Perdendo a Fé nos Homens

Querido diário,

Acho que nunca contei nessas páginas sobre o meu último relacionamento. O tal que morei junto e que parei de atender por conta dele. Sempre fui muito discreta em relação a ele, pela forma como nos conhecemos: era cliente. Mas ao contrário do Habib e Fenomenal, já relatados aqui, que me deixei envolver e eram casados, com este o curso da história foi totalmente ao contrário.

Na primeira vez que saímos, ele também era comprometido, casamento nas últimas, até me mostrou a foto da esposa e me surpreendi que ela fosse tão mais bonita do que ele. Sobre o nosso encontro, sinceramente falando, não gostei muito. Não me atraiu em nada e a parte sexual também não teve nada de surpreendente.

Meses se passaram e ele voltou a me procurar. Desta vez, recém separado, reconstruindo sua vida. Neste encontro lhe fiz uma deliciosa massagem tântrica – lembro dele dizendo que tinha sido muito intenso –, e ao final do encontro lhe indiquei um filme que o ajudaria muito nesse processo de “voltar pra pista”, chamado “Amor a Toda Prova”, pelo nome parece um filme mela cueca, mas, pelo contrário, tem uma trama muito interessante e condizente com esse momento de vida, do homem mais velho que termina um casamento de anos e precisa reencontrar a sua masculinidade.

Mais alguns meses se passaram, até que ele voltou a me procurar. Agora o atendimento foi direto no seu apê de homem solteiro. Eu fiquei bastante surpresa quando ele abriu a porta, estava repaginado! Tinha deixado a barba crescer, fez uma tatoo grande no braço e tinha emagrecido! Uma outra versão muito melhorada. 👏🏻

– Adorei a dica do filme, me ajudou bastante. – Ele reconheceu, agradecido.

Se tornou meu cliente fixo, saindo comigo toda semana, inicialmente encontros de 4h que passaram a ser pernoite. Com o passar do tempo, atender ele não parecia mais trabalho, ele me tratava como uma legítima namorada, cozinhava pra mim – e mandava muito bem, poderia abrir um restaurante que seria sucesso –, assistíamos filme juntinhos no sofá, me levava pra jantar fora, enfim, dates que fugiam do estereótipo sexual de programa.

Na última vez que saímos pagando, lembro dele ter contratado um pernoite de sexta para sábado e no dia seguinte eu não queria ir embora. Tive que decidir naquele momento se ultrapassava essa linha ou não, e acabei decidindo por sim.

– Você sabe que essa é a última vez que você sai comigo pagando, né? – Admiti pra ele.

– Ainda bem, já estava ficando sem dinheiro. – Ele brincou, rs.

Logo mais veio a pandemia, o que intensificou ainda mais o nosso envolvimento. Em um mês saindo, sem que houvesse mais a parte financeira envolvida, oficializamos o namoro.

– Você está namorando com essa *******? Todo fim de semana só fica com ela! – Um amigo dele o questionou, e ele estava me contando.

– E o que você respondeu? – Perguntei.

– Que sim.

– Você me pediu em namoro, por acaso?

– Precisa pedir?

– Mas é claro!

Daí ele se ajoelhou e me pediu em namoro, fazendo toda uma cena. Foi muito fofinho. Confesso que levei algum tempo para desvincular a sua imagem a de um cliente. Muitas vezes tinha receio de compartilhar alguma coisa dos encontros, pensando nele como um cliente também, como se eu estivesse sendo antiética, não o vendo como alguém que eu poderia compartilhar qualquer coisa. Foi uma delícia quando a minha chavinha virou e já não o via mais como alguém que um dia precisou pagar para sair comigo.

No começo ele lidava bem com o meu trabalho, mas conforme foi ganhando mais importância na relação, começamos a ter sérios desentendimentos, por ele não se sentir confortável de eu continuar atendendo, com receio de que da mesma forma que me envolvi por ele, também me apaixonasse por outro. Quando completamos um ano de namoro, decidimos morar juntos, como uma forma de reduzir os meus gastos. Foi nesse período que criei minha conta no OnlyFans, com o intuito de migrar a minha fonte de renda.

E lá fomos nós, entramos de cabeça nessa vida a dois. Coloquei meu apartamento pra alugar, ele também saiu do que ele estava e nos mudamos para um maior. Me senti muito feliz durante esse período, estava completamente apaixonada, já imaginando o dia que nos casaríamos oficialmente e teríamos filhos.

Ele tinha uma vida social bastante ativa, todo final de semana íamos para eventos diferentes com a sua turma, sempre viajávamos com dois casais de amigos, festas, churrascos, esse povo rico sabe viver a vida. O curioso é que nunca consegui me conectar completamente com as namoradas/esposas dos amigos dele. Isso me incomodava muito por dentro, como se eu não me encaixasse naquele meio. Não que elas me tratassem mal, muito pelo contrário, mas nunca rolou uma amizade profunda, organicamente.

Tentei fazer dar certo a minha carreira de atriz, trabalhando em alguns eventos, mas nada que me trouxesse a renda que eu tinha antes, é claro, o que, com o passar do tempo, começou a me gerar incomodo. Uma vez, o chamei pra conversar e falei sobre eu voltar a atender, apenas para estruturar a minha saúde financeira, já que parei de atender abruptamente por conta do nosso relacionamento – ele bancava a casa, nossos passeios e viagens, mas as minhas despesas mensais ficavam por minha conta –, e ele não foi nada flexível, dizendo que se eu voltasse a atender, terminaríamos. Egoísta. Pensando apenas na sua insegurança masculina, mesmo as minhas contas não fechando, todo mês no vermelho, desde que começamos a morar juntos.

Com o passar do tempo, o meu sentimento por ele foi diminuindo, uma vez que eu precisei me diminuir para estar com ele. Eu não tinha mais autonomia financeira, não podia mais fazer as coisas que eu gostaria, como aulas de canto e dança para me desenvolver nas artes, eu nem andava mais de uber e também tive que reduzir o amparo que fornecia a minha mãe. Me vi num grande retrocesso de vida. Tinha saído de casa, aos 25, pra ter a minha independência, pra agora estar presa num pseudo casamento, sem nenhum puto no bolso.

Por outro lado, eu não tinha o que me queixar dele. Era um lord comigo, cozinhava pra mim, me tratava como uma rainha. Pagou até coach profissional para que eu descobrisse outras áreas que eu pudesse me desenvolver profissionalmente. Mas num destes tantos testes que precisei fazer com ela, descobri que estabilidade financeira é um valor muito importante pra mim, e talvez por isso que eu estivesse cada vez mais tão incomodada de continuar naquele relacionamento.

A chavinha não virou do dia para a noite. Aos poucos fui ficando sem paciência, sem vontade de transar e calhou dele passar um mês fora viajando a trabalho. Eu ainda mantinha as minhas redes sociais da Sara e, um dia, enquanto ele viajava, decidi responder uma mensagem no Twitter, em que a pessoa me perguntava se eu atendia casal. Num primeiro momento respondi que não mais e indiquei a Manu Trindade. Mas depois voltei na conversa e especulei para quando gostariam. Eu não confirmei que os atenderia, no entanto, cogitei essa possibilidade.

Para o meu azar – ou não –, o meu Twitter estava logado no celular dele. Ficou furioso e desconfiado de que eu já estivesse atendendo escondido, já que ele estava o mês inteiro fora. Eu não estava, mas também não fiquei me desculpando por nada, não era novidade que eu estava sem dinheiro e chegou um certo ponto em que comecei a pesar na balança o que era mais importante, um relacionamento ou minha independência financeira. Diante das circunstâncias, continuar com ele já não tinha mais o mesmo brilho e vê-lo me acusando de estar atendendo pelas suas costas, me causou mais revolta ainda, pois, odeio ser acusada de algo que não fiz. Por outro lado, suas acusações me fizeram me imaginar naquele cenário – o de estar atendendo novamente – e gostei de me ver nesse lugar, tendo a minha antiga vida de volta.

Nesse momento o jogo inverteu. Vendo que eu terminaria com ele para voltar aos atendimentos, ficou mais flexível, querendo ceder a um pedido meu do passado, quando propus que eu voltasse a atender até me estruturar financeiramente. Mas agora era tarde demais, eu não queria ter que ficar mais dando satisfação para ninguém e voltar a ter a minha total liberdade para fazer o que eu bem entendesse. Lembro como se fosse ontem a nossa conversa que culminou no término, foi a mais difícil que conduzi em toda a minha vida.

Ele chegou de viagem e me buscou no meu trabalho de atriz. Ali eu vi que não sentia mais nada por ele, pois fazia dias que não nos víamos e eu sequer estava com saudade. Ele tentou me beijar no carro, mas me esquivei da sua investida e falei que em casa conversaríamos, eu que não ia lhe provocar emoções enquanto dirigia. Quando chegamos, na maior calma, falei que ia tomar banho e enquanto eu estava no chuveiro, estruturei toda a conversa na minha mente. Eu sabia o que eu queria, mas não sabia como colocar pra fora de forma condizente, mas, conforme aquela água caía sobre a minha pele, veio tudo naturalmente.

Nos sentamos na sala e então comecei.

– Eu não estou mais feliz nesse relacionamento.

Pausa.

– Sinto um carinho e gratidão enorme por você, mas, os sentimentos que mantém uma relação viva, eu já não sinto mais. – Continuei.

Mais pausa.

– Quero voltar a atender e ter a minha independência financeira de volta.

– Não tem nada que eu possa fazer?

– Não.

– E se alinhássemos sobre você voltar a atender, ainda estando juntos?

– Quero ter minha liberdade pra atender tranquilamente.

Em resumo, foi uma conversa bastante difícil, ambos choramos. É difícil romper um ciclo, ainda mais um ciclo bom como tinha sido aquele. Ele foi tão evoluído que, dias depois, ainda me ajudou a empacotar as minhas coisas, mesmo que a minha partida doesse nele. Choramos muito no dia da minha mudança. Eu estava triste por estar indo embora, mas não triste o bastante pra continuar ali.

Ao todo nosso relacionamento durou pouco mais de dois anos e estamos separados há dois anos e quatro meses. Mantivemos contato, afinal, não tinha acontecido nada de grave para que terminássemos, traição ou coisa do tipo, apenas momentos de vida diferentes. Vez ou outra trocamos mensagens, nada que tivesse segundas intenções de nenhum dos lados.

O fato novo é que, recentemente, retomei o contato com uma grande amiga, – uma que estávamos há meses sem nos falar, mas que sempre fomos muito próximas, inclusive na época que eu ainda estava com ele – e descobri que esse homem que eu nutria um certo respeito e admiração por toda a nossa história, estava dando em cima dela! (Talvez pensou que por estarmos afastadas, tudo bem cortejá-la, ignorando o fato de sempre ter sido uma pessoa muito próxima a mim e que poderíamos retomar a amizade a qualquer momento). Não é uma amiga qualquer, mas justo uma que frequentava a nossa casa, que sempre estava presente nos eventos que organizávamos para reunir a galera.

Quando ela me contou, não pensei muito na perplexidade que aquela informação representava e reagi numa boa.

– Amiga, se você quiser tudo bem, dou o maior apoio, não sinto mais nada por ele. – Até me diverti com a possibilidade.

Mas conforme ela avançava no relato e me mostrava as mensagens trocadas, se mostrando perplexa e nem um pouco interessada, que foi caindo a minha ficha do grande papelão que ele havia cometido, ao ponto ainda dele argumentar com ela, que a minha amiga não estava embarcando no flerte dele por medo de mim, ignorando o fato dela não estar interessada e também de haver um respeito e código de ética entre amigas, quando se refere a ex-namorados (que dirá ex maridos). Entendo que não estávamos mais juntos, mas ainda assim achei feio, pra não dizer péssimo.

A imagem que eu tinha dele ruiu completamente. Eu o via como um cara super legal, correto, decente, até mesmo por ainda mantermos contato de forma respeitosa, interagindo vez ou outra sobre algum assunto, mas saber que ele deu em cima da minha melhor amiga (ainda que estivéssemos brigadas) me fez criar um certo desprezo e ranço, ainda que, de verdade, eu não tenha mais o menor interesse nele há muito tempo. Será que estou sendo antiquada?

Você que é homem, acha normal e plausível dar em cima de alguém muito próximo da sua ex? E vocês mulheres? Como receberiam algo desse tipo, mesmo que não sentisse mais nada pelo cara? Não ficariam com a sensação de que sempre houve esse interesse por parte dele, mesmo quando ainda estava com você? Estou sendo careta? Qual a visão de vocês sobre o assunto?

A Instituição do Casamento

Querido diário,

Hoje estou aqui para divagar sobre um tema que tem aparecido muito no meu TikTok (criei a conta há uma semana) e caixinha de perguntas no Instagram. Algumas pessoas têm me perguntado nos comentários dos meus vídeos, sobre a minha profissão atrapalhar o meu futuro, quando eu decidir constituir uma família.

Percebi que essas perguntas começaram a me incomodar, como quando você vai visitar um parente distante e vem aquela tia chata perguntando: “e os namoradinhos?”, como se isso fosse o mais importante de tudo. Como se eu devesse alguma satisfação por ter esse estilo de vida. Como se eu não fosse uma mulher de valor ao ponto de um dia me casar, tendo toda essa bagagem.  Por outro lado, também me incomodou por alguém induzir que por eu ser mulher, é claro que eu quero tudo isso.

Essa questão me abriu uma série de reflexões comigo mesma sobre a instituição do casamento, filhos e como isso foi moldável a vontade da mulher. Afinal, é da natureza feminina querer ser mãe, casar e viver no padrãozinho da sociedade perfeita.

Continuei indo mais fundo nas minhas reflexões e cheguei à conclusão de que, para início de conversa, talvez, eu não acredite na instituição do casamento. E eu não sou uma pessoa fria, muito pelo contrário, sou bastante romântica e acredito no amor. No amor, mas não no casamento.

Não estou dizendo que não existam casamentos genuinamente felizes, que dão certo e duram até o fim da vida. Mas acredito que esses são as exceções e não a regra. E antes que você pense: “Que propriedade essa menina tem para falar do assunto?”, te digo que eu tenho muita, pois, atendo muitos clientes casados e também já vivi esse modelo de relacionamento.

Não julgo os meus clientes, pois, já estive do mesmo lado. Você ama a pessoa, mas se atrai por coisas novas. Aí vem os moralistas e falam que é falha de caráter, a falha é obrigar a pessoa a viver num sistema monogâmico porque assim foi estipulado pela sociedade há milhões de anos. 

Com meu último namorado moramos juntos e terminei sem que nada de grave tivesse acontecido. Simplesmente aquilo perdeu o sentido para mim. Desde então fui buscar terapia, pois, na minha cabeça também era inconcebível que eu tivesse me cansado daquele modelo lindo e seguro de relacionamento.

Eu mesma, quando era mais nova, achava que queria tudo isso. Estava dentro de um namoro desgastado de 8 anos, com o meu primeiro, e mesmo não sendo plenamente feliz, queria intensificar ainda mais os laços com ele, pois achava que era assim que tinha que ser. Você namora, casa, tem filhos e é isso. O ciclo da vida. Como se eu tivesse sido programada para ser assim.

Não eu.

Eu gosto de ser livre, independente e o casamento é uma privação de tudo isso. Isso não quer dizer, obviamente, que não quero ter alguém legal para dividir alguns momentos da vida. Mas por que precisa ser 8 ou 80? Quando eu falo sobre ter contatinhos, muitos se divertem achando que estou contando uma piada, não, eu realmente acho que a vida é curta demais para ficarmos presos a uma única pessoa, nos privando de termos várias experiências diferentes, com pessoas diferentes.

Sim, não vou ser hipócrita e dizer que quando estou apaixonada por alguém, eu não me iludo com o pensamento de que quero ficar somente com aquela pessoa até o fim, também. Todo mundo é fiel no estágio da paixão. O grande ponto aqui é que isso não se sustenta. Em algum momento, o fato de a pessoa sempre estar disponível pra você, te tirará a grande emoção do desafio.

Daí os moralistas vão dizer: “É natural você desejar outra pessoa, mas o que não pode é se sucumbir aos desejos”. Que merda de vida é essa que você precisa ficar se reprimindo, transando com a pessoa que você está junto e pensando em outra? Por que as pessoas não podem simplesmente aceitarem que é normal você estar com alguém e se atrair por outra? Que é normal você não querer ficar passando vontade?

Daí você me pergunta: “Então quer dizer que quando você casar será compreensiva se for traída?”, esse é o X da questão, eu não quero casar e passar por isso, porque eu já sei que o modelo de casamento não é compatível.

Então a pergunta certa não é se eu não acho que o meu estilo vida vai me atrapalhar, como se eu tivesse que me moldar ao que é aceito e bem-visto pelo/alguns homens, mas sim, o que será que é preciso para um homem me conquistar a este ponto?