Minha Vida de Acompanhante

Querido diário…

Estava aqui divagando sobre uma coisa… o que seria de mim se a Sara deixasse de existir? Sabemos que um dia isso vai acontecer, não é o tipo de coisa que dá para fazer pelo resto da vida, como ser dona de um restaurante ou de uma academia, é mais como a carreira de uma modelo ou de um jogador de futebol, com pouco tempo de vida… mas e quando acontecer? O que será de mim quando tudo isso acabar?

Ser acompanhante me trouxe muita experiência de vida. Apesar de ser algo super discriminado e mal visto pela sociedade, viver essa experiência contribuiu muito para o que sou hoje. Me ensinou tanta coisa. Fora o aprendizado, também me proporcionou momentos que eu jamais teria na minha vida comum de antes. Poderia ter me perdido neste meio, mas isso não aconteceu, pelo contrário, fiz bem para outras pessoas, assim como também fizeram o bem para mim.

Quantas vezes eu não estava num dia legal, precisei sair para atender e voltei com outra energia, me sentindo muito melhor de quando eu saí? Claro que o contrário também já aconteceu, mas, se eu fosse colocar na balança, essa atividade me fez mais bem do que mal e não estou nem considerando a questão financeira.

Nesses dias de quarentena tenho refletido bastante, imagino que todos nós, e cheguei a conclusão de que atender, para mim, é muito mais do que sair e voltar para casa com dinheiro. É também uma terapia. Uma maneira de relaxar, sentindo prazer junto com a outra pessoa. Nos encontros eu dou risada, troco ideias, aprendo sobre coisas que eu não sabia ou não conhecia e o mais legal: conheço gente nova! Mesmo que o cliente, que antes era novo, se torne um rosto conhecido pelos repetecos, continua sendo uma pessoa que, provavelmente, eu jamais conheceria em um contexto diferente. E é tão gostosa essa rotina dos encontros! Sair de casa para viver novas aventuras, poder diversificar no sexo, sem sentir que estou traindo alguém, ser desejada e bem-quista por homens que mesmo sem me conhecerem, me tratam como se eu fosse especial para eles.

Como em toda e qualquer profissão, não vou dizer que são só flores, eu estaria sendo hipócrita, se não reconhecesse que há aqueles atendimentos em que penso: “O que eu estou fazendo aqui?” Mas não são esses momentos que me marcam, que são relevantes ou importantes para o meu interior. São apenas uma passagem entre os momentos bons e os incríveis.

Será muito louco quando eu precisar aposentar. Me desvincular de um processo tão importante que fez parte da minha vida. Como será quando eu tiver bem mais velha, lembrar dessas peripécias na mocidade? Relembrar o tanto de aventuras sexuais que já vivi, o tanto de rostos e corações que eu conheci, o tanto de clientes que, mesmo sem poder, eu me encantei, e as eventuais situações que me decepcionei?

Sentirei falta de tudo isso.

Das coisas boas e também das ruins.

E quanto a ti? O que será de você quando a Sara Müller deixar de existir?

Será que já terá tido pelo menos um encontro comigo para também levar essa lembrança?  ?

 

video
play-rounded-fill