“O Intenso” – Parte 8

O Lado B da História

Parte 2

Querido diário,

Chegamos a continuação tão esperada, que rendeu 18 páginas do Word! Acho que nunca escrevi tanto numa tacada só! Peguem a pipoca e venham se horrororizar comigo.

Cheguei na casa dele quinta a noite e fui recebida da melhor maneira possível. Quando nos abraçamos no elevador, pude sentir uma onda forte de energia atravessando o nosso corpo, uma sensação muito intensa. Logo que entramos no seu apartamento, ele já partiu pra sedução, me encostando na parede, muitos beijos e amassos, desceu para me chupar, ele estava muito dedicado. Sempre que a gente brigava e depois transava, as transas eram ainda mais intensas, como se o medo da perda intensificasse ainda mais aquela oxitocina. E toda aquela devoção sexual que me demonstrava, enquanto me agradava, me fez sentir poderosa, como se nada pudesse separar a gente, porque juntos éramos imbatíveis. Tivemos um sexo selvagem delicioso com ele me pegando de quatro, uma de nossas melhores transas. Ficamos de grudinho pelo resto da noite, foi maravilhoso.

Para aquele fim de semana, ele tinha combinado um jantar na casa dele com um casal de amigos, para que eu fosse oficialmente apresentada. Seriam as primeiras pessoas que eu conheceria do lado dele. Enquanto o sábado não chegava, sexta ele conseguiu se liberar do trabalho e ficamos de preguicinha no sofá, até jogamos vídeo game, um jogo que eu adorei, chamado Death Stranding, foi alucinante jogar chapadinha, altas brisas e reflexões.

Mais tarde, enquanto eu escrevia em seu MacBook, subiu uma mensagem de um amigo dele, e só então percebi que o WhatsApp estava conectado. Eu, inocentemente, comentei com ele sobre a mensagem de seu amigo e foi então que ele também se lembrou que estava logado no computador. 

– Ahh você viu aí? – E veio, como quem não quer nada, tentar deslogar. 

– Tá tudo bem, pode deixar. – Falei numa boa, sem qualquer intenção de espionar. 

– Não ia deslogar não, só ia desativar a notificação pra não te desconcentrar. 

Sei. 

Daí ele acabou cochilando no sofá e eu segui no meu processo criativo, naquele dia eu escrevia sobre a Parte 4, contando de quando fomos na Hot Bar (pra vocês terem uma ideia da linha do tempo de como as postagens aqui estão atrasadas em relação aos acontecimentos em tempo real). 

Quando me dei conta que ele tinha dormido, me ocorreu o pensamento de dar uma espiada no WhatsApp dele. Juro pra vocês que eu pensei em olhar mais por curiosidade boba, não que eu esperasse encontrar algo de fato, afinal, ele sempre se mostrava muito apaixonado, mas já que estava ali, pensei: “por que não?” 

Curioso que, ao mesmo tempo em que eu não esperava encontrar nada incriminador, uma vozinha na minha cabeça disse “termina de escrever primeiro pra depois olhar, porque se você encontrar algo que não gostar, vai estragar todo o seu processo de criação”. E assim o fiz, curiosa, porém focada, terminei de escrever toda a postagem e então, como ele ainda estava dormindo, fui espiar o seu WhatsApp.

Logo a primeira mensagem que constava, silenciada, nem arquivada estava, era de uma tal de Maristela, uma conversinha fiada entre eles, que se iniciou na quarta-feira. 

*

Recapitulando os acontecimentos da postagem anterior:

Segunda: ele viu minha participação no Achismos e nos desentendemos. 

Terça: ficamos o dia inteiro sem nos falar e nos reconciliamos somente a noite, porque EU fui atrás. 

Quarta: estávamos bem, mas tivemos aquela leve DR, sobre o que rolou segunda e terça. 

Ou seja, ele deve ter baixado o aplicativo na terça, que não estávamos nos falando, e na quarta, mesmo estando bem comigo, migrou a conversa com a menina para o WhatsApp.

Aquilo me deixou devastada. 

*

– Bom dia Dra. Maristela, tudo bem? Aqui é o *Filho da Puta Cretino*… você me passou seu whatsapp à pouco… me contou também que está de mudança para Campinas (o que me deixou bem animado inclusive)…

BEM ANIMADO???!

– Sei como é corrido esse processo de mudança… então fica tranquila, responda só quando realmente puder. Gostaria também de me colocar à disposição se você precisar de qualquer coisa nesse processo… (não sei se já tem alguma rede de apoio aqui em Campinas, mas conte comigo para o que precisar.)

NOSSA COMO ELE É TODO SOLIDÁRIO COM UMA ESTRANHA, NÃO?!!

– Obrigada pela empatia e disponibilidade! Vc é mt educado e gentil. – Tadinha dela, mal sabia a grande cilada que era esse estranho “gentil e educado”.

Aí, em outro ponto da conversa em que ela perguntava o que ele fazia, lá veio ele, vendendo seu peixe de homem bem-sucedido:

– Mari… já trabalho há 25 anos com TI. Hoje sou Diretor de Tecnologia de uma farmacêutica Suíça e também tenho minha empresa de tecnologia. Mas só comento quando me perguntam, pra não parecer presunçoso. Não sei o que buscava no APP… mas olhando seu perfil acho que me identifico muito com você… Pelo menos a mim, me dediquei tanto ao trabalho, carreira, que esqueci da vida pessoal… E hoje estou num momento de conhecer pessoas… e quem sabe não rola uma conexão…

OI??????? E O QUE ELE ESTAVA FAZENDO COMIGO ENTÃO?!

Daí a moça contou algumas coisas da vida dela, e lá veio ele de novo:

– Quando você diz que pessoalmente me explica melhor, você está indiretamente me iludindo que vai aceitar tomar um café ou um drink comigo hahahahahaha.

Nossa, tô morrendo de rir. 😒

– Eu estou no APP há poucos dias… e sinceramente, não é qualquer perfil que me despertou interesse. Confesso também que paguei o APP só pra te mandar mensagem.

A MESMA COISA QUE ELE TINHA FALADO PRA MIM, QUANDO DEMOS MATCH NO APLICATIVO!! QUE ELE TINHA PAGADO PRA FALAR PRIMEIRO COMIGO. AFF.

– Eu instalei esses dias tbm… jura? Hahahaha que fofo!

Quando ele veio com essa pra cima de mim, eu falei: “Mas eu que te mandei msg primeiro, que estranho”.

– Não me julgue… mas quando vi pensei: “Eu preciso conhecer melhor essa mulher”. Inteligência me atrai e você exala isso em seu perfil.

OS MESMOS XAVECOS QUE ELE DISSE PRA MIM, SOBRE EU EXALAR INTELIGÊNCIA E BLÁ BLÁ BLÁ.

– Eu também moro sozinho aqui. Comprei meu apê tem 8 anos. Mas quase não saio… muita correria de trabalho.

Qual a necessidade de falar que tinha apartamento próprio? Mostrar pra ela que tinha recursos a oferecer para a pobre donzela que estava vindo morar de aluguel em Campinas?

Em outro ponto da conversa, ela revelou que tinha 33 anos e ele respondeu:

– Meu Deus, uma criança. Quase pedofilia eu falar com você.

Que nojento isso. Ele tinha 39, nem era tanta diferença assim.

Daí a moça mandou um textão contando mais coisas da trajetória profissional dela, que ele só respondeu com “Estou boquiaberto” e então lá vinha ele se exibindo de novo:

– Tem algo que eu possa fazer para te ajudar nesse lance da mudança? Algum apoio logístico? (Tenho um carro bem grande, caso você precise carregar algumas caixas frágeis).

Apartamento próprio, carro grande, Diretor de TI, o macho alfa gostava de exibir as suas conquistas.

Ela agradeceu, disse que não precisava, mas que se precisasse gritava ele.

– Perfeito. Ficarei de plantão então.

Como é solícito, não?! 😒

– Você que é muito educada em me responder, um cara que você não conhece, que te abordou em um aplicativo.

– Somos mto educados e gentis! E legais… hahaha. – Ela estava animada.

– Hahahahah uma combinação perfeita pra um date legal. Vc preferiria um café ou drink? – Lá vinha ele atacante. – E se em algum momento eu for chato ou inconveniente, me fale por favor rs… eu tenho um senso de humor mais ácido e irônico… mas adoro fazer rir.

Daí ela soltou alguns elogios a ele:

– Me parece ser meio nerd tbm… hahahahaha adorei!

– Eu sou! E acredita que sou subjugado por isso? As mulheres tem preconceito…

– E quero falar com vc das pesquisas de uma pós sobre docência na saúde e IA… kkkkk

– Estou fazendo meu MBA exatamente em IA hahahahahahahahahahah

Não achei nada engraçado.

Ela reagiu com palminhas.

– Posso te propor algo? – Ele atacou novamente. – Eu gostaria de te levar pra jantar em um lugar que é muito especial pra mim aqui em Campinas. Acredito que você ainda não conhece.

Tenho certeza que ele ia levar ela no ELIXIR, o mesmo restaurante que me levou, é um lugar muito chique e lindo, perfeito pra impressionar alguém.

Preciso salientar que NUNCA na minha vida eu tinha passado por uma situação dessa. Só tive três namorados e nunca peguei qualquer traição, sequer desconfiei de alguma coisa. Vivenciar algo sim é a pior experiência para uma mulher. Quando o homem se depara com uma traição, imagino que está mais afetado pela questão do ego, preocupado se o pau do outro é maior, se fez a mulher dele gozar mais do que ele, mas pra mulher isso pega muito no lado sentimental da coisa. “Ele não me ama mais”, “Ele não me deseja mais”, “Ele não me vê mais como a mulher da vida dele”. A gente não está nem aí se a outra beija melhor ou transa melhor, questões sentimentais causam muito mais estrago do que uma mera comparação sexual.

Eu conseguia ouvir e sentir o meu coração batendo. Uma sensação muito estranha, como se eu tivesse em perigo. Minhas mãos tremiam e suavam. Me senti dentro de um pesadelo. O cara que eu tinha idealizado pra ter um relacionamento sincero e profundo não estava mais me vendo com a mesma importância, e o pior, flertava exatamente igual flertou um dia comigo. Eu era só mais uma, assim como ela.

Tirei fotos, fiquei lendo e relendo, me torturando repetidamente.

Em algum momento ele despertou e eu quase não consegui voltar com a tela para o word. Falei que tinha mexido em outras telas pra enviar para o meu e-mail (coisa que eu tinha feito mesmo) e emendei que ia tomar banho. E tudo isso foi dito com MUITA dificuldade, era como se eu tivesse desaprendido a falar, as palavras quase não saíram, mal olhei na cara dele enquanto falava.

Me tranquei no banheiro e devo ter ficado uma hora lá. Entrei no banho e chorei demais no chuveiro. Como doía. “E agora? O que eu faço?” Eu não sabia o que fazer. Eu não conseguia simplesmente terminar e ir embora, eu ainda gostava muito dele e não conseguia virar a chavinha rápido desse jeito. Me senti extremamente impotente. Tivemos uma tarde tão gostosa, por que aquilo tinha que ter acontecido?

Disparei mensagens e prints para todos os meus amigos, quem me respondesse primeiro seria meu ponto de apoio naquele momento:

A razão dizia: “VAI EMBORA AGORA!”, mas já o coração: “Você gosta tanto dele, poxa…” Acabei pedindo ajuda pro ChatGPT também. Fiz um breve resumo da situação e pedi pra me ajudar a estruturar uma conversa, eu não tinha o menor discernimento pra isso naquele momento:

Um ano depois, criei forças para sair do banheiro. Fui para o quarto de hóspedes e ele estranhou que não voltei pra sala, me chamou, vendo que eu não respondia, veio até mim. Estampava uma fisionomia preocupada, me perguntou o que estava acontecendo e desatei a chorar, igual uma retardada. Não consegui trazer nenhuma fúria pra xingar ele, pelo contrário, parecia que eu tinha levado uma surra. Ainda fiquei com a sensação de que ele começou a ficar impaciente com o meu drama. Mais preocupada por estar lhe causando alguma irritação do que por estar pronta pra falar de fato, entre soluços e frases, fui falando o que o chat tinha estruturado.

Como a minha amiga tinha previsto, ele jogou a culpa em mim, disse que foi um ato desesperado pelo que viu sobre mim no Achismos e em nenhum momento demonstrou qualquer arrependimento ou pediu desculpas, como se os seus motivos justificassem tal ato. Eu queria vê-lo se rastejando, implorando pelo meu perdão, mas isso não aconteceu e a minha decisão de perdoar teria que se dar por mim mesma e não por ele estar se esforçando muito pra me convencer disso. O que é ainda pior. Eu já tinha idealizado tanta coisa com ele, os seus amigos que eu conheceria na noite seguinte, a viagem para Ilhabela, que já estava fechada para aquele mês, fora as outras muitas lembranças dos momentos bons que eu não conseguia simplesmente jogar no lixo. Fiquei um tempão ali chorando, após me trazer as suas justificativas, se vitimizando, como se ele tivesse sido obrigado a tomar tais atitudes.

– Eu estava tentando achar um relacionamento normal. Você sabe como é difícil pra mim lidar com o seu trabalho. Eu te falei que depois que vi o Achismos eu dei uma desanimada.

– Mas a gente já tinha se entendido! E mesmo assim você tava marcando encontro com ela!

– Eu não iria no encontro.

– Claro que iria!

– Não iria. Eu iria acabar desmarcando porque já estaria bem com você.

Enfim, chorei, chorei, chorei, até que em algum momento, quando eu já não tinha mais energia nenhuma, ele me abraçou e fomos para a cama.

O sexo foi delicioso.

Ainda mais intenso.

No dia seguinte acordei encucada. Ele ainda dormia e eu já com meus dois olhões estalados olhando para o teto, pensando mil coisas. Peguei meu celular, baixei o Bumble e fiquei passando os perfis pra ver se aparecia o dele.

E apareceu.

BUSCO:

  • Um relacionamento sério
  • Encontros divertidos e casuais
  • Transparência
  • Alegria
  • Inteligência Emocional

O cara que enganava buscava transparência e inteligência emocional, que irônico e contraditório.

Quando perguntei na noite anterior se ele ainda estava no aplicativo, ele mentiu que tinha usado o Happen e Badoo, que já tinha desinstalado, sendo que ele nem usa esses outros. Ele achou que eu não me lembraria que demos match no Bumble?

Vendo que ele mentiu também sobre isso, duvidei que ele cortaria o contato com ela (apesar de tê-lo feito apagar e bloquear o número) e eu mesma mandei uma mensagem para ela do meu celular, 7 e pouco da manhã.

– Olá Maristela, tudo bem? Aqui é a ******, namorada do *****, que você deu match no Bumble. Vi umas conversas de vocês no whatsapp dele e vim te avisar que ele é comprometido. Comprometido e muito inseguro pra em qualquer briga nossa, baixar o aplicativo para firmar o seu ego. É muito chato que ele tenha te envolvido.

Ela nem me respondeu e as duas últimas mensagens sequer entregaram, ela devia estar online e quando viu eu dizendo que era namorada de alguém já deve ter bloqueado pra evitar de ler algum desaforo. Pois bem, enviei por torpedo, fazia questão que ela lesse as características nada atrativas dele.

Quando ele acordou, o confrontei sobre ainda estar no Bumble e o fiz deletar a conta na minha frente. Até então ele só tinha deletado o aplicativo, se fez de sonso. Depois fui tomar meu banho e quando o reencontrei na sala, ele estava com uma cara estranha.

– Você mandou alguma coisa pra menina? – Ele perguntou.

– Por que você tá perguntando isso?

– Ela mandou mensagem falando umas groselhas e me bloqueou.

– Então você não bloqueou ela e não apagou o contato quando te pedi fazer isso?! É ISSO MESMO?!

Fiquei muito nervosa.

– Claro que sim, eu fiz na sua frente.

– O que você fez na minha frente foi do Instagram. Então você não tinha bloqueado ela no whatsapp, mesmo eu te pedindo pra fazer isso???!!!!!

– Achei que tivesse feito, fiz na sua frente.

– EU JÁ FALEI QUE O QUE VOCÊ FEZ NA MINHA FRENTE FOI DO INSTAGRAM! COMO QUE ELA TE MANDOU MENSAGEM ENTÃO, SE VOCÊ TIVESSE FEITO?!

– Mas você mandou alguma coisa pra ela?

– POR QUE VOCÊ ESTÁ PREOCUPADO COM O QUE ELA ESTÁ PENSANDO, SENDO QUE EU TE PEDI PRA FAZER UMA COISA E VOCÊ NÃO FEZ?!!! VOCÊ ESTÁ CHATEADO POR QUE EU TE QUEIMEI COM ELA?! É ISSO MESMO QUE EU TÔ ENTENDENDO?!

– Não estou preocupado com isso, mas não acho bacana você envolver outra pessoa.

– VOCÊ JÁ ENVOLVEU QUANDO BAIXOU O APLICATIVO!!

A fúria que eu não estava no dia anterior, veio pela manhã.

– AGORA EU ACHO O CÚMULO, DEPOIS DE TUDO QUE EU PASSEI, VOCÊ ESTAR MAIS PREOCUPADO COM ELA SABER QUE VOCÊ TEM NAMORADA, DO QUE FAZER ALGO QUE EU TINHA TE PEDIDO!!!! Como eu vou ter confiança em você desse jeito?!

Daí, para resolver aquela situação, ele disse que a partir dali eu teria a senha do celular dele, que a hora que eu quisesse eu poderia ver, que ele não tinha nada para esconder de mim. Me pareceu razoável. Nos entendemos.

*

No carro, enquanto íamos para algum restaurante almoçar, ele reforçou que eu poderia olhar o que eu quisesse no whatsapp dele e até me passou seu celular, para eu testar a senha. Daí perguntei se essa transparência se aplicava ao Instagram também, já abrindo o aplicativo e quando comecei a ver que ainda estava lá a conversa que ele teve com ela, ele delicadamente pegou o celular de volta e disse que antes precisaria apagar umas coisas “antigas”. Depois, já na mesa do restaurante, com o clima mais leve, ele reconheceu que eu era muito esperta, num tom do tipo “já me liguei que você é ligeira”, ao que eu respondia “não vem ser cafajeste comigo não, que eu descubro as coisas”.

A noite foi agradável, veio o casal de amigos dele, mas confesso que, lá no fundo, fiquei com a sensação de que o jantar não era para me apresentar de fato, e sim apenas uma social que ele estava fazendo com tais amigos, porque vieram o casal, a sogra do casal e os dois filhos adolescentes. Talvez tenha sido impressão minha. De qualquer forma, foi uma noite muito gostosa. Ele e o rapaz ficaram a maior parte do tempo na cozinha, cozinhando pra gente, enquanto eu, a esposa e a sogra conversávamos em outro cômodo, na mesa de jantar, super entrosadas, e os adolescentes jogavam vídeo game na sala.

*

No dia seguinte tivemos uma nova briga, pelo mesmo motivo, chamado Maristela. Saímos para jantar a noite e quando estávamos voltando para o carro, andando pelo estacionamento do shopping, em algum ponto da conversa que estávamos tendo, ele me acusou de ter mentido pra ele.

– Eu menti pra você?

– Sim.

– Sobre o que?

– Você sabe.

– Não, não sei. Do que você tá falando?

– Você mentiu que não mandou nada pra menina.

– Eu não estou acreditando que você tá voltando nisso de novo.

Cara, ele que era o errado da história, e ficava querendo reverter a situação a todo momento!!

– Então me fala quais as informações que você tem, que eu te falo das minhas. – Encurralei.

– Ela me ligou pra me esculhambar, e contou que você tinha ligado pra ela falando as coisas.

– Eu não liguei pra ninguém.

– Para de mentir.

– Você tá acreditando mais na palavra de uma estranha do que em mim?! Se eu tô falando que eu não liguei, é porque eu não liguei!

– O que você fez então?

– Eu mandei uma mensagem, falando que vi a conversa de vocês e que achava bacana ela saber que você é comprometido. – Omiti a parte dele ser um inseguro, que buscava afirmar o ego. – Agora eu não tô acreditando que você está voltando nessa história, porque ainda está preocupado com o que eu falei pra ela. Que que é?! Você não queria que eu te queimasse com ela? É isso?! Por que, afinal, você não deletou e bloqueou o contato dela coisa nenhuma, daí quando ela te mandasse mensagem durante a semana você ia fingir que nada tinha acontecido, não é?!

– Você que está fazendo conjecturas.

– É exatamente isso que está acontecendo! Você está mais preocupado com o que uma pessoa que você nem conhece está pensando a seu respeito, do que ficar bem comigo!!

Quando chegamos na sua garagem, desci do carro para que ele estacionasse na vaga encostada no pilar e nem o esperei para subir para o apartamento. Fui na frente, já sabia a senha da porta e fui para o quarto arrumar as minhas coisas, aquilo já era demais pra mim.

Quando ele chegou no apartamento, se assustou comigo arrumando as coisas e perguntou o que eu estava fazendo.

– Estou arrumando minhas coisas pra ir embora. Ridículo o que você está fazendo.

– Eu não estou fazendo nada, só te perguntei se você tinha mandado algo pra ela.

– O QUE INTERESSA SE EU MANDEI OU NÃO?! VOCÊ TINHA QUE ESTAR MAIS PREOCUPADO COM O MEU BEM-ESTAR E NÃO COM O QUE ELA ESTÁ PENSANDO DE VOCÊ! – Seu narcisista do caralho! (Essa sou eu pensando agora enquanto escrevo, naquela situação eu ainda não tinha percepção disso.)

Quando eu estava prestes a ir embora, indo com a minha mala de carrinho já em direção a porta, ele fez sua última tentativa:

– Se você for embora, você sabe o que isso significa, né?

– Que eu quero ir embora.

– Não.

– Significa o que então? Que acabou?

– Sim.

– É isso que você quer?

– Não.

– Você não tá demonstrando nem um pouco que quer que eu fique.

– O que você quer que eu diga?

– Que você reconheça o seu erro e pare de querer reverter a situação. Você que me traiu marcando de sair com outra pessoa e ainda vem reclamar de eu ter mandado algo pra menina. Coloca a mão na consciência!!

Daí ele baixou a guarda, com muito custo, e por fim me chamou para deitar no sofá com ele. Novamente a transa foi deliciosa. Ele lambeu todo o meu rosto, uma preliminar diferente, coisa que ele nunca tinha feito. Quando acabou, adormecemos ali mesmo.

*

Durante a semana seguinte, tivemos uma outra briga feia, lá pra quarta-feira, novamente envolvendo o meu trabalho.

No fim de semana tínhamos trocado algumas mensagens com um “amigo” dele, sobre fazermos um ménage. Aquele tal amigo que subiu a notificação de mensagem quando eu estava escrevendo no computador. O Intenso voltou nessa conversa. Eu estava aguardando no Delboni pra fazer alguns exames ginecológicos de rotina e ele aproveitou o gancho de algo que eu disse, já que eu estava aguardando pra fazer o exame do PH vaginal.

– Esse aí eu te chupo e falo fácil o resultado.

– Ela é ácida?

– Não. Docinha. Por isso eu saberei se o PH estiver ácido.

– Você falando de me chupar eu já fico excitada.

– Nem me fale. Hoje meu amigo me chamou de novo. Disse que ontem ficou muito excitado com a nossa conversa. Falei pra ele que depois que paramos de conversar você gozou duas vezes. Ele enlouqueceu. Falei pra ele que saímos pra jantar e vc me mandou foto da ppka quando foi no banheiro. Ele ficou doido. 

– Vc mandou a foto pra ele?

– Mandei. (Não aparecia seu rosto)

E daí ele trouxe um print da reação do cara, elogiando a minha pepeka, dizendo que era linda. 

Aquilo não bateu legal pra mim. Eu estava aguardando pra fazer um exame médico, não estava no clima e me senti desvalorizada, com meu próprio namorado me oferecendo pra um amigo. Enviando uma foto que eu tirei PRA ELE, sem a minha autorização, para outra pessoa. 

Naquele momento eu refleti um pouco: “Será que estou sendo chata?”, “Será que deixo isso pra lá e sigo o bonde?”. Mas aí eu não estaria sendo sincera comigo mesma. E não seria justo eu invalidar o meu próprio sentimento, apenas para não me indispor com ele. 

– Não sei se me sinto confortável com isso. Uma coisa é estarmos juntos durante tal conversa. Outra coisa é você, secretamente, ficar trocando putaria com seu amigo e enviando nude meu. Fico com a sensação de que sou um mero objeto sexual pra você ficar me “compartilhando” assim com seus amigos. Ainda mais um amigo que vc sequer tem tanta proximidade e que reapareceu de repente.

Coerente, não?

– Entendo. Me desculpe por isso. Não acontecerá novamente.

– Obrigada por entender. 

– Ficou bem claro.

De repente ele pareceu ressentido. 

– Vou corrigir, obrigada por compreender. Que estava entendível eu sei, mas a compreensão é de acordo com a sensibilidade do outro.

– Eu entendo, mas não compreendo. Você vende fotos e vídeos no Only, mas se irritou pq eu compartilhei uma foto sua, que não mostra seu rosto, com um cara que estávamos conversando aquele dia. But….

– Não é pq sou uma criadora de conteúdo adulto, que me agrada o meu namorado ficar enviando nude meu, sem a minha prévia autorização, pra uma pessoa que eu sequer conheço. Você disse bem, estávamos conversando *aquele dia*. A continuidade dessa conversa não se deu comigo junto.

– 👍🏻

– Vejo que falta muita sensibilidade em você, quando digo algo que me desagradou. Você faz parecer que eu sou a errada por ter achado ruim.

– De jeito nenhum, só achei hipocrisia. Vc tem fotos mostrando a buceta no seu blog, no seu twitter, e fica brava pq eu mandei uma. Não faz sentido pra mim. Tenho pra mim que não foi isso que incomodou. Se não gosta de se expor, não se deixe exposta como faz.

– O problema não é a minha exposição, é você trocar putaria com seu amigo, sem me incluir na brincadeira e usar foto minha pra alimentar a conversa de vocês. Além da falta de cumplicidade, me faz sentir um mero objeto sexual. As fotos postadas foram feitas por mim. Logo, eu posso fazer o que bem entender com elas. Agora você enviar uma foto minha, que enviei a você num momento íntimo nosso, pra uma terceira pessoa, sem a minha prévia autorização, não acho bacana.

– Está correta. Pode fazer o que bem entender mesmo.

– Você poderia ter compartilhado comigo a mensagem que ele mandou e irmos decidindo juntos se mandaria a minha foto ou não. Me senti excluída. Excluída, porém, a punheta dele foi as minhas custas. A Sara vive disso, quem tá no meu Only e viu a foto, tá pagando pra isso. A ******, namorada do ******, não. Você sempre fala da importância de separar uma da outra, mas quando é pra sua conveniência, você fala das duas como se fossem uma coisa só. 

Continuei imbatível:

– E você ainda nem teve a delicadeza de enviar como visualização única. Fez questão de deixar lá no banco de imagens da conversa de vocês.

– Eu excluí para os dois… não se preocupe.

– Pq eu reclamei, não pq vc teve essa sensibilidade. 

Daí voltei na parte da conversa em que eu dizia sobre a falta de cumplicidade, resgatando sobre me fazer sentir um mero objeto sexual:

– É isso que eu sou pra você?

– Se vc fosse um simples objeto sexual, eu pagaria pra transar com vc, igual seus clientes fazem. Depois, te daria tchau.

– Que resposta mais cruel. Ao invés de você trazer coisas positivas da nossa relação ou a meu respeito, você me traz isso, afinal, pra que vc pagaria, se você já tem de graça?

– Você quem está dizendo.

– E vejo que você nem se esforça pra me convencer do contrário mais. Claro sinal de que você já não se importa mais com a nossa relação.

– Você me dá uma liberdade, e depois me tira… Depois de hoje eu sinto que tenho zero liberdade com você… E tá tudo bem.

Sempre é sobre ele. 

– Talvez se isso viesse à tona em outro momento, sem os últimos acontecimentos, eu poderia ter recebido de uma outra forma.

– Talvez. 

– Sabe qual a minha análise de tudo isso? Você me usou pra deixar o cara excitado, igual aquele cara da natação usou a própria noiva pra excitar você. Você tá fazendo isso por você, e não por nós.

*

Vamos a um rápido adendo: Essa história da natação foi a primeira vez que ele me trouxe sobre o contato dele com outro homem. Disse que tinha sofrido um “abuso” de um cara que fazia natação com ele. Eles estavam tomando banho no vestiário, que lá não tem divisórias, e que o cara começou a falar da noiva, coisas do tipo: “Nossa você viu como ela tava gostosa hoje?”, “Sabe aqueles dias que a gente tá com muito tesão? Hoje eu tô assim, cara, quando chegar em casa vou fazer um estrago nela.” Daí o Intenso começou a ficar excitado com a descrição do cara e se virou de costas para o outro não perceber que ele se excitou com a noiva dele, mas quando se virou de volta, de repente o cara estava na frente dele e começou a masturbá-lo. 😮

Diz o Intenso que ficou completamente sem ação, que devido ao choque ficou paralisado, enquanto o cara continuava o masturbando. Ainda assim, como a ereção é estímulo, ele continuou excitado e estava quase gozando. Só não foram até o final, porque em algum momento alguém entrou no banheiro, e o cara voltou para o seu chuveiro. 

Depois desse ocorrido, o Intenso evitou de ir à natação por algumas semanas, até que retornou com a rotina, porém em horários diferentes, de modo que não cruzasse mais com o cara no banheiro. No entanto, disse que a partir desse ocorrido, lhe despertou uma curiosidade pelo masculino. 

Eu nunca fiquei, muito menos me relacionei, com caras bissexuais antes (pelo menos, não que eu saiba), mas, quando ele me contou essa situação no terceiro encontro, por vir dele, alguém que eu já estava gostando, procurei abrir minha mente.

*

Agora voltando ao momento atual do post, tive a percepção de que ele estava querendo seduzir o “amigo”, me usando como isca.

– Você não me incluiu na conversa em tempo real, não pq foi “algo pontual”, como você disse, pois deu pra ver que conversaram bastante pra você ter tempo de contar da quantidade de vezes que gozei e da nossa noite no restaurante. Você não me incluiu na brincadeira pq você queria ter essa troca com ele sozinho. – Continuei.

– Chegamos em um ponto onde começamos a puxar coisas do passado e trazer pra nosso relacionamento. Vieses antigos. Assim como vc fez agora. Vc tem dimensão do que vc acabou de dizer? – Ele se defendeu.

Não continuei mais a conversa e meia hora depois falei que não estava bem, pedindo para falarmos em ligação. A chamada durou mais de 1h. Falamos sobre o ocorrido novamente e percebi um clima hostil, ele ainda parecia ressentido por eu não ter embarcado no barato dele. 

Na manhã seguinte, quando eu estava recapitulando a nossa programação do fim de semana (ele tinha comprado ingressos para irmos assistir um espetáculo), ele me solta essa:

– Acho que não vai rolar.

– Como assim?

– Eu não vou praí esse final de semana. Chama o Denis, vai com ele. Vou ficar em casa, descansando minha mente e refletindo. Nossa conversa de ontem à noite contribuiu muito pra essa decisão. Preciso de um tempo pra mim.

– Que parte exatamente da conversa?

– Toda nossa conversa à noite.

– Compreendo. O Denis começa a trabalhar no evento essa sexta. Eu gostaria muito de ir na peça com você, até pq, quando compramos, o intuito foi termos esse momento juntos.

– Eu sei que você sabe que é muito difícil pra mim já lidar com o seu trabalho… Imagina ainda com os surtos que andam ocorrendo… Só fica tudo mais difícil. É muita coisa pra eu lidar ao mesmo tempo… Eu estou ficando doente, estou ficando louco. Ontem pela primeira vez eu senti que perdi toda a liberdade com você. Não me sinto mais confortável em falar besteira, ou puxar algum papo mais quente… Me sinto extremamente limitado agora.

Sempre sobre ELE. Quando algo desagrada ele, zero sensibilidade para receber o que ME desagradou. 

A manipulação dele foi tanta, que quando vi eu estava ME DESCULPANDO pelo ocorrido do dia anterior. Me desculpando pelo surto que eu tive por ele me expor pra um estranho, sem o meu consentimento. Ele conseguia me fazer me sentir mal por não estar bem com ele, mesmo que eu estivesse com a razão.

E o desentendimento ganhou uma proporção gigantesca e exaustiva. Dessa questão voltamos pro lance dele com a menina, disso pro Achismos e lá veio ele com as manipulações e vitimizações dele:

– Quando vc sai pra trabalhar eu me sinto um lixo. Vamos parar de nos machucar. Eu não aguento mais isso. E de todas essas pessoas que pagam pra sair com vc, quantas delas aceitariam sair de graça, em troca assumir um relacionamento?

* Deixo aí a indagação para os meus leitores/seguidores nos comentários *

– Talvez pra gente se reconectar, seja necessário nos afastarmos primeiro. – Sentenciou.

Insisti um pouquinho mais, tentando fazê-lo mudar de ideia, mas ele foi irredutível, determinado a ficar “sozinho” naquele fim de semana. 

– Eu não quero ficar aqui falando coisas pra te ofender, mas não é só sobre o achismos, é sobre o trabalho, sobre os mais de mil homens, sobre o blog, sobre a Sara.  Cheguei no meu limite de exaustão com tudo isso. Esse final de semana não vou praí. Preciso cuidar de mim agora. De me organizar.

Eu tinha pegado o cara flertando com outra na semana anterior, ainda ficou afetado porque eu queimei seu filme com ela, agora ficava puto porque eu fui contra uma interação masculina as minhas custas e ainda me manipulava para que eu me sentisse culpada por tudo isso.

– Esse afastamento será somente por um final de semana ou por tempo indeterminado? – Perguntei.

– Não sei. Só sei que esse fds eu quero ficar comigo mesmo.

*

Ficamos sem nos falar por quase uma semana.

No sábado ele me removeu do Instagram, me parecendo que já tinha tomado uma decisão, o que achei estranho, como que ele já tinha refletido em apenas um dia? E terminaria assim sem um diálogo antes? Simplesmente me removendo? 

Domingo ele desativou a conta do Instagram e fiquei com a impressão de que estava querendo chamar a minha atenção, para que eu quebrasse o silêncio e fosse atrás (como eu sempre fazia). Mas me mantive firme, dando o tempo que ele queria.

Paralelamente, de domingo pra segunda, mergulhei nas pesquisas sobre o homem narcisista e fiquei impactada em como tudo encaixava!

O homem narcisista em relacionamentos costuma seguir um padrão bem característico: inicialmente encantador, mas depois profundamente destrutivo. Ele pode sentir atração, apego, dependência emocional ou até gostar genuinamente de algumas coisas na parceira, mas tudo isso normalmente está condicionado ao quanto ela supre as necessidades dele, e não a um interesse genuíno pelo bem-estar dela.

O Ciclo do Narcisista

  1. FASE DA IDEALIZAÇÃO

No começo, ele é intenso, encantador e sedutor. Faz a parceira se sentir única, especial, admirada — é o chamado love bombing.

  • Demonstra extrema atenção e interesse
  • Envia mensagens constantes, elogia e faz promessas de futuro
  • Espelha gostos, opiniões e desejos da mulher (para gerar conexão imediata)
  • Cria uma sensação de “alma gêmea”

Mas essa fase é estratégica, ele quer ganhar admiração, confiança e controle emocional rapidamente.

2. A FASE DA DESVALORIZAÇÃO

Assim que sente que “conquistou”, o comportamento muda.

  • Passa a criticar, ironizar e diminuir sutis traços da parceira
  • Alterna carinho com frieza e silêncio
  • Faz com que você se sinta culpada e confusa, duvidando de si mesma
  • Começa a testar limites emocionais, vendo até onde você aguenta

O objetivo é minar sua autoestima e reafirmar o poder dele sobre a relação.

3. FASE DO DESCARTE

Quando ele já extraiu o que queria (admiração, sexo, status, cuidados), ou quando a mulher começa a questioná-lo, não suprindo mais as suas necessidades, o narcisista descarrega e descarta.

  • Se afasta friamente, como se você nunca tivesse significado nada
  • Faz parecer que a culpa é 100% sua, mesmo que ele tenha causado os problemas
  • Se aproxima de outro alvo antes mesmo de terminar, muitas vezes já existe outra pessoa “no ponto”. O objetivo é sair no controle da situação, sem parecer fraco ou rejeitado.

Ele pode sumir completamente (silêncio total) ou exibir nas redes sociais uma vida feliz, nova parceira, conquistas, tudo para provocar em você um sentimento de perda, ciúme ou arrependimento. – Sempre que postava foto comigo nos stories, ele ficava repetidamente olhando as pessoas que tinham visualizado, provavelmente eu estava cumprindo esse papel, de causar ciúmes na vítima anterior que ele tivesse se afastado. – O descarte não é necessariamente definitivo, ele pode voltar depois tentando reabrir o ciclo com promessas e nostalgia.

4. A FASE DO RETORNO

Quando percebe que você está se afastando de vez ou seguindo em frente, ele reaparece. Podendo:

  • Vir de forma carinhosa (“sinto sua falta”), nostálgica (“lembra daquela viagem?”) ou até disfarçada de preocupação (“como você está?”)
  • O objetivo não é necessariamente voltar para amar, é testar se ainda tem acesso ao seu afeto, tempo e energia

5. A FASE DA REPETIÇÃO

Se você cede, ele volta ao ciclo inicial, com nova fase de idealização. Porém, essa “segunda volta” costuma ser mais curta e mais intensa em termos de manipulação, porque ele já sabe onde atacar sua autoestima.

  • Cada vez é pior
  • O encantamento dura menos, a desvalorização vem mais rápido, o dano é mais profundo.

Até que, um dia, você desperta e entende: o verdadeiro amor começa quando você corta o ciclo e escolhe a si mesma.

*

E isso é só uma fração do que pesquisei, fiquei HORAS estudando esse traço de personalidade, mergulhei muito mais fundo, fazendo mil questionamentos como, por exemplo: “O Narcisista nasce assim ou se torna com o tempo?”, “Eles nunca amam de verdade?”, “Por que o narcisista tem tanto ciúmes?”, “É possível deixar de ser um? Existe cura?”.

Eles não amam genuinamente, eles gostam de você, enquanto você oferece a validação que eles tanto precisam. Para existir amor precisaria haver empatia, algo que não existe no narcisista. (Isso explicava muito o fato de toda vez que a gente brigava –  por eu me defender dos seus ataques – ele não vir atrás, ou admitir qualquer culpa).

Eles nunca reconhecem que erraram, porque isso ameaçaria diretamente o núcleo mais frágil da sua personalidade: o ego inflado e a necessidade constante de se ver como perfeito, superior e irrepreensível. Assumir erros exigiria empatia e autorreflexão, duas coisas que o narcisista geralmente não tem desenvolvidas. Ele vê as relações como jogos de poder, não como trocas de afeto.

*

Aprendi que ele não era bom pra mim, nem pra ninguém. Essa concepção me ajudou na virada de chavinha, comecei a me sentir melhor, olhando para o seu afastamento como um grande livramento.

Mas…

Mesmo sabendo de tudo isso…

Infelizmente…

Ele me manipulou na fase 4 – a do retorno – e eu passei para a fase 5 – a da repetição.

Preparados para a segunda rodada?

Desaventuras Amorosas em Série – Pte 7

Querido diário,

Voltei para o Bumble.

Minha relação com esse aplicativo é de amor e ódio, rs. Na verdade, mais ódio do que amor, rs. O ciclo geralmente é: me reconecto engajada, daí basta uma experiência ruim, que desanimo novamente, rs. E nesse momento me encontro no ciclo engajada!

O Garotão Passageiro

O cara da vez é uma incógnita pra mim. Não achei ele muito bonito nas fotos, mas gostei das coisas que estavam escritas e pensei: “por que não dar uma chance para os não tão bonitos, mas engraçados? Quem sabe me surpreendo!” Sua idade marcava 25 anos, não curto novinho e dificilmente daria moral, mas como nas fotos ele aparentava ser dez anos mais velho, decidi arriscar.

O papo fluiu rapidamente, logo estávamos trocando áudios, super conectados nos assuntos. (Infelizmente não consigo trazer os diálogos detalhadamente, pois, o final foi tão estranho, que, no impulso, já desfiz o match e perdi o histórico.)

Em meio a uma conversa que estávamos tendo, ele teve a iniciativa do nosso primeiro encontro ser num evento imersivo de terror, chamado “Edifício Rolim”, que acontece nesse mesmo prédio, localizado na Praça da Sé. É um evento novo, dos mesmos donos de outro evento de terror, chamado “Abadom”, que rolava em Santo Amaro.

Como eu já estava querendo ir conhecer, adorei quando ele propôs a ideia, já que a minha amiga que planejava ir comigo, nunca está casando as agendas. Ele comprou os ingressos e ficamos sem nos falar de quinta até domingo, quando ele me enviou uma mensagem durante a tarde, confirmando nosso encontro para a noite daquele mesmo dia.

Precisei atender um cliente antes e com isso acabei me atrasando para o nosso date. Combinei com ele 19:30 (meia hora antes do evento), mas acabei chegando quase oito horas. (Não deixei que me buscasse em casa, por questões de segurança.) Como cheguei em cima da hora, nossa interação inicial foi mais objetiva, nos cumprimentamos e já fomos subindo as escadas.

No entanto, é claro, que não pude deixar de reparar na sua aparência. Muito mais bonito que nas fotos, corpo robusto e malhado, um verdadeiro armário: alto e grande. Gostei bastante!

O Thales, esse boy que conheci no aplicativo, já tinha me avisado que era muito medroso e que gritava fino. E realmente ele não estava mentindo. Fomos num grupo de seis pessoas, sendo três casais, e ele era o que mais se assustava, o que acabou dando um tempero pra experiência, com seus demasiados gritos femininos kkkkkk. Nem as outras mulheres se assustavam tanto quanto ele, rs. Confesso que numa hora deu até um tesãozinho, quando nossos corpos se prensaram em determinado cenário.

O evento em si não me surpreendeu, mas isso porque sou atriz, já trabalhei em outros eventos com essa mesma temática e não me assusto fácil. Além de notar muitas similaridades com a forma de conduzir o público e propiciar os sustos. Muita bateção de porta, muita escada, muita correria. Eu só ficava sorrindo, por prestigiar a atuação dos meus colegas, (inclusive até reconheci um, mesmo caracterizado de monstro), mas susto mesmo, não levei nenhum.

Saindo de lá, sugeri irmos no barzinho ORFEU, que ficava perto e dava pra ir a pé. Conversamos bastante, assuntos leves, nada muito profundo e de fato ele era muito engraçado, sempre desenrolando uma piadinha. Tomei um Bloody Mary e ele uma cerveja, ainda pedi tiras de fraldinha como petisco e, no final, ele fez questão de pagar a conta.

Viemos andando até a minha casa. Quando chegamos na frente do meu prédio, não o convidei para que subisse, ele perguntou se podia me dar um beijo e quando nos beijamos, rapidamente senti o seu volume no meio das pernas. Parecia bem grande. Deu um tesãozinho, mas nada que me fizesse transar com ele naquela noite. Depois que entrei no meu apartamento, choveu de mensagens suas, querendo sair comigo novamente. Combinamos para o final de semana seguinte e a programação exata não foi definida.

*

– A senhorita quer algo mais romântico, intimista ou algo mais encontro casual? – Ele perguntou, enfim, na véspera do segundo encontro.

– Todas as opções me apetecem. – Respondi. – Você tá em qual vibe?

– Eu tô na vibe de te ver. Ajuda? Hahah.

– Ou seja: “Decide você, qualquer coisa pra mim tá bom”. Kkkkk.

– Não é isso hahah, é que eu queria fazer alguma vontade sua. Não tem nenhum lugar que vc queira ir?

– A minha vontade é te ver também. – Devolvi a peteca.

– Olha só que astuta. Nesse caso, quer tomar vinho? Podemos ir ver algum filme, depois pararmos pra tomar vinho.

– Um cineminha? Gostei.

– Tenho o meu favorito de estimação (ele gosta de ir no Cine Belas Artes, ali na rua da Consolação). Mas se eu escolher o cinema, você escolhe o filme.

Ele mandou o link para que eu escolhesse, isso foi por volta das 18h e só apareci com a resposta no dia seguinte, dez da manhã:

– Bom dia!! Desculpa a demora, minha amiga chegou aqui em casa ontem e não consegui ver com calma as opções. – Mentira, eu tinha ido atender.

Não estava sendo captada por nenhum filme, até que, de repente, vi: ANORA, ganhador do Oscar, que eu tava louca pra assistir.

*

Ele veio me buscar num carrão. – Quero dizer, eu achava que era carrão, até ouvir do meu personal que Spin não é carrão e sim carro grande, utilizado para transportar coisas. – Deixou o carro no estacionamento que fica ao lado do Hotel Renaissance e caminhamos alguns quarteirões até o teatro, o que não achei muito conveniente, rs.

Chegando lá, pude perceber uma forte tensão sexual vinda dele, quando estávamos parados na fila da compra do ingresso e depois na fila da pipoca. Como se o tempo inteiro ele quisesse me seduzir a ir embora dali, querendo beijar em público, num ambiente extremamente iluminado e cheio de pessoas em volta. Por vezes tive que contê-lo. Após sentados na poltrona, não sei como iniciamos um assunto sobre sexo, com ele falando da sua primeira vez e que o recorde que já aguentou foi oito numa noite. De repente o filme foi começando e ele queria continuar falando. Aquilo me constrangeu um pouco, detesto incomodar os outros.

– Fala mais baixo, – Solicitei, cochichando, para que ele entrasse na minha.

– O filme já vai começar. – Cochichei de novo, em outro momento, para que ele desligasse o radinho.

Ele queria ficar beijando no cinema. O que não vejo nenhum problema, se a sessão estiver mais vazia. No entanto, havia pessoas ao meu lado e do dele, e ninguém merecia ficar ouvindo os estalos dos nossos beijos, então, a certa altura, o interrompi, que toda hora vinha fazer uma nova tentativa, beijando o meu ombro, no intuito de que eu virasse o meu rosto para ele. Em outro momento acabei cedendo e nessa hora ele quase me levou pra sua casa.

– Agora entendi porque você deixou que eu escolhesse o filme, já que a sua intenção nem era assistir mesmo. Né? Rs. – Cochichei.

Ele concordou.

– Então nem precisava ter vindo né, já devia ter combinado outro lugar. – Continuei.

E nesse momento ele falou que se eu quisesse podíamos ir embora, naquele momento, para a sua casa. – Ele morava com a vó, mas, segundo ele, ela estava internada no hospital.

– Em Osasco?! – Desanimei um pouco com a distância e a fama do lugar.

Ainda assim, achei que seria uma adrenalina conhecer a casa dele e transar naquela noite. Por um segundo passou um filminho na minha cabeça, me visualizando levantando da poltrona, passando pelas pessoas e depois no carro com ele. Foi por muito pouco que não aceitei, pois também estava com bastante tesão. Mas aí olhei pro filme que estava passando na tela e também era algo que eu queria muito assistir, não quis fazer uma escolha no impulso, então recuperei um pouco da sanidade e propus:

– Vamos fazer assim, terminamos a pipoca e vamos assistindo mais um pouquinho do filme.

Se o filme fosse chato, eu concordaria em ir embora depois.

Mas o filme foi ficando interessante. E dali a pouco, quando ele vinha tentar me beijar, eu não tirava mais os olhos da tela. Só voltei a dar atenção pra ele, quando comecei a ficar apertada e incomodada com a demora para que o filme acabasse (durou quase 3h).

MINHAS PERCEPÇÕES DO FILME ANORA

Tem Spoiler

Não vi nada de extraordinário que merecesse o Oscar mais do que “Ainda Estou Aqui”, mas sim, gostei, e achei interessante que abordaram a prostituição num contexto que eu nunca tinha visto igual em outro filme. A garota que se deixa iludir por um riquinho mimado, de 21 anos, (se iludindo tipo, casando com ele), pra depois ter todo um rebuliço dos pais dele, extremamente milionários e influentes, contratando capangas para que fizessem o garoto anular o casamento, pois era um escândalo, ele ter casado com uma prostituta.

Daí o moleque foge e ela fica refém dos capangas, mas assim, nada violento, essa cena, inclusive, foi uma das mais engraçadas. Analisei até que a razão pela qual a atriz também tenha ganhado o Oscar, possa ser pela sua capacidade de dar vários gritos, como aqueles frenéticos de histeria. Daí o filme se demora muito na busca pelo rapaz (talvez tenha sido proposital, para justamente nos causar essa mesma sensação de desgaste), para depois o bonitão ser encontrado na mesma boate que ela trabalhava, numa dança particular com justo uma garota que ela tinha muitos desafetos. O mais incrível disso tudo, pelo menos pra mim, é que, apesar de todas as evidências apontarem para uma coisa óbvia, assim como na vida, precisamos nos humilhar mais até entender a grande sacanagem da outra pessoa com a gente. O filme inteiro ela buscando um apoio dele, em meio a aquilo tudo e o tempo inteiro ele em cima do muro, sem manifestar de que lado estava de fato. Somente nas últimas cenas ela consegue extrair isso dele, numa cena decisiva em que eles estão prestes a entrar no jatinho particular para viajar até Las Vegas e anular o casamento.

Enfim, eu até que tava gostando do filme, ia sair com uma conclusão de Talvez Amei do que apenas GOSTEI, até que a cena final foi além da minha capacidade de entendimento, não entendi aquela mensagem final que quiseram passar e isso me fez não sair plenamente satisfeita com o filme. (Preciso assistir mais vezes para que venham mais reflexões).

Daí, voltando ao encontro, quando saímos do cinema, trocamos poucas impressões sobre o filme, porque, afinal, eu ainda não estava com uma opinião formada.

– Você quer fazer o que agora? – Ele perguntou manhoso, jogando a peteca pra mim.

O que eu queria fazer? Sinceramente? Ir pra minha casa dormir. Foram três horas exaustivas de filme, tava começando a me dar uma leve dor de cabeça pelo tempo que fiquei sem comer algo realmente nutritivo (aquela pipoca carregada de óleo e sódio não conta), já era 23:30h, consideravelmente tarde, e eu tinha cliente no dia seguinte, 11h (o que significava eu ter que acordar 9h).

– Pra casa. Tá tarde. – Falei, desanimando os planos dele.

– Você vai fazer alguma coisa amanhã? – Ele perguntou se eu ia fazer alguma coisa no dia seguinte, que era feriado.

Fiquei muda, sem responder. Eu tinha um cliente de 2h para às 11 da manhã, mas como poderia falar que ia ter que trabalhar no feriado?

Na caminhada de volta até o estacionamento, eu tremia de frio. Estava vestida consideravelmente agasalhada, saia com meia calça fio 80, bota, e uma blusa de malha, de manga comprida, cacharréu. Ele disse:

– Quer que eu tire minha camisa? Coloca suas mãos pra esquentar debaixo da minha camisa. (Em contato direto com a pele dele.)

E eu fiz, andando meio que abraçada nele. Mas não resolveu, continuei com muito frio. Daí no carro eu percebi seu jeito sutilmente mais hostil, acendendo até mesmo um cigarro, com o carro em movimento.

– Meu cabelo vai ficar fedendo a cigarro. – Reclamei de um jeito mais fofinha.

Não lembro as palavras que ele usou, mas disse que estava se empenhando para que a fumaça não viesse muito pra dentro do carro e aí eu abri todo o meu vidro também. Percebi que ele devia estar frustrado por eu determinar que não transaríamos. Daí voltei nesse assunto e falei sobre marcarmos algo no dia seguinte a noite (que era feriado de 1 de maio), ou na sexta a noite, que eu não precisaria acordar cedo no dia seguinte. Ele super animou e até apagou o cigarro.

Quando estávamos descendo a minha rua, tivemos um diálogo peculiar. Ele fez mais uma das suas belas cantadas da noite, tão perfeita e clichê, daí eu respondi:

– Sei. Só vou acreditar em tudo isso se você não sumir depois de transar kkkkk. – Ele achava que eu era ingênua?

– Por que, você está acostumada com as pessoas fazendo isso com você? – Ele perguntou.

– Eu não diria acostumada, pois isso seria se eu tivesse confortável com a situação. Mas sim, acontece bastante. – Revelei.

– Por quê?

– Porque eu só encontro caras que não querem nada com nada.

Pausa na história para uma revelação!

Sabemos que eu tô sempre falando que não quero me relacionar e sim ter muitos contatinhos, certo? Pois bem, descobri que esse meu discurso tem uma grande contradição com o que realmente reverbera dentro de mim. Eu sempre acabo me apegando aos contatinhos que me despertam algum tipo de admiração e que o sexo é incrivelmente compatível. Aí você pensaria: “Ahh mas isso se chama carência, Sara”, e não necessariamente, pois o que mais tenho a minha volta são homens com dinheiro, querendo me paparicar e me conquistar, e não me envolvo por eles. O apego vem por aqueles caras que me interesso na minha vida pessoal, sem qualquer envolvimento financeiro e que eu escolhi. Não consigo ter mais de um contatinho, porque basta rolar um legal, que já canalizo naquele pobre coitado todas as minhas energias. Então os caras somem e eu, que sei o quanto sou maravilhosa e gostosa, fico na merda tentando entender o porquê deles não terem se apaixonado por mim. Daí entro numa crise existencial de falta de autoestima, me questionando se realmente sou tudo isso, afinal, eu sou uma mulher da vida, né? (Pois, é, nessas horas eu dou uma balançada).

Por que a Sara é mais amada?

O que eu estou usando em uma que não uso na outra?

E o que poderia ser usado por ambas?

Enfim…

Daí corta para o diálogo de volta:

– E você perguntou por que não querem namorar? – Ele perguntou.

– Todos traumatizados.

De fato, tenho dois casos muito parecidos, são caras que decidiram nunca mais se apaixonar (e eu achava que a gente não tinha controle sobre essas coisas), pois tinham traumas com relações ruins do passado, até mesmo se espelhando no relacionamento fracassado dos próprios pais dentro de casa. Eu sempre acho que o cara vai mudar essa visão se acontecer uma mágica, mas essa mágica nunca acontece comigo. Acabo atraindo muito esse perfil de caras não disponíveis emocionalmente, porque, afinal, o universo só está me ouvindo gritar aos quatro ventos que não quero relacionamento, então só me manda caras que não estão disponíveis pra se relacionar.

Pois bem, no dia que eu chorei durante a minha terapia, trazendo pra fora a minha real vontade de querer viver um amor, a partir dali o universo entendeu e agora sim está trabalhando a meu favor.

Ele não disse nada após a minha conclusão acima e logo chegamos no meu prédio. Du a volta para estacionar com calma do outro lado da rua e então demos aquele beijo de despedida. Que beijo. Fiquei com MUITO tesão.

– Você não quer ir lá pra casa? – Ele tentou novamente.

– Mas eu tenho compromisso amanhã 11h. – Respondi pesarosa, pois eu queria mesmo poder fazer as duas coisas.

– Eu te trago bem cedo.

– Mas já é meia noite, vai ficar muito tarde, daqui dez minutos vou cair de sono. Quero te encontrar de novo, com mais tempo. Numa próxima podemos nos encontrar umas 18h, vamos pra sua casa, pedimos um Ifood e vemos Netflix. – Sugeri.

Ele adorou a ideia.

– Podemos amanhã a noite ou sexta a noite. – Tentei já deixar combinado.

Ele demonstrou muito entusiasmo com as duas opções, se mostrou bastante compreensivo com a minha decisão de não encerrar a noite na casa dele, desceu do carro para abrir e porta pra mim, e ali fez sua última tentativa, me beijando tão colado, que novamente senti o seu volume no meio das pernas.

– Você não quer dormir de conchinha comigo? – Ele apelou e fiquei com ainda mais tesão por dentro.

Me imaginei tendo que cancelar com o cliente no dia seguinte, mas era um cliente potencial que eu estava meio que fidelizando, não queria dar essa mancada, então, com muito autocontrole, decidi seguir a razão e não ir pra casa dele.

– Dá um beijo nos seus gatos por mim? – Ele disse, e senti que queria que eu o chamasse pra dentro da minha casa, já que eu não estava com disposição de ir até a dele. Uma tentativa que achei um tanto apelativa e falsa, visto que nunca falei dos meus gatos com ele.

*

– Em casa senhorita. Obrigado por hoje novamente. – Ele mandou mais tarde.

– Que bom que chegou em segurança. Obrigada também.

– E vc chegou bem?- Cheguei sim.

Na manhã seguinte, acordei morrendo de tesão, todo aquele tesão reprimido que não descarreguei durante a noite. Mandei mensagem pro cliente reconfirmando o encontro, e, para o meu desgosto, ele disse que tinha amanhecido resfriado (até gravei um vídeo contando essa história lá no meu Tiktok), fiquei muito puta naquele momento (literalmente), porque além de ter ficado sem sexo, também ficaria sem dinheiro. Eu quase tinha ido transar na noite passada com um boy que eu estava com muita vontade, não fui, pois, se eu fosse provavelmente cancelaria com o cliente e agora o infeliz que cancelava!! VTC.

Após a confirmação e a decepção de que eu não me encontraria com o cliente, tentei resgatar alguma coisa com o Thales:

– Dormiu bem?

– Bom dia senhorita. Como estamos? Dormi sim, acabei de acordar. E vc? Como foi sua manhã?

– Produtiva. – Frustradíssima.

– O que fez de bom?

– Tive reunião, te falei ontem. – Corta pro horário dessa mensagem: 11:11

– O que você acha de encontrarmos pra almoçar e esticar a tarde juntos? – Propus doida pra dar, com o tesão todo acumulado da noite passada.

– Eu vou almoçar no hospital com a minha avó hoje, então não consigo.

Na hora que essa mensagem bateu nos meus olhos, eu o não vi indo cuidar da avó e sim me rejeitando.

– Como ela está? Nenhuma melhora? – Ele disse, na noite anterior, que ela estava internada, com câncer. – Será que eu fui insensível? Afinal, não se melhora de um câncer da noite para o dia.

Vocês acreditam que ele nunca mais falou comigo depois disso?

A noite eu fiz uma nova tentativa de contato:

– Oie, tudo bem por aí? Aconteceu alguma coisa? Cê sumiu, fiquei preocupada.

Comecei a achar que a vó dele tinha morrido. Ele nunca demorava tanto pra me responder no whatsapp, aquele sumiço estava fora do normal. Fui investigar no Instagram, ele tinha postado dois stories depois da minha mensagem perguntando da vó dele mais cedo, o que demonstrava ele não ter me respondido de propósito e não porque estivesse longe do celular. Interagi nesses stories, mas o boy evaporou. Sequer visualizou as minhas interações.  

No dia seguinte, comecei a cair em mim que ele tinha me dado um ghosting e fui buscar respostas no tarot. Contatei uma taróloga maravilhosa que me responde 7 perguntas por R$ 42 com áudios riquíssimos de detalhes e interpretações completas.

A primeira pergunta que eu fiz era se a vó dele tinha morrido.

Não tinha.

– Aqui nas primeiras cartas não aparece óbito, não aparece energia de desencargo. Ela pode até estar doente, mas ainda não mostra aqui no baralho que ela tenha morrido. Até porque quando tem desencargo são cartas bem específicas que aparecem.

Na sequência perguntei se ele tinha sumido por conta da vó.

Não tinha.

– Não, não é por conta da vó dele, tá tendo alguma outra situação que tá pedindo pra ele maturidade, postura, tempo inteiro, que faz com que ele cuide demais disso e dê menos atenção a vocês. E não é necessariamente por conta da vó, pode ser que a história da vó esteja envolvida, mas não é só isso. Tem outras coisas. Talvez seja algo relacionado ao trabalho, pois está mostrando cartas aqui que ele tá precisando de mais maturidade, dedicação e empenho, fazendo com que ele coloque mais energia nisso. – Fala se ela não dá uma interpretação muito completa?

A terceira pergunta foi se ele tinha sumido por ter perdido o interesse em mim:

– Não é isso. Tem aqui uma conexão que ele ainda sente em relação a você, mas muito mais ele fazendo coisas da vida dele, coisas que pedem a atenção e energia, do que não estar mais interessado em você.

Gente mas que rebuliço é esse que aconteceu na vida dele, do dia para a noite, se a vó dele não morreu?!

Na quarta pergunta eu quis saber se ele era comprometido.

– A carta da árvore diz que sim. Ele tem algum tipo de compromisso com outra pessoa. Ou ele fica com outra pessoa, ou tem uma relação, mas consta sim um vínculo.

Na quinta pergunta eu quis desvendar algo que parecia meio óbvio, se ele queria só sexo.

Incrivelmente disse que não.

– Não, ele até tava se envolvendo, tava gostando do contato e da vivência que tava tendo contigo. Não era só sexo, claro que o sexo falava mais alto, mas tinha também um envolvimento a mais, talvez pelo seu jeito, pela sua energia.

Depois perguntei se ele ia me procurar e quanto tempo demoraria.

– A resposta é sim, só que isso pode demorar um pouco. Ele ainda não tem clareza desse tempo.

De acordo com essas respostas, quis investigar mais e paguei por mais perguntas avulsas:

– Ele mora com a pessoa que é comprometido?

– A resposta é sim. Ele tem algum tipo de convivência séria, mais intensa com essa pessoa. Talvez alguém que ele fique e dorme na casa, alguém que ele já tem uma certa intimidade.

– A vó dele está mesmo internada?

– Aqui mostra que essa pessoa tem sim algum tipo de problema de saúde, mas não confirma uma internação. Ou ela passou pela internação e agora tá em casa, mas ainda assim com algum problema de saúde. Aqui fala mais sobre o problema de saúde do que a internação em hospital. Ela deve fazer uso de medicamentos e ter um acompanhamento médico mais intenso.

– Se eu tivesse transado com ele, teria sumido do mesmo jeito?

– A resposta é sim, mas não é sobre você. O fato dele ter sumido não é porque não gostou de você, mas é que a vida dele tem outras responsabilidades, outras demandas, outra situação, que desconectou vocês nesse caminho. Mas você transar ou não com ele, não ia mudar em nada isso.

Pode até ser, mas se eu tivesse transado e gostado, com certeza teria me sentido pior com esse sumiço.

O tarot me ajudou a superar aquela história.

MAS ESTOU ACEITANDO TEORIAS DO OCORRIDO NOS COMENTÁRIOS!!

Depois deixei de seguir, removi e desfiz o match. Fiquei com um leve ranço, não por ele ter desistido, afinal, entendo perfeitamente que as pessoas têm livre arbítrio. Mas ele poderia ter sido mais honesto e transparente no que ele estava buscando e não vir com aquele papo fajuto de que não gostava de relações líquidas.

Toda essa situação reverberou uma energia tão estranha, que até o cliente que tinha cancelado em cima da hora comigo, me bloqueou, quando orientei que o correto seria me acertar o combinado do mesmo jeito. Uma pessoa que se mostrava exageradamente encantado por mim e que já tinha dado essa mancada de cancelar com pouca antecedência anteriormente.

Não entendi nada do que aconteceu com esse menino, muito menos com o cliente, mas como tenho aprendido na terapia, estou praticando o “deixar fuir” e apenas aceitar como as coisas vem, sem me estressar, nem reter qualquer energia. Não era pra ser, com nenhum dos dois.

Palpites?

P.S.: Quem se interessou pelos talentos da taróloga, o insta dela é @saritah.tarott

Essa música tocou no momento em que ele me buscou em casa. Achei muito gostosinha:

Desaventuras Amorosas Em Série – Pt 4

Querido diário, 

Sigo aqui na minha incessante busca por um contatinho de qualidade. Após fazer muita terapia, descobri numa das sessões, que ter que esconder o que eu faço das pessoas, me causa certos bloqueios, por eu não conseguir ser eu mesma. Dito isso, com minha última experiência do Bumble, decidi aderir uma estratégia diferente. ?

Dei match com um cara interessante e já comecei a puxar papo com algo escrito na sua bio, sobre ele correr de pessoas que usam a própria foto de fundo (que não é o meu caso, vale ressaltar). Daí a conversa foi desenrolando até chegar na parte em que dizemos o que cada um faz da vida. Decidi aplicar aqui o meu plano. Afinal, era um completo estranho, não tínhamos nenhum amigo em comum, não estava apaixonada por ele, logo, se desse tudo errado, eu não teria nada a perder. 

Decidi lhe trazer algo relacionado a minha vida secreta. Eu não disse na lata que era acompanhante, mas contei que escrevia para o blog de uma (o que de certa forma é verdade, indo pela lógica de que quem escreve para a Sara é a persona por de trás dela ?). A conversa foi mais ou menos assim:

– Eu escrevo sobre blá, blá, blá, erotismo, blá, blá. (Claro que a palavra “erotismo” saltou na frase.)

– Onde encontro seus textos?

– Eu escrevo para dois blogs. O meu, que, confesso, está um pouco abandonado e temas mais picantes para o blog de uma acompanhante.

… suspense… 

– O que é um blog de acompanhante?

Como assim, gente?

– Um site em que publico meus textos, como se fosse autoria dela, rs. Você não sabe o que é acompanhante?

– Acompanhante é tipo uma prostituta?

Vê-lo pronunciar “prostituta” me soou tão preconceituoso. Poderia ter dito “garota de programa” ou “profissional do sexo”, sei lá. 

– Isso, mas prostituta é uma palavra muito forte. Para quem é do meio há diferença na nomenclatura. 

– Ahh, não sabia. Qual a diferença? Posso ler o blog? Fiquei curioso. 

– Acompanhante é como se fosse uma modelo ficha rosa. O sexo não é o mais importante e sim a companhia. O sexo é consequência. Vou ver com ela se posso divulgar para alguém que não é o público dela. 

E o papo encerrou aí, por hora. 

Fui compartilhar com uma amiga (a Emma Loli, que vocês já conhecem), e ela recriminou totalmente a minha estratégia:

– Ai amiga, não sei… pra mim essa história não cola. Me pareceu muito aqueles papos de adolescente, tipo assim: “ei, a minha amiga quer ficar com você”, sendo que na verdade é a menina que quer. Sabe quando a gente fica colocando uma amiga no meio, pra falar o que a gente quer ou o que a gente é? Você ficou defendendo muito, tipo assim: “Nossa não, não é prostituta, essa palavra é muito forte…” já tá se doendo, muito informada do assunto. E esses assuntos é bom nem mencionar. Isso não valoriza a sua imagem para um namoro sério, ou casamento. Infelizmente tem coisa que a gente tem que deixar guardado. Tem coisa da nossa vida que não precisamos expor. A não ser que você queira ser acompanhante pra sempre na sua vida. É isso que você quer? Agora se for um plano para algo maior no futuro, deixa em off. As pessoas não precisam saber como que você conseguiu pagar todos esses cursos para se tornar uma atriz maravilhosa. Não precisam saber o seu caminho. Não vai interferir na relação, você não está fazendo mal a ele, não está fazendo mal a ninguém, então não precisa contar. Passa longe desse assunto. Aí você fala: “Ai vou ver com ela se posso passar para alguém que não é o público dela”, como você sabe que ele não é o público dela? Porque para uma acompanhante, quanto mais divulgar, melhor. Ele é homem, hétero, então é o público dela.

Eita que balde de água fria! Fui respondendo ponto a ponto:

– Mas amiga eu não mostrei nada pra ele, quem garante que existe realmente esse site? Quem garante que eu escrevo realmente? Entendeu, quem garante? Ninguém garante nada. E eu não estava “me doendo”, estava apenas explicando. Ele não é o público dela simplesmente pelo fato dele sequer saber da existência do blog dela. O cara que pergunta “o que é um blog de acompanhante?”, claramente não é o público. Não basta ser homem e hétero para ser considerado o público alvo. O público dela são homens que gastam dinheiro com esse serviço. E outra, quem disse que eu quero namorar ou casar com esse menino? Amiga, eu estou exercitando uma coisa minha de aceitação, de falar pras pessoas, de não ter vergonha do que eu sou, é um processo de aceitação, estou apenas me exercitando. O problema da sociedade é que as próprias acompanhantes tem preconceito com o que faz.

– Amiga, mas aceitar quem você é? Você é tantas coisas. Por que você tem que falar disso como principal? Então isso te define? É uma coisa que te define pro seu futuro, como carreira, sonhos e aspirações? Agora se for uma parte da sua vida, que você está fazendo e tem prazo de validade, algo que você faz agora para alcançar outra coisa maior no futuro, para quê vai se desgastar falando disso, que já é um assunto delicado pras pessoas, sendo que não é isso que você vai fazer pra sempre? 

– Muito psicóloga ela. – Encerrei o assunto. 

Outro dia ele me cobrou sobre o site, se ela tinha autorizado passar e, com as palavras da Emma reverberando na minha cabeça, respondi que não, que não poderia. 

– 🙁

Refleti ainda mais e depois mudei de ideia. Mandei o site para ele, precisava concluir o meu experimento.

Ele chegou aqui no blog e se deparou com o post anterior, “O Meu Melhor Contantinho” e já veio comentar: 

– Que delícia. Quero um contatinho desse. 

– Quer ser meu contatinho? – Já fui direto ao ponto. 

– Quero muito. Quero você. 

– Precisamos nos conhecer pessoalmente primeiro.

E já combinamos o primeiro encontro, noite de sábado, num barzinho de drinks, sugerido por ele, chamado Regô, na República. 

Assim que desci do Uber e o avistei na calçada, gostei do que vi. Alto, bastante cabelo na cabeça, bonito de rosto, como nas fotos, os únicos pontos de alerta foram, primeiro, para o seu físico, sabe aquele que tá começando a engordar, mas ainda não pode ser considerado um gordinho? Tipo isso. E segundo, sua vestimenta, a calça que ele usava era muito justa (ao ponto de ver como as pernas estavam engordando) e All Star nos pés (sou um pouco avessa a homens adultos que se vestem como adolescente). Usava uma camisa preta (ufa, sem estampas) e, de modo geral, senti uma energia muito boa. Ele também era de Áries, o que prometia um match incrível na cama. 

Gostei que ele se mostrou muito interessado em me ouvir, começou a puxar assunto sobre a minha vida no teatro – já que quase não fui encontrá-lo, mencionando o possível cansaço do ensaio que ocorreu naquele dia – e eu não estava nem um pouco tensa ou nervosa – como costumo ficar em primeiros encontros – por justamente ter dentro de mim de que se ele fosse minimamente esperto, já tinha sacado que “eu” era a “Sara” – afinal, mandei o blog, ele poderia ter fuçado as redes, visto as fotos e ter se dado conta de que éramos muito parecidas – e, se ainda assim quis me encontrar, então eu poderia ser eu mesma que estava tudo certo. Em pouco tempo, o beijo rolou. ? Achei delicioso. Fazia tempo que eu não beijava alguém desconhecido na minha vida pessoal e sentia aquele tesãozinho. 

Conversamos muuuuuito, uma conversa super fluída, animada, eu ria com ele, ele ria comigo, estava tudo maravilhoso, um date perfeito. Várias vezes voltávamos a nos beijar e a vontade de transar só crescia. Porém, nesse dia, eu tinha uma grande questão, eu não poderia transar, pois, faria um exame ginecológico de rotina no dia seguinte e tinha que estar em abstinência. Não valeria a pena quebrar o resguarde, pelo tempo que eu já estava nessa. Eu, inclusive, quase cancelei o encontro com ele por conta disso, pois, me conhecendo, sabia que passaria vontade se gostasse dele. Mas, ao mesmo tempo, não queria perder o timing do date e também pensei: “não sou obrigada a transar no primeiro encontro”, então, não seria esquisito se não rolasse. 

Em determinada altura, ele começou a soltar umas putarias no meu ouvido. Dizendo que queria me chupar, por exemplo. Como eu já estava muito excitada com os nossos beijos, super aprovei esse jeitinho mais safado, mas, não pude corresponder do jeito que ele merecia, pois, se eu não ia poder transar naquela noite, por que iria atiçar ainda mais o menino? Então eu só olhava pra ele e dizia: “Hummmmm”  ele deve ter pensado: “Cadê aquela escritora de contos eróticos? Só sabe dizer hummmmm??” ???

Conforme o date foi se encaminhando para um ponto de “vai ou racha”, eu apenas falei: “Hoje eu vim só para te conhecer”, tive que jogar aquele balde de água fria, pois chegou um momento em que o comportamento de um destoava muito do outro.

Daí o encontro foi minguando, já tava chato ficar só beijando sabendo que não ia dar em nada. Ele anunciou que estava ficando com sono e foi a deixa para irmos embora. Pagou a comanda sozinho (cavalheiro, gostei), e, na calçada, enquanto aguardávamos nosso uber (que convenientemente chegaram ao mesmo tempo), ele tentou a sua última cartada, me encoxando fortemente, para que eu sentisse o tamanho do seu volume. 

– Gostou? – Ele perguntou. 

– Gostei. – Mas nada fiz. 

Cheguei em casa, lhe avisei que tinha chegado (conforme me pediu) e daí ele quis continuar o papo de putaria. Eu mordia e assoprava. Falei que estava com a calcinha molhada. 

– Deixa eu ver? – Ele pediu.

– O que eu ganho em troca?

– Te mostro como estou por aqui. – E já mandou um vídeo curto, filmando apenas a parte da cueca, preta, em que ele passava a mão no volume, que, naquele ângulo, não parecia tão volumoso assim. 

Enviei a foto da calcinha e aí ele disse que queria ver meus seios. Daí nessa hora fiquei na dúvida se ele realmente sabia que eu era a tal acompanhante, pois já teria visto meus seios nas redes sociais. 

– Isso é tudo que você terá hoje. – Cortei.

Ele ficou se lamentando.

– Sua imaginação cuidará do resto. – Fui mais enfática no corte e parei de responder. Não me agradava ficar trocando putaria com alguém que eu ainda não tinha transado. E se a transa fosse ruim? De que valeria toda aquela falação?

No dia seguinte, para que a última mensagem não ficasse sendo a dele deixado no vácuo, puxei assunto:

– Boa tarde taradinho.

– Boa tarde taradinha do screenshot.

– Como assim?

– Eu percebi que você tirou print do meu vídeo ontem.

Eu tinha mesmo. Não printei, mas gravei da tela. Como ele tinha mandado visualização única, quis gravar para o caso de ser algo muito bom que eu quisesse ver de novo depois. Muito X9 esse Instagram. Aff.

– E você guardou essa informação para um momento preciso. 

– Ontem estava muito entretido pra dizer qualquer coisa. 

– Estava mesmo, muito empolgado.

– Pois é hahaha. 

E o assunto morreu aí. 

Durante a semana, tomei a iniciativa de convidá-lo para assistir uma peça de teatro no sábado seguinte. Uns amigos meus estavam se formando e era um espetáculo de conclusão de curso, completamente gratuito. Fui assistir 5x e toda vez que eu ia levava mais pessoas, pra vocês verem o tanto que eu gostei do espetáculo, realmente incrível! Achei que seria um rolê divertido pra gente, não queria ir direto transar, sem fazer algo antes.

A partir daqui as coisas começaram a ficar estranhas. 

Nossa comunicação era toda pelo Instagram. Sequer trocamos número de telefone no encontro. Eu fiz o convite umas 10h da manhã e ele foi me responder às cinco da tarde, estando online VÁRIAS VEZES. Não que eu estivesse controlando, mas, por acaso, quase sempre o via online, quando eu entrava também. 

Você deve estar pensando o que qualquer pessoa normal pensaria: “Ahh ele devia estar ocupado, trabalhando, o Instagram estava aberto no computador”, mas se fosse o caso, ele permaneceria sempre online e não entrando e saindo. Enfim, comecei a reparar nesses detalhes e senti um certo descaso. Ele sequer tinha visualizado, totalmente desinteressado. Lá pelas cinco da tarde, sua resposta veio e foi super negativa:

– Olar. Tudo bem e com você? – Quem usa “olar” com uma possível crush? Pra mim isso é muito dialeto de friendzone. – Sábado já marquei compromisso. – Seco assim. Sequer sugeriu outra data. 

Preciso acrescentar um rápido adendo: No barzinho, após eu dizer que naquela noite não rolaria, eu mesma já tentei combinar um próximo date. O diálogo foi:

– Quando vamos nos ver de novo? – Já intimei. 

– Durante a semana eu tô morto. 

– Então próximo sábado?

E ele concordou! Daí agora, o bonitão vem dizer que já tinha marcado outro compromisso. 

Fiquei muito com a sensação de que como não embarquei no seu papo de putaria, eu não tinha mais serventia pra ele. Ao mesmo tempo, fiquei com várias indagações: 

  • Não dizem que o homem se atrai pelo difícil?
  • Se já estava me tratando com esse descaso sem ter me comido (quando em tese deveria estar mais interessado), imagine depois que me comesse?
  • Será que ele achou que eu seria difícil demais e simplesmente não quis ter trabalho?
  • Ou descobriu que eu era acompanhante e achou ridículo o meu “joguinho”? (Que na verdade nem era um.)
  • Ou descobriu que eu era acompanhante e ficou com preconceito.

Conversei com um amigo, para ter uma visão masculina das coisas:

– Amiga, já chama ele pra transar. Diz que está com tesão e quer experimentar ele. Homem gosta de ser usado. Seja dominadora. 

– Pra que vou dar esse gostinho dele me comer, me tratando desse jeito? O cara sequer tá se esforçando pra isso.

– Ele está te ignorando e vc está caindo no jogo dele. Reverte isso. Não é sobre dar o gostinho é sobre ganhar o jogo kkkkk.

– Reverter dando o que ele quer?

– Ou é o que vc quer? ?

Realmente eu queria. Tá. Mandei a mensagem.

– Mas a gente não ia transar no sábado? Já tínhamos combinado na noite do barzinho. – Trouxe logo o assunto para a putaria, já que, pelo visto, era isso que o atraía. 

Daí, minha gente, isso era 20h e ele online. No dia seguinte, 8h, novamente ele online e eu continuava ignorada. Isso me indignou muito. 12h no vácuo. Agi impulsivamente e lhe enviei um áudio bem malcriada. Antes que desse tempo de eu apagar, agora sim ele foi rápido e abriu a conversa. O que ele fez após ouvir o áudio? Exatamente o que eu pedi, deixou de me seguir, nem tentou reverter a situação. 

Ai que merda, rs. 

Pior que eu estava super curiosa pra transar com ele, fiquei muito atiçada na noite do barzinho e só não fui para os finalmentes por motivo de força maior. Não estava aceitando a derrota e fui lá mexer na merda mais um pouco. Pedi que ele me esclarecesse o que tinha acontecido. 

– Não tem nada a ver com não embarcar com a conversa sexual eu não sair no sábado com você. Mas se você reage assim a eu não te responder na mesma hora é melhor a gente não continuar o papo mesmo.

Entendo completamente que ninguém tem obrigação de ser rápido nas mensagens, mas a falta de prontidão me pareceu muito proposital, visto que houve uma mudança significativa de comportamento, pois, quando estávamos na fase de combinar o date, ele respondia rápido e agora demorava até mesmo para visualizar o que eu mandava, mesmo ele estando quase sempre online.

Levei toda essa análise para ele, que, com certeza, me achou controladora e possessiva. Eu só piorava as coisas. ??‍♀️

– Okay, eu não vou fazer nada pra reverter a situação. E desculpas por ter cancelado algo que eu tinha combinado antes. Aconteceu que eu marquei outro compromisso. Foi isso. Eu esqueci. 

Fiquei me sentindo a louca da história. 

Eu ainda estava querendo transar com ele, então, mais tarde, no mesmo dia, fiz uma última tentativa de reverter a situação:

– Posso te chamar pra ir lá em casa hoje a noite então? Já que pelo visto eu tive uma interpretação errada das coisas… Não quero que fique com a imagem de que eu sou uma surtada rs, além de eu realmente ter curtido você.

Quem adivinhar a resposta dele, sem ler a continuação, vai ganhar um encontro de 1h comigo! ?

Ele disse:

– Oi *****. Não quero, mas obrigado pelo convite.

E encerrou assim. Fim. ?

Aceito análises e teorias nos comentários. ?