De repente surge uma mão dentro daquela cabine com porta de vidro, rodando o registro daquele objeto cheio de buraquinhos minúsculos no topo, fazendo cair aquela água fria diretamente no chão, uma vez que o corpo nu só se deixará molhar quando enfim tiver aquecida.
Nesse meio tempo, uma música em volume consideravelmente alto preenche o ambiente, pois ela gosta de se arrumar com trilha sonora de fundo. A água cai, a primeira música, que dará sequência as demais, é escolhida, e então, completamente despida, adentra na cabine e se deixa entregar àquele momento de renovação. Ahhh que delícia… Até fecha seus olhos enquanto aquela água deliciosamente quente recaí sobre seus cabelos. Pode-se dizer que é um dos melhores momentos do dia.
Primeiramente lava suas mãos, depois os cabelos e antes de passar o condicionador, lava também o seu rosto, com um sabonete líquido específico para isso. Depois, enquanto deixa o condicionador agindo, direciona sua atenção para seu corpo, ensaboando cada pedacinho com o maior esmero, deixando-o ainda mais interessante para si mesma e para o próximo que terá contato com ele. Renova a depilação das axilas e pernas, até que chega o momento de enxaguar os cabelos. Sua menina e rosinha são deixados por último, sendo o gran finale daquele banho maravilhoso.
Após abandonar a toalha, é o momento em que começa a cantar, dependendo da música que estiver tocando. Fica indecisa entre óleo corporal ou creme, na maioria das vezes optando pelo óleo, por esse ter o aroma mais marcante, além de deixar a sua pele ainda mais sedosa e macia.
Chega então o momento de decidir o que irá vestir. ? Na verdade, este pensamento já lhe ocorre desde durante o banho, sendo agora o último instante para indecisões. Se a temperatura não estiver óbvia ou incerta, recorre aos universitários, sendo o aplicativo “Tempo” do celular ou a sacada do apartamento, pois, saber dessa informação te ajudará a decidir melhor essa parada. Se estiver frio: meia e bota, se estiver calor: sandália. Vestido? Calça? Short? Saia? Como é difícil ser mulher… tantas opções que as vezes até atrapalha.
É necessário decidir primeiro o que vestir por fora para então definir o que será por dentro. Não é curioso que o que será vestido por último tenha que ser definido primeiro? E quando as vontades não batem? Ela quer usar determinada roupa que requer determinada lingerie que naquele momento não é a que gostaria de usar. A combinação entre lingerie e roupa muitas vezes se faz necessária. É… ser mulher não é mesmo fácil não…
Decidido isso, até o processo do desodorante tem um protocolo para ser executado. Sempre depois do sutiã, antes da roupa se tiver manga fechada, após a roupa se as axilas continuarem livres. Enfim finalizada a vestimenta, vamos para a frente do espelho. Este é o momento que ela mais gosta. Produção da make e cabelo. Começando pelas madeixas. Não perde nem cinco minutos na verdade. Um pouco de creme nas mãos para ser espalhado nos fios, o pente é usado logo em seguida e pronto. Processo finalizado. Deixa secar ao natural, por vezes chegando ao encontro ainda úmidos.
Depois de passar creme facial, se pergunta qual será a maquiagem do dia. ? Muito fácil de responder, já que só alterna na sombra, raramente no batom. Gosta do nude levemente rosado, deixando toda aquela produção o mais natural possível, além de favorecer na hora do beijo. Por último, mas não menos importante, escolhe o perfume que irá compor a sua essência hoje. Seguindo com o processo, creme nos pés, chegou o momento de colocar a última peça: seu calçado. Dando um toque final àquela composição especial.
Sua bolsa. Companheira fiel de trabalho. Escolhe aquela que mais combina com o seu look e a abastece com os apetrechos que serão utilizados naquele encontro. E se for a primeira vez com aquele cliente, lhe envia uma mensagem perguntando se pode levar de presente o seu livro para dar-lhe. Algo que poderia ser considerado como um brinde, mas que prefere chamar de souvenir.
Celulares em mãos, de um chama o carro e no outro conecta o fone para uma continuidade sonora que agora só será ouvida única e exclusivamente dentro do seu ouvido. Chama pelo elevador que estiver mais próximo, enquanto o motorista, que estava há 5 minutos, também se aproxima. Às vezes ele para do lado certo, às vezes não, fazendo com que ela desfile enquanto atravessa a rua.
Adentra naquele carro que raramente está do jeito que ela gosta. Se o ar condicionado não estiver extremamente gelado, então será o vidro do banco do passageiro, completamente aberto, que a incomodará, ao permitir que o vento furioso entre, bagunçando os seus cabelos, deixando-a descabelada após tanto capricho na produção. Ao final da corrida, ainda receberá uma avaliação baixa do motorista, por sempre chamar para motéis. Enquanto ela avalia que precisa ter o seu próprio carro logo.
Enfim desce do veículo rumo ao desconhecido… ou repetido. O que será que a espera por detrás daquela porta? Alguém agradável? Alguém interessante? Instigante? Excitante? Estimulante? Bom… só entrando para descobrir… E lá está ele… recebendo-a com um sorriso no rosto que se já não estava ali, surge de repente quando seus olhares se cruzam.
Ahhh… como ela gosta desta profissão… ?