pois elevava o seu status perante os outros.

Na saída do evento presenteavam os convidados com uma garrafa de vinho e uma impressão de fotos em polaroid. Tiramos a foto, nos deram a impressão, postei no meu insta pessoal marcando tal escritório, eles repostaram e um dos donos começou a me seguir (cujo dono sequer seguia o Intenso).

*

No dia seguinte, fomos tomar café num lugar muito fofo, todo na temática de gatos, chamado “My Cat Café”, adorei o ambiente.

No caminho de volta para São Paulo, acabamos parando num outlet pelo caminho, em que o Intenso me presenteou com dois calçados, uma sandália e um scarpin. Achei fofo. À noite, já de volta ao apartamento dele, fomos ao cinema, a meu pedido, que queria assistir “Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda”, não foi aquele filmão, mas eu tinha gostado muito do primeiro filme, então fazia questão de conferir a continuação.

No dia seguinte, fomos no parque Wet’n Wild para assistir um amigo meu que estava trabalhando no evento de terror do parque e curtimos o dia. Na verdade, não foi bem aquela curtição, o Intenso não queria ir em nenhum brinquedo aquático, frustrando a minha experiência. Eu estive lá apenas uma vez, no passado, com duas amigas e lembrava de ter sido muito divertido. Quando percebeu que eu estava cabisbaixa e externei que a minha expectativa para aquele rolê era outra, ele acabou cedendo e conseguimos ir em três brinquedos, que ele se divertiu na hora, mas, mesmo assim, não se entregou a experiência por completo depois, preferindo ficar sentado na grama.

Em algum momento fumamos um beck, camufladamente, e ele fez quase sermos expulsos do parque, quando ficou tão chapado, ao ponto de fazer movimentos insinuantes na grama, quase tirando o pau pra fora.

– Onde você vai com essa mão? – Perguntei a tempo de evitar tal vergonha.

– Nossa… – voltando em si – por um momento eu esqueci que estava aqui e achei que tava na minha casa.

– Pelo amor de Deus, rs. – Ri de nervoso.

Ele era mesmo fissurado no próprio pau. Sempre que estávamos em casa, na minha ou na dele, à toa, do nada colocava o pau pra fora, (que vivia duro), como um tarado ninfomaníaco. Teve uma vez que ele até pegou no sono segurando o próprio pau (juro, até tirei foto). Seria essa uma característica muito comum de um cara bissexual, mal resolvido, que idealizava no próprio pau a imagem de um outro homem? Faz sentido, ou viajei?

*

No domingo à noite, depois que voltei para minha casa, ele pediu a placa do meu carro e CPF para pedir uma tag para o meu veículo.

– Agora você não terá mais que ficar parando nos pedágios.

– Adoro quando você cuida de mim. – Uma forma de me controlar também.

Na manhã seguinte recebi um alerta da Nubank no meu celular, informando que ele tinha emitido um cartão de crédito adicional para mim.

– Cartão de crédito adicional?

– Não fica feliz não, só para gastos emergenciais.

– Achei bonitinho rs.

Novas Brigas

Mais tarde, ainda na segunda, lá veio ele repetindo aquele padrão de criar conflito, uma forma de não me deixar em paz para trabalhar, nos dias em que não estávamos juntos. Mas reparem que a manipulação dele funcionava da seguinte maneira:

  • Primeiro criava uma falsa sensação de estar tudo bem;
  • Para logo depois plantar sementes de discórdia;
  • Com isso me causava confusão e insegurança.

Veja a seguir:

– Que horas você vem? – Estávamos já combinando sobre o fim de semana, em que ele viria para a minha casa sexta à noite. 

– Depende de sua agenda. Se vc tiver trabalho, eu vou a noite… se você não tiver agenda, eu vou mais cedo. Não quero que você feche sua agenda por mim.

– Entendi. Então não precisa mais do combinado de não trabalhar quando formos nos ver?

– Não. Eu não vou mais te impedir de nada. Nem querer te controlar. 

Parecia que ele tinha evoluído. 

– Obrigada pela confiança. – Reconheci o avanço. 

– Não é confiança. 

– O que é então?

– É a sua vida. Você quem deve decidir o que fazer e como fazer com relação a ela e as pessoas que entram nela. Eu já te expus todos os meus desconfortos. Se um dia eu entender que está muito pesado ou desconfortável demais, eu chego pra você e te falo.

– Estou admirada com essa mudança de comportamento.

– É uma mudança arriscada. Pra atingir ela, acaba se abrindo mão de sentimentos. 

Veja aqui a estratégia dele. Me trouxe algo positivo, para logo depois trazer algo negativo e me deixar insegura. 

– Está querendo dizer que não tem mais sentimento?

– Quero dizer que pra fazer isso, atingir esse nível de comportamento, tem que engavetar alguns sentimentos. 

– E quais você engavetou?

– Ainda não sei. 

– É sério que você entrou nesse assunto pra finalizar dizendo “ainda não sei”? 

Mordi a isca de ficar incomodada.

– Você quem perguntou. Não sei quais sentimentos serão necessários engavetar. Mas sei que são necessários. 

– Eu não perguntei nada, apenas falei que estava admirada com o seu comportamento e você que trouxe essa questão de não ter mais alguns sentimentos. Se quer trazer algo, traga por completo.

– Onde eu disse isso, de não ter mais sentimentos? Em que parte do texto?

Daí puxei da parte que ele falava “Pra atingir ela, acaba se abrindo mão de sentimentos”

– Ou seja, você já atingiu, então você já abriu mão de sentimentos.

– São escolhas. Hoje eu fiz essa escolha. 

Falou nada com nada, né? 

– Entendi. Bom, tô indo pra aula de dublagem. 

– Fiz essa escolha por nós.

– Do jeito que vc colocou acima, parece que a escolha derivou da perda de sentimentos. Então não foi uma escolha por nós. 

– Sim, foi por nós, pois não vou permanecer num relacionamento se ele não estiver me fazendo bem e feliz. A escolha implica em arquivar alguns sentimentos que me fazem mal.

– Ciúmes?

– Poderia ser um deles sim. Bem apontado. Mas quando vc deixa de ter ciúmes, vc deixa de gostar, de se importar. Quem se importa e ama, tem ciúmes. É algo basilar.

– Não necessariamente, tem pessoas que amam e não são ciumentas. 

– Eu não sou esse tipo de pessoa. 

– O ciúme está mais ligado a insegurança na relação, do que ao amor propriamente dito.

– É a sua visão particular disso. Se for assim pela sua teoria, 99% dos homens são inseguros. Na minha teoria, o ciúmes está muito mais ligado a exclusividade do que a insegurança. 

– Assim como dizer que quem se importa sente ciúmes tbm é a sua visão particular disso. Só não acho bacana você trazer lá em cima que não quer me controlar, trazendo uma “falsa liberdade” que eu posso decidir sobre a minha vida, pra logo depois dizer que a sua mudança de comportamento não é pq você quer de fato me deixar a vontade, para tomar minhas próprias decisões, e sim pq está engavetando sentimentos. Qual a necessidade de você ocasionar esse mal-estar na relação? Novamente você repetindo esse maldito padrão de criar mal-estar entre a gente quando estamos longe. Será que em algum momento conseguiremos ter uma distância saudável?

– Não estava criando mal-estar algum. Apenas expondo mais sobre meu comportamento. Vc questionou e eu respondi. 

Isso foi numa segunda-feira, esse desgaste persistiu até quinta. Era sempre assim, toda semana o mesmo ciclo: Final de semana incrível, durante a semana um inferno. 

*

Tivemos uma outra briga na semana seguinte por whatsapp, uma conversa que começou sexy e desandou em algum momento.

Por volta das 17:36 de uma terça-feira, de repente, ele me mandou uma foto, de visualização única, do pau dele.

– DONEIDA KKKK. – Respondi. – Pau gostoso. Queria me comendo agora. Não quer vir me comer não? – Provoquei.

– Já tem uma fila 🙁 – disse ele, por saber que eu tinha cliente agendado para mais tarde. – Nossa eu tô com muito tesão.

– Eu cancelo. Vem vem vem.

– Não faz isso, você sabe que eu sou louco.

–  Eu não tenho aula amanhã. Nem compromisso agendado. Vem 😏😈

– Não faz isso não linda. São 1.500.

– Então pra que vc me atiça?

Daí ele mandou outra foto do pau dele. 

– Delícia. Vai vir ou não? Vem. Vamos comer aquele japa gostoso e transar gostoso. 

– Queria muito muito muito. Sábado na hot é noite das 100 calcinhas. Vc tem algum vestidinho bem curto? Quero levar minha putinha pra passear sem calcinha e acorrentada. 

– Tenho 😈

– Me mostra? 

– Nada de spoiler.

– Tô te atrapalhando?

– Lindo, tô aqui de pijaminha, tô tão aconchegada, não quero por roupa agora e também quero fazer surpresa. Mas a gente pode continuar trocando mensagem e eu ir te atiçando por aqui.  

– Atiçar por texto não é atiçar.

Daí eu mandei um áudio, falando num tom sexy:

– Eu posso te atiçar por áudio, safadinho, narrando alguma coisa… quer? 😈

– Não, valeu.

E lá vem o balde de água fria, quando você não entrega para o narcisista o que ele quer. 

– Ficou chateado?

– Só pensei o seguinte: vc vai sair com 2 hoje e na hora que seu namorado interage demonstrando o quanto tá com tesão em vc.. e te procura, vc não está disponível pra ele.

– Nossa lindo, não precisa falar assim, né? Eu atendi um casal hoje, isso já demanda energia, eu tô preservando a minha energia pra mais tarde. Se você viesse pra cá, eu super cancelaria o encontro pra ficar com você, eu ainda te chamei… Essa troca por mensagem pra mim não tem o mesmo peso que pessoalmente. E aí você já leva tudo pra esse lado, poxa… podia ser mais empático comigo também, né? 

– Esquece isso. 

– Falei pra você que tô aqui deitada no sofá super aconchegada, tô até coberta, aí você quer que eu levante pra por um vestido, já vou ficar com frio, sabe… se você tá com tanto tesão assim, se você quer tanto putaria, então vem me comer!

Ou seja, o boy que saia de Campinas, mas eu não iria sair do meu sofá kkkkk. 

– Tá bem. Já deu. Poxa olha como vc está me tratando. Veja seus áudios. Só pq eu estava excitado e falando com vc. 

– E olha como você está me tratando. Só pq não embarquei na putaria como você queria, você já “me descarta”. Propus por áudio de você vir, e se não é do jeito que vc quer, então não tá bom. 

Dois mimados. Eu queria do meu jeito (presencial) e ele queria do dele (fotinho a distância).

– Eu não te descartei. Onde eu descartei?

– Ali onde você disse pra eu esquecer e quando disse “já deu”.

– Já deu a briga. Pra esquecer esse assunto. 

– Eu só falei que não estava na vibe de levantar e trocar de roupa.

– Eu não falei que queria nada… apenas te perguntei do vestido. Só isso. Agora eu entendo alguns clientes seus.

– Como assim?

– Ah puta sacanagem né, cê trabalhou ontem, trabalhou hoje, vai trabalhar daqui a pouco. Eu, como namorado, a hora que eu vou fazer uma brincadeirinha com você, e olha que eu nem sou de ficar fazendo essas brincadeiras, a hora que eu vou fazer alguma brincadeirinha, você simplesmente ignora completamente, cê não pensa: “poxa, vou tirar dois, cinco minutinhos pra dar atenção pro meu namorado”, vc não faz isso, simplesmente ignora. Porra fiquei chateado pra caralho, fiquei de verdade muito chateado agora. 

– Eu não te ignorei. Eu tô falando com você desde o momento que vc mandou a primeira foto, inclusive te convidei pra vir pra cá hoje. Só pq não quis colocar um vestido, que inclusive falei “nada de spoiler”, você já ficou puto. Só não entendi pq agora você entende os meus clientes.

– Vc sabe do que tô falando.

– Se eu soubesse não estaria perguntando. Não entendi qual o link. 

– Quando eles se frustram em casa, buscam fora.

Affffff

– Nossa, que comentário péssimo.

– Que comentário muito real e pertinente. 

– Você tá sendo muito escroto agora. Dizendo que dá razão pros meus clientes, pq você pensou em fazer a mesma coisa.

– Se eu busco na minha namorada e ela não consegue atender, busco fora vídeos, sites etc…

– Ou seja, se eu não entrego o que vc quer, na hora que você quer, você sente que deve buscar fora. Péssimo.

– Estou falando de seus clientes. Que entendi como eles se sentem frustrados. 

– Não, você está falando das atitudes deles em solidariedade pq tbm sentiu vontade de fazer o mesmo.

– Se fosse outro cara, buscaria agora em um vídeo pornô ou algo assim.

– Você acabou de falar que faria o mesmo. Ou seja, se a sua escrava sexual não está inteiramente a sua disposição, você sente que deveria buscar fora como os meus clientes fazem.

– Não. Se a minha namorada está cagando pra mim, vendo que eu tô com tesão, e não quer nem dar 5 min de atenção, então pq eu não iria pra outros meios como vídeos? Porra eu fiquei bem chateado com o que rolou. 

– Não gosto desse tom que você tá falando comigo, tá? Eu não caguei pra você, eu tô te dando atenção desde a hora que você mandou a foto. Agora se eu não levanto na hora que você quer pra colocar uma roupa que você quer, olha como vc se transforma?! Isso é comportamento de gente mimada! Eu te falei como eu estava, te falei que tava aconchegada no sofá, por que você também não pode respeitar o meu momento? Eu te chamei pra vir pra cá! Você não valoriza isso não? Olha o escarcéu que você tá fazendo porque eu não levantei pra colocar a porra de um vestido! 

– Eu não estou falando de mim em específico, estou falando se a pessoa busca namorada e a namorada não consegue dar uma atenção pra ele, o que que ele vai fazer? Vai buscar fora, em vídeo, em sites… vai buscar através de outros meios, só fiz uma comparação com seus clientes… às vezes no relacionamento deles não têm o sexo em si e é por isso que eles buscam fora, através do seu trabalho. 

– Você não fez uma simples comparação. Eu entendi muito bem a ameaça velada. 

– Não tem essa de escrava sexual, eu nunca te peço nada, é muito raro eu entrar nesses assuntos. Você sabe como eu sou tarado e safado e nem por isso eu fico pedindo essas coisas toda hora, é raro. Aí quando acontece isso, eu me sinto simplesmente rejeitado. Foi assim que eu me senti. Você cagou pra mim, me rejeitou! E beleza, tá bom. 

– Nossa você se sentiu rejeitado porque eu falei que não ia dar spoiler do vestido? Só porque eu não quis levantar pra colocar um vestido pra você? Por isso você se sentiu rejeitado? Sendo que eu te chamei pra vir pra cá, que é muito melhor do que eu te mostrar um vestido no meu corpo é eu transar com você, com gosto. Olha para o que você tá dando mais importância. 

– Sim, me senti. Ahh pelo amor de Deus né, você acha que eu não queria tá aí? Cê sabe como eu sou, por mim eu pegava o carro e ia pra aí, mas você sabe que você precisa dessa grana, eu não vou te atrapalhar com isso, prometi pra você que eu não ia atrapalhar seu trabalho. Eu gosto tanto de você que eu ia praí hoje, daqui a pouco, e voltava amanhã de madrugada pra trabalhar, mas tem outras coisas em jogo. E sim, foi assim que eu me senti, ignorado pela minha namorada, no momento em que pedi um pouquinho de atenção, eu não tive.

De novo esse discurso de que eu não dei atenção pra ele, quando na verdade ele só estava frustrado por ter recebido um “não”. Não eu não vou levantar do sofá agora, não, eu não vou abrir mão do meu bem estar e passar frio pra satisfazer a sua vontade. 

– Eu não aceito você falar comigo desse jeito. Eu te dei atenção sim, dentro dos meus limites no momento. Não gostei desse seu comportamento. Sabe a impressão que me dá? Que toda vez que você tentar alguma coisa e eu não tiver 100% disponível pra fazer o que você quer, vai me tratar desse jeito. 

– Pois é, eu também não gostei desse seu comportamento. E eu não estou falando de comportamento sexual, – como não?! – eu não estou falando de putaria nem nada – como não?! –  eu estou falando de atenção mesmo, que custava você parar três minutinhos e dar atenção pra mim? 

Percebem como era cansativo lidar com ele?

– Eu não tava falando de sexo – ele continuou nesse discurso sem sentindo, quando era ÓBVIO que o seu incômodo foi por isso sim –  não tava falando de nada, eu só perguntei se você tem um vestido bem curtinho, e pedi pra me mostrar. O que custava você levantar dois minutinhos, ir lá no armário pegar ele e me mostrar? Não custava. E eu sentiria que você tava me dando atenção, então não é questão de ser escrava sexual nem nada disso, não sei com quem você tá me confundindo, com cliente seu, talvez, mas eu não sou cliente seu. 

Mas não é mesmo, meus clientes costumam respeitar quando ouvem um “não posso agora”. 🙄

– Ahh não vem com esse papo pra cima de mim agora não! Sabemos muito bem que você não ia querer que eu simplesmente pegasse o vestido e te mostrasse, você ia querer que eu colocasse o vestido no meu corpo. Você tava aí com seu pau duro pra fora e não ia se contentar em ver só uma foto de um vestido num cabide. Então não vem com essa! E eu simplesmente não quis me levantar pra colocar um vestido e ficar fazendo isso a distância, sendo que te chamei pra vir pra cá. Muita insensibilidade da sua parte. Você fala de um jeito como se eu tivesse abandonado o celular aqui e te deixando falando sozinho. 

– Eu só queria atenção da minha namorada, seja em brincadeira sexual, porque a gente já tava falando sobre isso, tanto que eu tava com tesão na hora, ou se não fosse esse contexto, – se não fosse nesse contexto nem estaríamos brigando – qualquer outra coisa, porque você tem amigos, você conversa com outras pessoas aí no WhatsApp, eu não tenho, então sinto muita falta de falar com você e de interagir com você. Aí quando eu busco isso e não encontro, fico chateado. Não é que eu seja mimado, não é isso. É que quando eu busco isso e não encontro, me chateia de verdade.

Conseguem visualizar a grande tentativa de manipulação? De repente o incômodo por eu não querer por o vestido, se transformou numa queixa dele não ter amigos para conversar.

– Ou seja, eu sou obrigada a fazer tudo que você me pede, pq senão você vai se transformar na conversa. Você não consegue entender: “poxa, ela tá quietinha lá no sofá, ela tomou banho, tá de pijaminha, tá aconchegada, pq vou fazer ela levantar do sofá, nesse frio, pra por um vestido e satisfazer a minha taradice, sendo que ela já está me dando atenção do jeito que ela pode nesse momento, trocando áudio, mandando mensagem escrita e etc”. Eu não gostei desse comportamento. Isso foi muito ruim. Só porque eu não fiz determinada ação, você desvalida todo o resto. 

– Não. Não fui capaz de pensar isso. Só pensei pelo lado da atenção que vc faltou comigo. Então sim. Foi uma situação muito ruim para os dois. E uma situação muito séria inclusive, pois cada um enxergou por uma perspectiva muito diferente e tóxica. 

– Eu te dei atenção em tempo real. A questão aqui não é que eu não te dei atenção, é que eu não quis te obedecer. Se não é do jeito que vc quer, então não tá bom.

– Vc não aceita o que eu tô expondo, de porque fiquei chateado, se blinda e ataca. Vc nem ouve, nem tenta se colocar no meu lugar. Mesmo eu te dando de forma cristalina a visão que eu pensei.

– Eu entendi muito bem pq você ficou chateado, simplesmente pq eu não me levantei pra colocar um vestido. Se você voltar a conversa e analisar, vai ver que ela começou a desandar nesse momento. Repito, isso é comportamento de gente mimada que quer as coisas tudo do jeito delas. Se eu tivesse levantado e colocado o vestido, não estaríamos tendo essa discussão agora. Então o problema aqui não é pq eu não te dei atenção, e sim pq eu não fiz uma coisa que você pediu. 

– Nem minhas ex-namoradas agiam assim.

– Nem meus ex-namorados agiam assim tbm.

– Então cada um volte pra seus ex. 

– Boa noite. 

Fiquei de saco cheio dessa discussão infeliz. Daí quando ele viu que eu joguei a toalha, me ligou. 

A ligação durou 51 minutos. 

Nos entendemos, cancelei com o cliente e ele veio pra minha casa. 

Transamos e provei o vestido pra ele. 🤡

Continua…

“O Intenso” – Parte 8

O Lado B da História

Parte 2

Querido diário,

Chegamos a continuação tão esperada, que rendeu 18 páginas do Word! Acho que nunca escrevi tanto numa tacada só! Peguem a pipoca e venham se horrororizar comigo.

Cheguei na casa dele quinta a noite e fui recebida da melhor maneira possível. Quando nos abraçamos no elevador, pude sentir uma onda forte de energia atravessando o nosso corpo, uma sensação muito intensa. Logo que entramos no seu apartamento, ele já partiu pra sedução, me encostando na parede, muitos beijos e amassos, desceu para me chupar, ele estava muito dedicado. Sempre que a gente brigava e depois transava, as transas eram ainda mais intensas, como se o medo da perda intensificasse ainda mais aquela oxitocina. E toda aquela devoção sexual que me demonstrava, enquanto me agradava, me fez sentir poderosa, como se nada pudesse separar a gente, porque juntos éramos imbatíveis. Tivemos um sexo selvagem delicioso com ele me pegando de quatro, uma de nossas melhores transas. Ficamos de grudinho pelo resto da noite, foi maravilhoso.

Para aquele fim de semana, ele tinha combinado um jantar na casa dele com um casal de amigos, para que eu fosse oficialmente apresentada. Seriam as primeiras pessoas que eu conheceria do lado dele. Enquanto o sábado não chegava, sexta ele conseguiu se liberar do trabalho e ficamos de preguicinha no sofá, até jogamos vídeo game, um jogo que eu adorei, chamado Death Stranding, foi alucinante jogar chapadinha, altas brisas e reflexões.

Mais tarde, enquanto eu escrevia em seu MacBook, subiu uma mensagem de um amigo dele, e só então percebi que o WhatsApp estava conectado. Eu, inocentemente, comentei com ele sobre a mensagem de seu amigo e foi então que ele também se lembrou que estava logado no computador. 

– Ahh você viu aí? – E veio, como quem não quer nada, tentar deslogar. 

– Tá tudo bem, pode deixar. – Falei numa boa, sem qualquer intenção de espionar. 

– Não ia deslogar não, só ia desativar a notificação pra não te desconcentrar. 

Sei. 

Daí ele acabou cochilando no sofá e eu segui no meu processo criativo, naquele dia eu escrevia sobre a Parte 4, contando de quando fomos na Hot Bar (pra vocês terem uma ideia da linha do tempo de como as postagens aqui estão atrasadas em relação aos acontecimentos em tempo real). 

Quando me dei conta que ele tinha dormido, me ocorreu o pensamento de dar uma espiada no WhatsApp dele. Juro pra vocês que eu pensei em olhar mais por curiosidade boba, não que eu esperasse encontrar algo de fato, afinal, ele sempre se mostrava muito apaixonado, mas já que estava ali, pensei: “por que não?” 

Curioso que, ao mesmo tempo em que eu não esperava encontrar nada incriminador, uma vozinha na minha cabeça disse “termina de escrever primeiro pra depois olhar, porque se você encontrar algo que não gostar, vai estragar todo o seu processo de criação”. E assim o fiz, curiosa, porém focada, terminei de escrever toda a postagem e então, como ele ainda estava dormindo, fui espiar o seu WhatsApp.

Logo a primeira mensagem que constava, silenciada, nem arquivada estava, era de uma tal de Maristela, uma conversinha fiada entre eles, que se iniciou na quarta-feira. 

*

Recapitulando os acontecimentos da postagem anterior:

Segunda: ele viu minha participação no Achismos e nos desentendemos. 

Terça: ficamos o dia inteiro sem nos falar e nos reconciliamos somente a noite, porque EU fui atrás. 

Quarta: estávamos bem, mas tivemos aquela leve DR, sobre o que rolou segunda e terça. 

Ou seja, ele deve ter baixado o aplicativo na terça, que não estávamos nos falando, e na quarta, mesmo estando bem comigo, migrou a conversa com a menina para o WhatsApp.

Aquilo me deixou devastada. 

*

– Bom dia Dra. Maristela, tudo bem? Aqui é o *Filho da Puta Cretino*… você me passou seu whatsapp à pouco… me contou também que está de mudança para Campinas (o que me deixou bem animado inclusive)…

BEM ANIMADO???!

– Sei como é corrido esse processo de mudança… então fica tranquila, responda só quando realmente puder. Gostaria também de me colocar à disposição se você precisar de qualquer coisa nesse processo… (não sei se já tem alguma rede de apoio aqui em Campinas, mas conte comigo para o que precisar.)

NOSSA COMO ELE É TODO SOLIDÁRIO COM UMA ESTRANHA, NÃO?!!

– Obrigada pela empatia e disponibilidade! Vc é mt educado e gentil. – Tadinha dela, mal sabia a grande cilada que era esse estranho “gentil e educado”.

Aí, em outro ponto da conversa em que ela perguntava o que ele fazia, lá veio ele, vendendo seu peixe de homem bem-sucedido:

– Mari… já trabalho há 25 anos com TI. Hoje sou Diretor de Tecnologia de uma farmacêutica Suíça e também tenho minha empresa de tecnologia. Mas só comento quando me perguntam, pra não parecer presunçoso. Não sei o que buscava no APP… mas olhando seu perfil acho que me identifico muito com você… Pelo menos a mim, me dediquei tanto ao trabalho, carreira, que esqueci da vida pessoal… E hoje estou num momento de conhecer pessoas… e quem sabe não rola uma conexão…

OI??????? E O QUE ELE ESTAVA FAZENDO COMIGO ENTÃO?!

Daí a moça contou algumas coisas da vida dela, e lá veio ele de novo:

– Quando você diz que pessoalmente me explica melhor, você está indiretamente me iludindo que vai aceitar tomar um café ou um drink comigo hahahahahaha.

Nossa, tô morrendo de rir. 😒

– Eu estou no APP há poucos dias… e sinceramente, não é qualquer perfil que me despertou interesse. Confesso também que paguei o APP só pra te mandar mensagem.

A MESMA COISA QUE ELE TINHA FALADO PRA MIM, QUANDO DEMOS MATCH NO APLICATIVO!! QUE ELE TINHA PAGADO PRA FALAR PRIMEIRO COMIGO. AFF.

– Eu instalei esses dias tbm… jura? Hahahaha que fofo!

Quando ele veio com essa pra cima de mim, eu falei: “Mas eu que te mandei msg primeiro, que estranho”.

– Não me julgue… mas quando vi pensei: “Eu preciso conhecer melhor essa mulher”. Inteligência me atrai e você exala isso em seu perfil.

OS MESMOS XAVECOS QUE ELE DISSE PRA MIM, SOBRE EU EXALAR INTELIGÊNCIA E BLÁ BLÁ BLÁ.

– Eu também moro sozinho aqui. Comprei meu apê tem 8 anos. Mas quase não saio… muita correria de trabalho.

Qual a necessidade de falar que tinha apartamento próprio? Mostrar pra ela que tinha recursos a oferecer para a pobre donzela que estava vindo morar de aluguel em Campinas?

Em outro ponto da conversa, ela revelou que tinha 33 anos e ele respondeu:

– Meu Deus, uma criança. Quase pedofilia eu falar com você.

Que nojento isso. Ele tinha 39, nem era tanta diferença assim.

Daí a moça mandou um textão contando mais coisas da trajetória profissional dela, que ele só respondeu com “Estou boquiaberto” e então lá vinha ele se exibindo de novo:

– Tem algo que eu possa fazer para te ajudar nesse lance da mudança? Algum apoio logístico? (Tenho um carro bem grande, caso você precise carregar algumas caixas frágeis).

Apartamento próprio, carro grande, Diretor de TI, o macho alfa gostava de exibir as suas conquistas.

Ela agradeceu, disse que não precisava, mas que se precisasse gritava ele.

– Perfeito. Ficarei de plantão então.

Como é solícito, não?! 😒

– Você que é muito educada em me responder, um cara que você não conhece, que te abordou em um aplicativo.

– Somos mto educados e gentis! E legais… hahaha. – Ela estava animada.

– Hahahahah uma combinação perfeita pra um date legal. Vc preferiria um café ou drink? – Lá vinha ele atacante. – E se em algum momento eu for chato ou inconveniente, me fale por favor rs… eu tenho um senso de humor mais ácido e irônico… mas adoro fazer rir.

Daí ela soltou alguns elogios a ele:

– Me parece ser meio nerd tbm… hahahahaha adorei!

– Eu sou! E acredita que sou subjugado por isso? As mulheres tem preconceito…

– E quero falar com vc das pesquisas de uma pós sobre docência na saúde e IA… kkkkk

– Estou fazendo meu MBA exatamente em IA hahahahahahahahahahah

Não achei nada engraçado.

Ela reagiu com palminhas.

– Posso te propor algo? – Ele atacou novamente. – Eu gostaria de te levar pra jantar em um lugar que é muito especial pra mim aqui em Campinas. Acredito que você ainda não conhece.

Tenho certeza que ele ia levar ela no ELIXIR, o mesmo restaurante que me levou, é um lugar muito chique e lindo, perfeito pra impressionar alguém.

Preciso salientar que NUNCA na minha vida eu tinha passado por uma situação dessa. Só tive três namorados e nunca peguei qualquer traição, sequer desconfiei de alguma coisa. Vivenciar algo sim é a pior experiência para uma mulher. Quando o homem se depara com uma traição, imagino que está mais afetado pela questão do ego, preocupado se o pau do outro é maior, se fez a mulher dele gozar mais do que ele, mas pra mulher isso pega muito no lado sentimental da coisa. “Ele não me ama mais”, “Ele não me deseja mais”, “Ele não me vê mais como a mulher da vida dele”. A gente não está nem aí se a outra beija melhor ou transa melhor, questões sentimentais causam muito mais estrago do que uma mera comparação sexual.

Eu conseguia ouvir e sentir o meu coração batendo. Uma sensação muito estranha, como se eu tivesse em perigo. Minhas mãos tremiam e suavam. Me senti dentro de um pesadelo. O cara que eu tinha idealizado pra ter um relacionamento sincero e profundo não estava mais me vendo com a mesma importância, e o pior, flertava exatamente igual flertou um dia comigo. Eu era só mais uma, assim como ela.

Tirei fotos, fiquei lendo e relendo, me torturando repetidamente.

Em algum momento ele despertou e eu quase não consegui voltar com a tela para o word. Falei que tinha mexido em outras telas pra enviar para o meu e-mail (coisa que eu tinha feito mesmo) e emendei que ia tomar banho. E tudo isso foi dito com MUITA dificuldade, era como se eu tivesse desaprendido a falar, as palavras quase não saíram, mal olhei na cara dele enquanto falava.

Me tranquei no banheiro e devo ter ficado uma hora lá. Entrei no banho e chorei demais no chuveiro. Como doía. “E agora? O que eu faço?” Eu não sabia o que fazer. Eu não conseguia simplesmente terminar e ir embora, eu ainda gostava muito dele e não conseguia virar a chavinha rápido desse jeito. Me senti extremamente impotente. Tivemos uma tarde tão gostosa, por que aquilo tinha que ter acontecido?

Disparei mensagens e prints para todos os meus amigos, quem me respondesse primeiro seria meu ponto de apoio naquele momento:

A razão dizia: “VAI EMBORA AGORA!”, mas já o coração: “Você gosta tanto dele, poxa…” Acabei pedindo ajuda pro ChatGPT também. Fiz um breve resumo da situação e pedi pra me ajudar a estruturar uma conversa, eu não tinha o menor discernimento pra isso naquele momento:

Um ano depois, criei forças para sair do banheiro. Fui para o quarto de hóspedes e ele estranhou que não voltei pra sala, me chamou, vendo que eu não respondia, veio até mim. Estampava uma fisionomia preocupada, me perguntou o que estava acontecendo e desatei a chorar, igual uma retardada. Não consegui trazer nenhuma fúria pra xingar ele, pelo contrário, parecia que eu tinha levado uma surra. Ainda fiquei com a sensação de que ele começou a ficar impaciente com o meu drama. Mais preocupada por estar lhe causando alguma irritação do que por estar pronta pra falar de fato, entre soluços e frases, fui falando o que o chat tinha estruturado.

Como a minha amiga tinha previsto, ele jogou a culpa em mim, disse que foi um ato desesperado pelo que viu sobre mim no Achismos e em nenhum momento demonstrou qualquer arrependimento ou pediu desculpas, como se os seus motivos justificassem tal ato. Eu queria vê-lo se rastejando, implorando pelo meu perdão, mas isso não aconteceu e a minha decisão de perdoar teria que se dar por mim mesma e não por ele estar se esforçando muito pra me convencer disso. O que é ainda pior. Eu já tinha idealizado tanta coisa com ele, os seus amigos que eu conheceria na noite seguinte, a viagem para Ilhabela, que já estava fechada para aquele mês, fora as outras muitas lembranças dos momentos bons que eu não conseguia simplesmente jogar no lixo. Fiquei um tempão ali chorando, após me trazer as suas justificativas, se vitimizando, como se ele tivesse sido obrigado a tomar tais atitudes.

– Eu estava tentando achar um relacionamento normal. Você sabe como é difícil pra mim lidar com o seu trabalho. Eu te falei que depois que vi o Achismos eu dei uma desanimada.

– Mas a gente já tinha se entendido! E mesmo assim você tava marcando encontro com ela!

– Eu não iria no encontro.

– Claro que iria!

– Não iria. Eu iria acabar desmarcando porque já estaria bem com você.

Enfim, chorei, chorei, chorei, até que em algum momento, quando eu já não tinha mais energia nenhuma, ele me abraçou e fomos para a cama.

O sexo foi delicioso.

Ainda mais intenso.

No dia seguinte acordei encucada. Ele ainda dormia e eu já com meus dois olhões estalados olhando para o teto, pensando mil coisas. Peguei meu celular, baixei o Bumble e fiquei passando os perfis pra ver se aparecia o dele.

E apareceu.

BUSCO:

  • Um relacionamento sério
  • Encontros divertidos e casuais
  • Transparência
  • Alegria
  • Inteligência Emocional

O cara que enganava buscava transparência e inteligência emocional, que irônico e contraditório.

Quando perguntei na noite anterior se ele ainda estava no aplicativo, ele mentiu que tinha usado o Happen e Badoo, que já tinha desinstalado, sendo que ele nem usa esses outros. Ele achou que eu não me lembraria que demos match no Bumble?

Vendo que ele mentiu também sobre isso, duvidei que ele cortaria o contato com ela (apesar de tê-lo feito apagar e bloquear o número) e eu mesma mandei uma mensagem para ela do meu celular, 7 e pouco da manhã.

– Olá Maristela, tudo bem? Aqui é a ******, namorada do *****, que você deu match no Bumble. Vi umas conversas de vocês no whatsapp dele e vim te avisar que ele é comprometido. Comprometido e muito inseguro pra em qualquer briga nossa, baixar o aplicativo para firmar o seu ego. É muito chato que ele tenha te envolvido.

Ela nem me respondeu e as duas últimas mensagens sequer entregaram, ela devia estar online e quando viu eu dizendo que era namorada de alguém já deve ter bloqueado pra evitar de ler algum desaforo. Pois bem, enviei por torpedo, fazia questão que ela lesse as características nada atrativas dele.

Quando ele acordou, o confrontei sobre ainda estar no Bumble e o fiz deletar a conta na minha frente. Até então ele só tinha deletado o aplicativo, se fez de sonso. Depois fui tomar meu banho e quando o reencontrei na sala, ele estava com uma cara estranha.

– Você mandou alguma coisa pra menina? – Ele perguntou.

– Por que você tá perguntando isso?

– Ela mandou mensagem falando umas groselhas e me bloqueou.

– Então você não bloqueou ela e não apagou o contato quando te pedi fazer isso?! É ISSO MESMO?!

Fiquei muito nervosa.

– Claro que sim, eu fiz na sua frente.

– O que você fez na minha frente foi do Instagram. Então você não tinha bloqueado ela no whatsapp, mesmo eu te pedindo pra fazer isso???!!!!!

– Achei que tivesse feito, fiz na sua frente.

– EU JÁ FALEI QUE O QUE VOCÊ FEZ NA MINHA FRENTE FOI DO INSTAGRAM! COMO QUE ELA TE MANDOU MENSAGEM ENTÃO, SE VOCÊ TIVESSE FEITO?!

– Mas você mandou alguma coisa pra ela?

– POR QUE VOCÊ ESTÁ PREOCUPADO COM O QUE ELA ESTÁ PENSANDO, SENDO QUE EU TE PEDI PRA FAZER UMA COISA E VOCÊ NÃO FEZ?!!! VOCÊ ESTÁ CHATEADO POR QUE EU TE QUEIMEI COM ELA?! É ISSO MESMO QUE EU TÔ ENTENDENDO?!

– Não estou preocupado com isso, mas não acho bacana você envolver outra pessoa.

– VOCÊ JÁ ENVOLVEU QUANDO BAIXOU O APLICATIVO!!

A fúria que eu não estava no dia anterior, veio pela manhã.

– AGORA EU ACHO O CÚMULO, DEPOIS DE TUDO QUE EU PASSEI, VOCÊ ESTAR MAIS PREOCUPADO COM ELA SABER QUE VOCÊ TEM NAMORADA, DO QUE FAZER ALGO QUE EU TINHA TE PEDIDO!!!! Como eu vou ter confiança em você desse jeito?!

Daí, para resolver aquela situação, ele disse que a partir dali eu teria a senha do celular dele, que a hora que eu quisesse eu poderia ver, que ele não tinha nada para esconder de mim. Me pareceu razoável. Nos entendemos.

*

No carro, enquanto íamos para algum restaurante almoçar, ele reforçou que eu poderia olhar o que eu quisesse no whatsapp dele e até me passou seu celular, para eu testar a senha. Daí perguntei se essa transparência se aplicava ao Instagram também, já abrindo o aplicativo e quando comecei a ver que ainda estava lá a conversa que ele teve com ela, ele delicadamente pegou o celular de volta e disse que antes precisaria apagar umas coisas “antigas”. Depois, já na mesa do restaurante, com o clima mais leve, ele reconheceu que eu era muito esperta, num tom do tipo “já me liguei que você é ligeira”, ao que eu respondia “não vem ser cafajeste comigo não, que eu descubro as coisas”.

A noite foi agradável, veio o casal de amigos dele, mas confesso que, lá no fundo, fiquei com a sensação de que o jantar não era para me apresentar de fato, e sim apenas uma social que ele estava fazendo com tais amigos, porque vieram o casal, a sogra do casal e os dois filhos adolescentes. Talvez tenha sido impressão minha. De qualquer forma, foi uma noite muito gostosa. Ele e o rapaz ficaram a maior parte do tempo na cozinha, cozinhando pra gente, enquanto eu, a esposa e a sogra conversávamos em outro cômodo, na mesa de jantar, super entrosadas, e os adolescentes jogavam vídeo game na sala.

*

No dia seguinte tivemos uma nova briga, pelo mesmo motivo, chamado Maristela. Saímos para jantar a noite e quando estávamos voltando para o carro, andando pelo estacionamento do shopping, em algum ponto da conversa que estávamos tendo, ele me acusou de ter mentido pra ele.

– Eu menti pra você?

– Sim.

– Sobre o que?

– Você sabe.

– Não, não sei. Do que você tá falando?

– Você mentiu que não mandou nada pra menina.

– Eu não estou acreditando que você tá voltando nisso de novo.

Cara, ele que era o errado da história, e ficava querendo reverter a situação a todo momento!!

– Então me fala quais as informações que você tem, que eu te falo das minhas. – Encurralei.

– Ela me ligou pra me esculhambar, e contou que você tinha ligado pra ela falando as coisas.

– Eu não liguei pra ninguém.

– Para de mentir.

– Você tá acreditando mais na palavra de uma estranha do que em mim?! Se eu tô falando que eu não liguei, é porque eu não liguei!

– O que você fez então?

– Eu mandei uma mensagem, falando que vi a conversa de vocês e que achava bacana ela saber que você é comprometido. – Omiti a parte dele ser um inseguro, que buscava afirmar o ego. – Agora eu não tô acreditando que você está voltando nessa história, porque ainda está preocupado com o que eu falei pra ela. Que que é?! Você não queria que eu te queimasse com ela? É isso?! Por que, afinal, você não deletou e bloqueou o contato dela coisa nenhuma, daí quando ela te mandasse mensagem durante a semana você ia fingir que nada tinha acontecido, não é?!

– Você que está fazendo conjecturas.

– É exatamente isso que está acontecendo! Você está mais preocupado com o que uma pessoa que você nem conhece está pensando a seu respeito, do que ficar bem comigo!!

Quando chegamos na sua garagem, desci do carro para que ele estacionasse na vaga encostada no pilar e nem o esperei para subir para o apartamento. Fui na frente, já sabia a senha da porta e fui para o quarto arrumar as minhas coisas, aquilo já era demais pra mim.

Quando ele chegou no apartamento, se assustou comigo arrumando as coisas e perguntou o que eu estava fazendo.

– Estou arrumando minhas coisas pra ir embora. Ridículo o que você está fazendo.

– Eu não estou fazendo nada, só te perguntei se você tinha mandado algo pra ela.

– O QUE INTERESSA SE EU MANDEI OU NÃO?! VOCÊ TINHA QUE ESTAR MAIS PREOCUPADO COM O MEU BEM-ESTAR E NÃO COM O QUE ELA ESTÁ PENSANDO DE VOCÊ! – Seu narcisista do caralho! (Essa sou eu pensando agora enquanto escrevo, naquela situação eu ainda não tinha percepção disso.)

Quando eu estava prestes a ir embora, indo com a minha mala de carrinho já em direção a porta, ele fez sua última tentativa:

– Se você for embora, você sabe o que isso significa, né?

– Que eu quero ir embora.

– Não.

– Significa o que então? Que acabou?

– Sim.

– É isso que você quer?

– Não.

– Você não tá demonstrando nem um pouco que quer que eu fique.

– O que você quer que eu diga?

– Que você reconheça o seu erro e pare de querer reverter a situação. Você que me traiu marcando de sair com outra pessoa e ainda vem reclamar de eu ter mandado algo pra menina. Coloca a mão na consciência!!

Daí ele baixou a guarda, com muito custo, e por fim me chamou para deitar no sofá com ele. Novamente a transa foi deliciosa. Ele lambeu todo o meu rosto, uma preliminar diferente, coisa que ele nunca tinha feito. Quando acabou, adormecemos ali mesmo.

*

Durante a semana seguinte, tivemos uma outra briga feia, lá pra quarta-feira, novamente envolvendo o meu trabalho.

No fim de semana tínhamos trocado algumas mensagens com um “amigo” dele, sobre fazermos um ménage. Aquele tal amigo que subiu a notificação de mensagem quando eu estava escrevendo no computador. O Intenso voltou nessa conversa. Eu estava aguardando no Delboni pra fazer alguns exames ginecológicos de rotina e ele aproveitou o gancho de algo que eu disse, já que eu estava aguardando pra fazer o exame do PH vaginal.

– Esse aí eu te chupo e falo fácil o resultado.

– Ela é ácida?

– Não. Docinha. Por isso eu saberei se o PH estiver ácido.

– Você falando de me chupar eu já fico excitada.

– Nem me fale. Hoje meu amigo me chamou de novo. Disse que ontem ficou muito excitado com a nossa conversa. Falei pra ele que depois que paramos de conversar você gozou duas vezes. Ele enlouqueceu. Falei pra ele que saímos pra jantar e vc me mandou foto da ppka quando foi no banheiro. Ele ficou doido. 

– Vc mandou a foto pra ele?

– Mandei. (Não aparecia seu rosto)

E daí ele trouxe um print da reação do cara, elogiando a minha pepeka, dizendo que era linda. 

Aquilo não bateu legal pra mim. Eu estava aguardando pra fazer um exame médico, não estava no clima e me senti desvalorizada, com meu próprio namorado me oferecendo pra um amigo. Enviando uma foto que eu tirei PRA ELE, sem a minha autorização, para outra pessoa. 

Naquele momento eu refleti um pouco: “Será que estou sendo chata?”, “Será que deixo isso pra lá e sigo o bonde?”. Mas aí eu não estaria sendo sincera comigo mesma. E não seria justo eu invalidar o meu próprio sentimento, apenas para não me indispor com ele. 

– Não sei se me sinto confortável com isso. Uma coisa é estarmos juntos durante tal conversa. Outra coisa é você, secretamente, ficar trocando putaria com seu amigo e enviando nude meu. Fico com a sensação de que sou um mero objeto sexual pra você ficar me “compartilhando” assim com seus amigos. Ainda mais um amigo que vc sequer tem tanta proximidade e que reapareceu de repente.

Coerente, não?

– Entendo. Me desculpe por isso. Não acontecerá novamente.

– Obrigada por entender. 

– Ficou bem claro.

De repente ele pareceu ressentido. 

– Vou corrigir, obrigada por compreender. Que estava entendível eu sei, mas a compreensão é de acordo com a sensibilidade do outro.

– Eu entendo, mas não compreendo. Você vende fotos e vídeos no Only, mas se irritou pq eu compartilhei uma foto sua, que não mostra seu rosto, com um cara que estávamos conversando aquele dia. But….

– Não é pq sou uma criadora de conteúdo adulto, que me agrada o meu namorado ficar enviando nude meu, sem a minha prévia autorização, pra uma pessoa que eu sequer conheço. Você disse bem, estávamos conversando *aquele dia*. A continuidade dessa conversa não se deu comigo junto.

– 👍🏻

– Vejo que falta muita sensibilidade em você, quando digo algo que me desagradou. Você faz parecer que eu sou a errada por ter achado ruim.

– De jeito nenhum, só achei hipocrisia. Vc tem fotos mostrando a buceta no seu blog, no seu twitter, e fica brava pq eu mandei uma. Não faz sentido pra mim. Tenho pra mim que não foi isso que incomodou. Se não gosta de se expor, não se deixe exposta como faz.

– O problema não é a minha exposição, é você trocar putaria com seu amigo, sem me incluir na brincadeira e usar foto minha pra alimentar a conversa de vocês. Além da falta de cumplicidade, me faz sentir um mero objeto sexual. As fotos postadas foram feitas por mim. Logo, eu posso fazer o que bem entender com elas. Agora você enviar uma foto minha, que enviei a você num momento íntimo nosso, pra uma terceira pessoa, sem a minha prévia autorização, não acho bacana.

– Está correta. Pode fazer o que bem entender mesmo.

– Você poderia ter compartilhado comigo a mensagem que ele mandou e irmos decidindo juntos se mandaria a minha foto ou não. Me senti excluída. Excluída, porém, a punheta dele foi as minhas custas. A Sara vive disso, quem tá no meu Only e viu a foto, tá pagando pra isso. A ******, namorada do ******, não. Você sempre fala da importância de separar uma da outra, mas quando é pra sua conveniência, você fala das duas como se fossem uma coisa só. 

Continuei imbatível:

– E você ainda nem teve a delicadeza de enviar como visualização única. Fez questão de deixar lá no banco de imagens da conversa de vocês.

– Eu excluí para os dois… não se preocupe.

– Pq eu reclamei, não pq vc teve essa sensibilidade. 

Daí voltei na parte da conversa em que eu dizia sobre a falta de cumplicidade, resgatando sobre me fazer sentir um mero objeto sexual:

– É isso que eu sou pra você?

– Se vc fosse um simples objeto sexual, eu pagaria pra transar com vc, igual seus clientes fazem. Depois, te daria tchau.

– Que resposta mais cruel. Ao invés de você trazer coisas positivas da nossa relação ou a meu respeito, você me traz isso, afinal, pra que vc pagaria, se você já tem de graça?

– Você quem está dizendo.

– E vejo que você nem se esforça pra me convencer do contrário mais. Claro sinal de que você já não se importa mais com a nossa relação.

– Você me dá uma liberdade, e depois me tira… Depois de hoje eu sinto que tenho zero liberdade com você… E tá tudo bem.

Sempre é sobre ele. 

– Talvez se isso viesse à tona em outro momento, sem os últimos acontecimentos, eu poderia ter recebido de uma outra forma.

– Talvez. 

– Sabe qual a minha análise de tudo isso? Você me usou pra deixar o cara excitado, igual aquele cara da natação usou a própria noiva pra excitar você. Você tá fazendo isso por você, e não por nós.

*

Vamos a um rápido adendo: Essa história da natação foi a primeira vez que ele me trouxe sobre o contato dele com outro homem. Disse que tinha sofrido um “abuso” de um cara que fazia natação com ele. Eles estavam tomando banho no vestiário, que lá não tem divisórias, e que o cara começou a falar da noiva, coisas do tipo: “Nossa você viu como ela tava gostosa hoje?”, “Sabe aqueles dias que a gente tá com muito tesão? Hoje eu tô assim, cara, quando chegar em casa vou fazer um estrago nela.” Daí o Intenso começou a ficar excitado com a descrição do cara e se virou de costas para o outro não perceber que ele se excitou com a noiva dele, mas quando se virou de volta, de repente o cara estava na frente dele e começou a masturbá-lo. 😮

Diz o Intenso que ficou completamente sem ação, que devido ao choque ficou paralisado, enquanto o cara continuava o masturbando. Ainda assim, como a ereção é estímulo, ele continuou excitado e estava quase gozando. Só não foram até o final, porque em algum momento alguém entrou no banheiro, e o cara voltou para o seu chuveiro. 

Depois desse ocorrido, o Intenso evitou de ir à natação por algumas semanas, até que retornou com a rotina, porém em horários diferentes, de modo que não cruzasse mais com o cara no banheiro. No entanto, disse que a partir desse ocorrido, lhe despertou uma curiosidade pelo masculino. 

Eu nunca fiquei, muito menos me relacionei, com caras bissexuais antes (pelo menos, não que eu saiba), mas, quando ele me contou essa situação no terceiro encontro, por vir dele, alguém que eu já estava gostando, procurei abrir minha mente.

*

Agora voltando ao momento atual do post, tive a percepção de que ele estava querendo seduzir o “amigo”, me usando como isca.

– Você não me incluiu na conversa em tempo real, não pq foi “algo pontual”, como você disse, pois deu pra ver que conversaram bastante pra você ter tempo de contar da quantidade de vezes que gozei e da nossa noite no restaurante. Você não me incluiu na brincadeira pq você queria ter essa troca com ele sozinho. – Continuei.

– Chegamos em um ponto onde começamos a puxar coisas do passado e trazer pra nosso relacionamento. Vieses antigos. Assim como vc fez agora. Vc tem dimensão do que vc acabou de dizer? – Ele se defendeu.

Não continuei mais a conversa e meia hora depois falei que não estava bem, pedindo para falarmos em ligação. A chamada durou mais de 1h. Falamos sobre o ocorrido novamente e percebi um clima hostil, ele ainda parecia ressentido por eu não ter embarcado no barato dele. 

Na manhã seguinte, quando eu estava recapitulando a nossa programação do fim de semana (ele tinha comprado ingressos para irmos assistir um espetáculo), ele me solta essa:

– Acho que não vai rolar.

– Como assim?

– Eu não vou praí esse final de semana. Chama o Denis, vai com ele. Vou ficar em casa, descansando minha mente e refletindo. Nossa conversa de ontem à noite contribuiu muito pra essa decisão. Preciso de um tempo pra mim.

– Que parte exatamente da conversa?

– Toda nossa conversa à noite.

– Compreendo. O Denis começa a trabalhar no evento essa sexta. Eu gostaria muito de ir na peça com você, até pq, quando compramos, o intuito foi termos esse momento juntos.

– Eu sei que você sabe que é muito difícil pra mim já lidar com o seu trabalho… Imagina ainda com os surtos que andam ocorrendo… Só fica tudo mais difícil. É muita coisa pra eu lidar ao mesmo tempo… Eu estou ficando doente, estou ficando louco. Ontem pela primeira vez eu senti que perdi toda a liberdade com você. Não me sinto mais confortável em falar besteira, ou puxar algum papo mais quente… Me sinto extremamente limitado agora.

Sempre sobre ELE. Quando algo desagrada ele, zero sensibilidade para receber o que ME desagradou. 

A manipulação dele foi tanta, que quando vi eu estava ME DESCULPANDO pelo ocorrido do dia anterior. Me desculpando pelo surto que eu tive por ele me expor pra um estranho, sem o meu consentimento. Ele conseguia me fazer me sentir mal por não estar bem com ele, mesmo que eu estivesse com a razão.

E o desentendimento ganhou uma proporção gigantesca e exaustiva. Dessa questão voltamos pro lance dele com a menina, disso pro Achismos e lá veio ele com as manipulações e vitimizações dele:

– Quando vc sai pra trabalhar eu me sinto um lixo. Vamos parar de nos machucar. Eu não aguento mais isso. E de todas essas pessoas que pagam pra sair com vc, quantas delas aceitariam sair de graça, em troca assumir um relacionamento?

* Deixo aí a indagação para os meus leitores/seguidores nos comentários *

– Talvez pra gente se reconectar, seja necessário nos afastarmos primeiro. – Sentenciou.

Insisti um pouquinho mais, tentando fazê-lo mudar de ideia, mas ele foi irredutível, determinado a ficar “sozinho” naquele fim de semana. 

– Eu não quero ficar aqui falando coisas pra te ofender, mas não é só sobre o achismos, é sobre o trabalho, sobre os mais de mil homens, sobre o blog, sobre a Sara.  Cheguei no meu limite de exaustão com tudo isso. Esse final de semana não vou praí. Preciso cuidar de mim agora. De me organizar.

Eu tinha pegado o cara flertando com outra na semana anterior, ainda ficou afetado porque eu queimei seu filme com ela, agora ficava puto porque eu fui contra uma interação masculina as minhas custas e ainda me manipulava para que eu me sentisse culpada por tudo isso.

– Esse afastamento será somente por um final de semana ou por tempo indeterminado? – Perguntei.

– Não sei. Só sei que esse fds eu quero ficar comigo mesmo.

*

Ficamos sem nos falar por quase uma semana.

No sábado ele me removeu do Instagram, me parecendo que já tinha tomado uma decisão, o que achei estranho, como que ele já tinha refletido em apenas um dia? E terminaria assim sem um diálogo antes? Simplesmente me removendo? 

Domingo ele desativou a conta do Instagram e fiquei com a impressão de que estava querendo chamar a minha atenção, para que eu quebrasse o silêncio e fosse atrás (como eu sempre fazia). Mas me mantive firme, dando o tempo que ele queria.

Paralelamente, de domingo pra segunda, mergulhei nas pesquisas sobre o homem narcisista e fiquei impactada em como tudo encaixava!

O homem narcisista em relacionamentos costuma seguir um padrão bem característico: inicialmente encantador, mas depois profundamente destrutivo. Ele pode sentir atração, apego, dependência emocional ou até gostar genuinamente de algumas coisas na parceira, mas tudo isso normalmente está condicionado ao quanto ela supre as necessidades dele, e não a um interesse genuíno pelo bem-estar dela.

O Ciclo do Narcisista

  1. FASE DA IDEALIZAÇÃO

No começo, ele é intenso, encantador e sedutor. Faz a parceira se sentir única, especial, admirada — é o chamado love bombing.

  • Demonstra extrema atenção e interesse
  • Envia mensagens constantes, elogia e faz promessas de futuro
  • Espelha gostos, opiniões e desejos da mulher (para gerar conexão imediata)
  • Cria uma sensação de “alma gêmea”

Mas essa fase é estratégica, ele quer ganhar admiração, confiança e controle emocional rapidamente.

2. A FASE DA DESVALORIZAÇÃO

Assim que sente que “conquistou”, o comportamento muda.

  • Passa a criticar, ironizar e diminuir sutis traços da parceira
  • Alterna carinho com frieza e silêncio
  • Faz com que você se sinta culpada e confusa, duvidando de si mesma
  • Começa a testar limites emocionais, vendo até onde você aguenta

O objetivo é minar sua autoestima e reafirmar o poder dele sobre a relação.

3. FASE DO DESCARTE

Quando ele já extraiu o que queria (admiração, sexo, status, cuidados), ou quando a mulher começa a questioná-lo, não suprindo mais as suas necessidades, o narcisista descarrega e descarta.

  • Se afasta friamente, como se você nunca tivesse significado nada
  • Faz parecer que a culpa é 100% sua, mesmo que ele tenha causado os problemas
  • Se aproxima de outro alvo antes mesmo de terminar, muitas vezes já existe outra pessoa “no ponto”. O objetivo é sair no controle da situação, sem parecer fraco ou rejeitado.

Ele pode sumir completamente (silêncio total) ou exibir nas redes sociais uma vida feliz, nova parceira, conquistas, tudo para provocar em você um sentimento de perda, ciúme ou arrependimento. – Sempre que postava foto comigo nos stories, ele ficava repetidamente olhando as pessoas que tinham visualizado, provavelmente eu estava cumprindo esse papel, de causar ciúmes na vítima anterior que ele tivesse se afastado. – O descarte não é necessariamente definitivo, ele pode voltar depois tentando reabrir o ciclo com promessas e nostalgia.

4. A FASE DO RETORNO

Quando percebe que você está se afastando de vez ou seguindo em frente, ele reaparece. Podendo:

  • Vir de forma carinhosa (“sinto sua falta”), nostálgica (“lembra daquela viagem?”) ou até disfarçada de preocupação (“como você está?”)
  • O objetivo não é necessariamente voltar para amar, é testar se ainda tem acesso ao seu afeto, tempo e energia

5. A FASE DA REPETIÇÃO

Se você cede, ele volta ao ciclo inicial, com nova fase de idealização. Porém, essa “segunda volta” costuma ser mais curta e mais intensa em termos de manipulação, porque ele já sabe onde atacar sua autoestima.

  • Cada vez é pior
  • O encantamento dura menos, a desvalorização vem mais rápido, o dano é mais profundo.

Até que, um dia, você desperta e entende: o verdadeiro amor começa quando você corta o ciclo e escolhe a si mesma.

*

E isso é só uma fração do que pesquisei, fiquei HORAS estudando esse traço de personalidade, mergulhei muito mais fundo, fazendo mil questionamentos como, por exemplo: “O Narcisista nasce assim ou se torna com o tempo?”, “Eles nunca amam de verdade?”, “Por que o narcisista tem tanto ciúmes?”, “É possível deixar de ser um? Existe cura?”.

Eles não amam genuinamente, eles gostam de você, enquanto você oferece a validação que eles tanto precisam. Para existir amor precisaria haver empatia, algo que não existe no narcisista. (Isso explicava muito o fato de toda vez que a gente brigava –  por eu me defender dos seus ataques – ele não vir atrás, ou admitir qualquer culpa).

Eles nunca reconhecem que erraram, porque isso ameaçaria diretamente o núcleo mais frágil da sua personalidade: o ego inflado e a necessidade constante de se ver como perfeito, superior e irrepreensível. Assumir erros exigiria empatia e autorreflexão, duas coisas que o narcisista geralmente não tem desenvolvidas. Ele vê as relações como jogos de poder, não como trocas de afeto.

*

Aprendi que ele não era bom pra mim, nem pra ninguém. Essa concepção me ajudou na virada de chavinha, comecei a me sentir melhor, olhando para o seu afastamento como um grande livramento.

Mas…

Mesmo sabendo de tudo isso…

Infelizmente…

Ele me manipulou na fase 4 – a do retorno – e eu passei para a fase 5 – a da repetição.

Preparados para a segunda rodada?